Das cartas à revolução

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É inevitável mencionar videogames sem naturalmente evocar o nome Nintendo. A empresa é uma das maiores expoentes do ramo, gerando uma imensa fortuna e jogos que se tornaram símbolos para adolescentes, crianças, adultos e até idosos de todo o mundo. Mario, Link (Zelda), os Pokémons, Donkey Kong e muitos outros são apenas alguns dos exemplos do arsenal de criação da Big N, como é usualmente conhecida.

O sucesso é tanto que, na década de 1980, muitos se referiam aos consoles em geral como Nintendo. Mas, antes do estouro do Wii, Nintendo 64, Game Boy, Super Nintendo e Nintendo 8-bits (Nintendinho), a empresa passou por vários problemas até atingir o patamar atual. E é por isso que o TecMundo Games resolveu deixar os usuários por dentro do que aconteceu na gloriosa vida desta empresa que diretamente de Kyoto, Japão, vem conquistando cada vez mais o público de todo o mundo.

Neste especial dedicado à Nintendo, contaremos um pouco da longa história da empresa estabelecida em 1889. Muitos outros ramos, alguns relativamente surpreendentes, foram abrangidos pela empresa até o domínio dos videogames. A inovação é onipresente em praticamente todos os consoles da empresa, e seus 100 anos a tornaram um dos maiores sinônimos de entretenimento.
A gigante dos videogames tem sua história revelada pelo TecMundo Games.A cartada inicial

Ao contrário do que muitos imaginam a Nintendo não iniciou seus negócios já nos videogames, e sim muito antes destes sequer existirem. Em 1889, Fusajiro Yamauchi fundava a pequena Nintendo Koppai em Kyoto, Japão, o negócio de entretenimento que seria o suspiro inicial da Nintendo que conhecemos nos dias atuais. Nesta época, um jogo de cartas conhecido como Hanafuda era extremamente popular no país, e era com elas que a empresa iniciava seu legado.

A astúcia de Yamauchi fez com que a N. Koppai se tornasse uma das grandes companhias do ramo, o que obrigou o empresário a contratar assistentes para auxiliá-lo na produção das cartas, as quais eram pintadas à mão. Mas, infelizmente, Yamauchi não contava com nenhum filho para herdar o negócio da família. Sendo assim, seguindo as tradições japonesas, o empresário decide adotar seu genro, Sekiryo Kaneda, que logo após o casamento assumiria o sobrenome Yamauchi e entraria para a companhia.
As famosas cartas Hanafudas da Nintendo.O nome Nintendo, que significa “deixe a sorte para o paraíso”, certamente foi honrado por Sekiryo Yamauchi quando, em 1929, o líder Fusajiro resolveu se aposentar. Mais tarde, em plena Segunda Guerra Mundial, Fusajiro seria morto durante o terrível conflito, deixando a empresa sob responsabilidade total de Sekiyiro.

O mais novo dono da Big N manteve o negócio com eficiência, adquirindo parcerias e criando novas cartas para satisfazer o público. Contudo, o integrante da família Yamauchi se viu nas mesmas condições de seu sogro: sem filhos para deixar seu legado. Seguindo os passos de Fusajiro, o líder então adota Shikanojo como o mais novo membro da Yamauchi e, conseqüentemente, da Nintendo.
Após uma série de transtornos, Shikanojo deixaria a família. Mas isso não representava o fim da empresa, mas sim seu verdadeiro início com a entrada de Hiroshi, neto de Sekiryio Yamauchi.

O lendário Hiroshi Yamauchi

O saudoso Hirochi Yamauchi.Hiroshi conta com um dos papéis mais importantes para a história da Nintendo. O jovem rapaz assumiu a presidência da empresa em 1949, quando seu avô faleceu subitamente, e só abandonou a empresa em 2002, após consolidá-la como uma das maiores companhias de videogames. Mas antes disso, voltando a 1949, Hiroshi adquiriu uma série de investimentos e parcerias, fazendo com que a companhia se tornasse a primeira a produzir cartas de plástico. Isso, sem dúvidas, foi um grande passo para a Nintendo e resultou no domínio do mercado de cartas do Japão.

Já em 1956, Hiroshi decide tentar migrar seus negócios para o ocidente, e realiza uma viagem para os Estados Unidos. Lá, o empresário entra em acordo com a Disney, adquirindo permissão para usar diversos personagens da turma de Mickey em suas cartas. Com isso, a Nintendo conseguiu livrar a péssima imagem dos jogos de cartas nos EUA, apresentando personagens simpáticos e introduzindo novas maneiras de se jogar.

