Quando um jogo deixa de ser apenas “apimentado” para se tornar imoral e apelativo?

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Alguém realmente comprou DoA Xtreme 2 pelo voleibol ou pelo jet ski? Calma, o TecMundo Games não pretende começar com nenhum papo sobre crianças em repolhos. Nem tampouco você vai encontrar aqui algum tipo de dissertação científica. E, por fim, também não se trata de uma matéria sobre orgias organizadas por grupos particularmente pervertidos de pixels.

A pergunta vigente é: qual é exatamente o papel do sexo na moderna indústria de videogames? Quer dizer, mesmo quem não nutre muita simpatia por coisas como o controverso modo “hot coffee”, de GTA San Andreas, não pode negar que tanto as cenas de sexo quanto as insinuações tendenciosas contidas nos jogos de hoje em dia são, bem ou mal, um atrativo considerável para boa parte dos jogadores.

Tudo bem, você pode não ter jogado toda a série Tomb Raider unicamente para apreciar as belas curvas da musa Lara Croft — um tanto quadriculadas a princípio, é verdade. Entretanto, é inegável que muitas franquias hoje são largamente respaldadas por conteúdo sexual mais ou menos explícito. Isso vai desde coisas mais inocentes como o título para DS The Rub Rabbits! — acariciar a sua namorada no escuro utilizando a Stylus? Honestamente... Até o conteúdo bem mais sério encontrado em jogos como God of War.

Mas, qual deveria ser o limite do bom senso? E do bom gosto? Quando um conteúdo deixa de ser um tempero apimentado para se tornar explícito e vergonhosamente apelativo? É claro que entre a grande quantidade de títulos lançados atualmente com alguma menção ao sexo, não são muitos os que cruzam a barreira do eticamente correto ou mesmo do virtualmente interessante.

Porém, esses deslizes de mau gosto (embora às vezes sejam meio engraçados) sempre acabam acontecendo. Aliás, já acontecem há muito mais tempo do que a maioria imagina...

O general Custer finalmente teve a sua vingança

O velho Custer teve uma vingança de muito mal gosto no Atari \r\n2600.Para quem não conhece a história, o general George Armstrong Custer foi um personagem importante durante a famosa Guerra da Secessão, que ocorreu nos Estados Unidos entre 1861 e 1865. Algum tempo depois, o general, que era bastante conhecido pela sua dureza ao conduzir as batalhas, comandaria posteriormente um regimento de 266 homens a fim de expulsar tribos indígenas de Dakota do Sul.

Bem, algo não deu muito certo, e os índios acabaram exterminando Custer e todo o seu regimento. Custer acabou, é claro, não tendo a oportunidade de se vingar... Pelo menos não até o aparecimento do famigerado e controverso jogo “Custer’s Revenge”, lançado para o saudoso Atari 2600 em 1982. O jogo traz o personagem do general da forma como veio ao mundo tendo que desviar de várias flechas a fim de alcançar uma índia igualmente nua que se encontra amarrada. Bem, o resto você já imagina: pura cópula “pixealizada”.

O jogo foi duramente criticado na época por apresentar uma pequena lista de elementos reprováveis: sexo explícito, genocídio, racismo e estupro. Por fim, um belo exemplo de um jogo que passou muito dos limites do bom senso.

“No Money, no funny, buddy honey”

Não, o TecMundo Games não pretende entrar na já imensa fila que considera a série GTA moralmente questionável. GTA evoluiu grandemente ao longo dos anos, incluindo novas características e, de forma geral, melhorando grandemente a ponto de poder ser considerado hoje um jogo bastante completo.

Mas, existem marcas inapagáveis por todo o jogo evocando coisas como violência gratuita e sexo descompromissado. Entretanto, a coisa ficou realmente evidente quando a série assumiu um ambiente em 3D. Quem não se lembra da primeira vez em que viu um carro fazendo o clássico “nhec-nhec” momentos depois de ter dado uma certa carona. Tudo bem, aludia, mas ainda tinha o bom senso de não retratar de forma tão, digamos, realista.


Todavia, a coisa ficou bem mais explícita e, naturalmente, mais controversa quando entrou em cena o famoso patch “Hot Coffee”. A modificação acrescentava a GTA San Andreas cenas de sexo explícito entre CJ e suas várias namoradas espalhadas pelo mapa. Enfim, a Rockstar foi criticada e até mesmo a ESRB (órgão responsável pela classificação etária dos jogos) teve que agüentar o tranco por parte de vários grupos e diversos políticos.

Aí vem a pergunta: o erro está na existência do conteúdo ou na forma descuidada com que esse conteúdo é distribuído? Enfim, de qualquer forma, GTA continua firme, e a Rockstar parece estar se tornando cada vez mais resistente às chibatadas dos puristas e politicamente corretos — seja isso bom ou ruim.

Um simulador de vida... em todos os seus aspectos

Tudo bem, The Sims é o jogo mais vendido de todos os tempos para PC e, sem dúvida, se tornou hoje uma autêntica diversão familiar. Entretanto, dizer que o conteúdo encontrado na franquia é integralmente voltado para uma moral familiar... Quer dizer, a própria idéia de The Sims acaba favorecendo certas interpretações: crie um ser humano, jogue-e em um ambiente e controle cada pequeno aspecto da sua vida.
The Sims: o controle de uma pessoa... com todas as necessidades de uma pessoa.
Bem, eventualmente entram em cena aspectos ligados às necessidades básicas da sua criatura. É claro que inicialmente um Sim despido sempre carregava uma tarja em frente às partes pudendas e o nascimento de um filho era fruto de pura e inexplicável magia. Entretanto, um patch extra-oficial lançado mais tarde daria conta de remover as famosas tarjas.