Motéis, táxis e arroz instantâneo

Com o imenso sucesso da companhia, a Nintendo Playing Card Company Limited passa a se chamar Nintendo Company Limited, e é aí que surgem os negócios mais curiosos da empresa. Além das cartas, a empresa começou a experimentar outras áreas, graças à grande quantia de capital que havia sido injetada recentemente. Durante o período de 1963 a 1968, a Nintendo iniciou uma companhia de táxis, uma cadeia de “hotéis de amor” (isso mesmo, motéis), uma companhia de comida — que tinha como objetivo principal vender arroz instantâneo, similar ao macarrão que conhecemos —, e muitos outros produtos (como uma espécie de aspirador de pó, chamado de Chiritory, que fez uma aparição especial em WarioWare, Inc.: Mega Microgame$).
Um aspirador de pó da Nintendo. Quem imaginaria?
Praticamente todas estas tentativas falharam, com exceção da criação de brinquedos, área na qual a empresa já havia contraído certa experiência ao vender cartas de jogo. Mas, infelizmente, os jogos de cartas alcançaram seu ponto de saturação no Japão. As vendas caíram drasticamente, e a Nintendo se viu pela primeira vez à beira da falência. A salvação veio com a contratação de Gunpei Yokoi como engenheiro de manutenção das linhas de montagem.

Da manutenção para o sucesso

Yokoi é, sem dúvidas, um dos nomes mais importantes para a empresa. Com a companhia afundada em dívidas e lutando para sobreviver ao lado das gigantes da época — Bandai e Tomy —, a Nintendo se viu obrigada a lançar algo inovador para reconquistar seu status. Iniciava-se então o começo de uma nova era para a Big N.

O Nintendo Beam Gun Game.Em 1970, Hiroshi Yamauchi decide passar pela fábrica para observar o trabalho de seus empregados. Yamauchi nota que um dos engenheiros está brincando com uma espécie de braço expansível. O curioso periférico inventando por Gunpei Yokoi fez com que o líder da Nintendo ordenasse uma produção em massa de um novo brinquedo, que seria lançado como Ultra Hand. Sem dúvidas, esse foi o primeiro megasucesso da Nintendo, vendendo mais de um milhão de unidades. Após isso, o talentoso Yokoi passou da manutenção para a criação de produtos.

A facilidade que Yokoi tinha para desenvolver brinquedos eletrônicos em geral fez com que a Nintendo migrasse do tradicional para o moderno, algo que chamou muita atenção do público e ainda permitiu um lucro maior. Yokoi acabou criando muitos outros brinquedos, como o quebra-cabeça modificado Ten Billion Barrell, um lançador de bolas de baseball chamado Ultra Machine, e, talvez um dos mais curiosos, o Love Tester — um medidor que apontou o nível de paixão de muitos casais. Outra invenção que obteve grande destaque foi a Nintendo Beam Gun Game, precursor da NES Zapper.

A era dos videogames

No ano de 1977 a Nintendo contratou um homem que, ao lado de Yokoi, seria considerado com uma das pessoas mais importantes da companhia e garantiria sua longevidade. Shigeru Miyamoto contava com uma visão criativa que determinou o futuro da empresa e também dos videogames em geral. Yokoi iniciou como o mentor de Miyamoto durante este período de tempo na seção de pesquisa e desenvolvimento.

Com o início da era dos videogames, a Nintendo resolveu investir com cautela em vários consoles da época. Um deles foi o Magnavox Odissey, que foi distribuído pela empresa no Japão. Mesmo assim, os consoles eram escassos, mas o sucesso obtido com o Magnavox foi o suficiente para que a empresa iniciasse a desenvolver seus próprios videogames.
Um dos primeiro videogames da Nintendo.
Em 1970 surgia o Color TV Game Machine, o que seria o primeiro videogame produzido pela Big N. Mas somente em 1977 a empresa lançaria seu próximo produto relacionado aos jogos eletrônicos, o Color TV Game 6 e o Color TV Game 15 — os números indicam a quantidade de jogos.

O gorila chega aos gamesDonkey Kong elevou a Nintendo.

Devido às conseqüências, a empresa fundou uma divisão especializada em videogames, liderada por Yokoi, e começou a produzir diversos jogos para fliperamas, como Computer Othello e Radar Scope, que mais tarde seria transformado em um megasucesso. Em 1980, a indústria de games sofria ardorosamente, pois muitos viam os jogos como algo viciante e poderoso o suficiente para desviar a atenção das crianças. Mas, em 1981, Shigeru Miyamoto criava um dos jogos que iria ajudar a reerguer toda a indústria: Donkey Kong.

O sucesso foi incrível, e Donkey Kong acabou sendo portado também para o Atari 2600, o Intellivision e o Coleco Vision, todos consoles populares da geração. A Big N decidiu então testar os consumidores com o portátil Game & Watch. Contudo, o primeiro console adepto aos populares cartuchos só foi lançado em 1983. Famicom (ou Family Computer), recebeu total atenção com o lançamento de Super Mario Bros., vendendo cerca de 500 mil unidades em dois meses.

À beira da revoluçãoUm acessório que quase gerou as jogatinas online.

Um dos pontos mais interessantes de Yamauchi na época era o lançamento de um sistema de rede similar à atual internet. Denominado Family Computer Network Communications System, o recurso seria aderido ao console através de um equipamento que custaria 100 dólares, o modem Communications Adapter. Um cartucho especial seria responsável por transformar o Famicom num terminal capaz de se comunicar com outros consoles e computadores centrais.

Os jogadores poderiam então jogar videogames com colegas de todo o Japão sem sair de casa. Além disso, o sistema também possibilitava outros usos incríveis, algo além de seu tempo e baseado na tecnologia da Nintendo. Basicamente, por pouco a Big N não foi responsável por ajudar de maneira significativa num dos elementos essenciais da atualidade, a internet.

Nintendo e Atari, quase parceiras

Após uma série de mudanças, a empresa finalmente decide lançar o Famicom nos Estados Unidos. Nesta mesma época um fato interessantíssimo poderia ter mudado completamente a história da Nintendo. Em 1985, a companhia, que contava com pouca experiência no mercado estadunidense, resolveu consultar os executivos da Atari para um acordo no qual o Famicom seria lançado pela empresa.

Contudo, um fiasco envolvendo a Coleco e Donkey Kong fez com que a relação entre as duas empresas se deteriorasse, e a Atari acabou recusando a distribuição do Famicom. Provavelmente, se isto não tivesse ocorrido, estaríamos jogando Mario, Zelda e muitos outros jogos e relacionando-os a Atari. Após diversos problemas, executivos da Big N fundariam a Nintendo of America, divisão estadunidense da empresa.

O rei dos consoles

Finalmente, chegava às lojas o Nintendo Entertainment System (NES), com um design diferente da versão japonesa e pronto para conquistar o público dos Estados Unidos. Com uma incrível tática para reforçar o lançamento do console nos EUA, que envolvia o robô R.O.B., a Nintendo também garantiu que todos os jogos do NES seriam de alta qualidade, limitando para cinco o número de games que empresas terceirizadas poderiam lançar no período de um ano.
O famoso Nintendinho.
É nesta época que o estouro de Super Mario Bros. atingia o mundo, junto com Metroid e muitos outros jogos. A Nintendo of America revelava em 1988 a Nintendo Power, uma revista mensal repleta de novidades, anúncios de novos jogos e estratégias essenciais para se dar bem no console da Nintendo.

O domínio global e suas conseqüências

Gunpei Yokoi, que havia criado o Game & Watch, introduzia um novo console sob o nome da Nintendo. A empresa anunciava então o Game Boy, um poderoso portátil acompanhado pelo jogo Tetris. Com o lançamento de Super Mario Land, o videogame se tornou o sistema de jogos portátil mais vendido de todos os tempos, atingindo números absurdos. Como se não bastasse, uma nova bomba detonava no mundo com o anúncio do Super Famicom, em 1989.

Um líder que provavelmente já esteve em sua casa.No final da década de 80, a Sega processava a Nintendo por abusar da relação com as empresas terceirizadas — a empresa fez um monopólio na indústria dos jogos e, praticamente, não permitia  que desenvolvedores criassem novos produtos para as demais plataformas. A corte declarou a Nintendo culpada por atividades Antitruste. Na era Super NES, a Sega entrava com o Mega Drive e ocorria então a primeira guerra de consoles.

O Super Nintendo Entretainment System (SNES), ou Super Famicom como era conhecido no Japão, seguia os passos de seu antecessor, que contava com um preço baixo e muitas vantagens técnicas para a época. Com um controle aprimorado e uma série de jogos cativantes, o console tomou conta do mercado dos videogames graças a títulos como Super Mario World, The Legend of Zelda: A Link to the Past, Street Fighter II, e a série Final Fantasy.