Porém, o tema realmente mais polêmico envolvendo The Sims sempre foi a possibilidade de o protagonista não necessariamente manter relacionamentos heterossexuais. Isso porque realmente qualquer flerte acaba funcionando, seja o seu personagem ou o seu alvo um homem ou uma mulher. Bem, talvez ainda coubesse aqui falar, quem sabe, da extrema facilidade para se cometer adultério? Enfim, seja isso um reflexo da atual flexibilidade da sociedade moderna ou não, fato é que a franquia também arcou com uma boa dose de ativistas da moral familiar clássica.

BioWare, a liberalJade Empire: sem restrições para os romances...

É inegável que a desenvolvedora canadense BioWare realmente acertou a mão quando o assunto são os RPGs. Entretanto, em meio às suas pérolas, pode-se achar, vez ou outra, algum elemento controverso ou mesmo moralmente distinto. Aliás, em dois dos seus maiores títulos, pode-se encontrar a mesma “elasticidade” moral que marca a série The Sims: que é a possibilidade de o protagonista escolher livremente o gênero da sua contraparte romântica.

Em Jade Empire, por exemplo, um dos fatos que alimenta a idéia de “liberdade de decisões a toda prova” é a possibilidade de se escolher, entre vários personagens do computador, aquele que entrará na sua tenda após uma longa e penosa batalha. É claro que o jogo em momento algum encoraja abertamente coisas como bigamia e homossexualidade, mas de fato não existem travas para alguns comportamentos considerados reprováveis por muita gente.

Aliás, um fato bastante semelhante acontece no sucesso de crítica Mass Effect. Entretanto, aqui a coisa se dá inversamente. Quer dizer, o jogo permite que você escolha o gênero do seu personagem. Porém, independentemente disso, ele vai beijar uma mulher em algum momento do jogo: seja ele um homem ou outra mulher. Enfim, provavelmente nada que possa ser considerado de extremo mau gosto... mas existe.

O libidinoso Deus da Guerra

Em meio à sua incansável luta pela redenção de um passado sombrio, Kratos, o popular suplente de deus da guerra da Sony, por vezes se entrega ao mais puro desejo carnal, acabando por acrescentar mais algumas cenas aos registros históricos dos jogos mais controversos dos videogames. Embora nenhum ato sexual seja de fato mostrado, pode-se encontrar em todos os jogos da franquia um minigame bastante similar.
Kratos: entre um inimigo estraçalhado e outro, alguma companhia feminina.
Salvo alguns detalhes distintos, cada um deles envolve Kratos encontrando mulheres tão convidativas quanto desprovidas de roupa. Logo em seguida, o foco da câmera muda para um objeto próximo (um vaso, uma estátua ou um candelabro) e é mostrada na tela uma tendenciosa seqüência de botões que deve ser executada para que o protagonista, digamos, seja bem sucedido na sua tarefa.

A propósito, vale lembrar que os desenvolvedores da série têm alguns planos para o futuro: caso a tecnologia dos hologramas venha a ser aperfeiçoada, a idéia é acrescentar imagens sensíveis ao toque em um futuro God of War. Qual poderia ser a exata ligação entre desafios dessa natureza e um jogo de ação? Que cada um responda a essa pergunta como achar mais conveniente.

Um pouco de voleibol depois de tantas lutas sangrentas

Tudo bem, Dead or Alive Xtreme, lançado originalmente para Xbox, não trazia propriamente cenas de sexo. Entretanto, convenhamos, o voleibol era de fato o apelo menos relevante do jogo. Sem rodeios, fica bem claro que a idéia de colocar as lutadoras da série Dead or Alive de férias em uma ilha tropical tinha mesmo como objetivo final simplesmente colocar as curvas das belas mulheres do jogo (ainda mais) de fora.
Voleibol... provavelmente uma das atrações menos relevantes de Xtreme 2.Dead or Alive Xtreme 2 surgiria posteriormente para o Xbox 360 mantendo a mesma fórmula. Tudo bem, agora também era possível andar de jet ski, mas o que realmente chamou a atenção foram as texturas ainda mais polidas e os contornos ainda mais, digamos, realistas. Enfim, nenhum problema real no jogo, posto que pode-se ver garotas de biquíni em praticamente qualquer praia. Entretanto, trata-se de um belo exemplo de apelação descarada.

Sinal dos tempos?

Seja correto ou incorreto, moral ou imoral ou mesmo apelativo ou apenas um tempero, fato é que o sexo tornou-se hoje uma realidade incontestável dentro da indústria de jogos. Aí vem a eterna questão do ovo e da galinha: a sociedade hoje é mais flexível devido à entrada de elementos como estes através da porta eternamente aberta da mídia (seja ela a televisão, o rádio ou o videogame), ou essa nova liberdade é apenas um reflexo do que naturalmente tem acontecido?

Também fica no ar outra questão inevitável: a forma como os jogos com conteúdo mais adulto são distribuídos é realmente eficiente? Será que, talvez, o problema maior não esteja no conteúdo distribuído, mas na forma indistinta com que esse conteúdo chega ao grande público?


Vale lembrar também que os jogos citados neste especial são apenas uma pequena amostra, pois seria virtualmente impossível colocar todos os jogos de cunho ou apelo sexual em uma única matéria. E, é claro, estamos aqui deliberadamente excluindo jogos direcionados apenas ao público adulto. O enfoque ficou naqueles jogos que não têm o sexo como o seu tema principal.

Considerando-se isso, sinta-se livre para comentar, acrescentar ou mesmo reivindicar. O TecMundo Games quer saber a sua opinião acerca de um tema tão polêmico.
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