Três dimensões

A ambição da Nintendo resultou no anúncio de planos para desenvolver um console de 64-bits capaz de produzir ambientes e personagens totalmente tridimensionais. O projeto recebeu três nomes diferentes. O primeiro foi Project Reality, seguido de Ultra 64 até finalmente receber seu nome oficial, Nintendo 64. As prévias de jogos como Super Mario 64 simplesmente deixaram abismados os jogadores do mundo todo, que aguardavam ansiosamente pelo lançamento desta máquina.

A Sega reagiu com o lançamento do Sega CD, um adicional para o Mega Drive. Curiosamente, a Nintendo optou por contatar a Sony com o objetivo de criar um dispositivo similar ao da Sega, mas o fiasco do Sega CD e as vantagens extremas da Sony sob o periférico, financeiramente, fizeram com que a Big N desistisse de lançar o dispositivo.

Mesmo sem obter uma confirmação sobre o drive de CD, a Sony continuou a trabalhar neste projeto, que acabou se tornando um novo produto conhecido por todos os jogadores, o PlayStation. Pois é, o mundo dá voltas.

Com o lançamento do Saturno, da Sega, e o PlayStation, ambos lançados em 1995, o mercado recebeu novamente uma guerra no universo dos jogos eletrônicos. No ano seguinte chegava o Nintendo 64, que obteve um grande sucesso no início, introduzindo o direcional analógico aos joysticks, mas acabou decaindo no decorrer de sua vida. Para tentar combater seus rivais, a Nintendo lançou no Japão o Nintendo 64DD, um dispositivo capaz de reproduzir jogos em CD. Mas o periférico não saiu do território nipônico e fracassou.

A era dos “G”s

Mesmo com uma breve decadência, a Nintendo se tornou novamente o poder supremo na indústria dos jogos com o lançamento de um curioso jogo para Game Boy. Pequenos monstros invadiam os portáteis de todo o mundo, tornando Pokémon um dos maiores sucessos de todos os tempos. Em 1997 a Nintendo perdia um de seus homens mais importantes em um acidente de carro, Gunpei Yokoi, que falecia aos 57 anos de idade.

Pokémons que conquistaram o mundo todo.No final de 1998, a criação de Yokoi recebia um novo e reformulado console, o Game Boy Color. Os portáteis se tornariam ainda mais poderosos nos anos 2000, quando o Game Boy Advance chegava ao mercado.

Em 2001, o mundo também recebia o pequeno GameCube para competir com o PlayStation 2 e o Xbox, o primeiro console da Microsoft. Um ano após o lançamento do pequeno cubo, Hiroshi Yamauchi deixava o cargo de presidente para Satoru Iwata, e a indústria dos games se despedia de um de seus homens mais importantes.

O segredo do sucesso

Com Iwata como presidente, a empresa lançou o Nintendo DS, um portátil não relacionado à marca Game Boy que contava com duas telas sendo uma delas sensível ao toque. Lançado em 2004, o console ainda apresentava gráficos similares ao Nintendo 64, e conquistou jogadores do mundo todo. Mais tarde, o portátil DS receberia uma versão mais leve, DS Lite, e também diversos aprimoramentos com o DSi.

Fora o portátil de duas telas, a empresa também preparava um projeto revolucionário, que definiria um novo patamar de diversão no mundo dos games. Em 2006 o Nintendo Wii deixava os jogadores boquiabertos com seu lançamento, devido a seus controles intuitivos e por contar com foco quase que somente na diversão. Os videogames nunca mais seriam os mesmos.

O futuro nos aguarda

Vários jogos garantiram o sucesso do console da Nintendo. Mesmo com competidores de peso, como o Xbox 360 e o PlayStation 3, o Wii obteve um número de vendas incrível, superando por uma extensa margem seus rivais. O lançamento de fabuloso Wii Fit e de Super Mario Galaxy são exemplos que permitem afirmar que a Nintendo ainda tem muito caminho pela frente.

Atualmente, existem várias subsidiárias da empresa espalhadas pelo mundo todo, inclusive no Brasil, afirmando a superioridade da empresa. Além disso, a Nintendo mantém-se firme na liderança do mercado dos jogos, graças ao sucesso do Wii e do DS. Mas o que se pode esperar de uma empresa com cerca de 100 anos? O futuro é uma incógnita, mas com a Nintendo, ele será no mínimo muito divertido.
Mario ainda deve conquistar muitos jogadores.
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