O show acabou! Guitar Hero desce do palco e o Baixaki Jogos relembra seus maiores “hits”

7 min de leitura
Imagem de: O show acabou! Guitar Hero desce do palco e o Baixaki Jogos relembra seus maiores “hits”

Depois de 24 jogos e mais de 1100 músicas, a franquia Guitar Hero chegou ao final do seu repertório. Criada pela RedOctane e Harmonix Music Systems (que mais tarde fundaria a série Rock Band) em 2005, a linha de jogos rítmicos publicados pela Activision reinventou o gênero e criou uma verdadeira febre entre os “músicos” virtuais.

A jogabilidade descomplicada e a sempre crescente lista de músicas populares conquistaram uma legião de fãs que consumiram avidamente as diferentes edições do jogo, bem como suas faixas extras e, é claro, periféricos de plástico em forma de guitarra.

Com o tempo, novos recursos foram adicionados. Para se manter “quente” na parada de sucessos, frente à chegada de Rock Band, a linha Guitar Hero incorporou uma bateria e microfone para completar a sua banda e partir em turnê.

Neste ínterim, também surgiram os “álbuns” especiais, coletâneas com os maiores sucessos dos anos 80, ou “covers” de bandas famosas como Aerosmith, Metallica e Van Halen.

Longe de ser uma “maravilhas de um sucesso só”, a série Guitar Hero se transformou em um verdadeiro fenômeno cultural, influenciando pesquisas médicas, cinema e a própria indústria musica.

Faturando mais de dois bilhões de dólares. Segundo a Activision, Guitar Hero é a terceira franquia mais rentável do mundo, atrás somente de Mario e Madden NFL — mas os dados não são tão confiáveis assim. Além disso, a Activision também afirma que Guitar Hero III: Legends of Rock foi o primeiro jogo do mundo a faturar mais de US$ 1 bilhão.

Porém, a estrela brilha mais intensamente antes de se extinguir. Apesar do sucesso inicial e dos lucros extraordinários, a linha Guitar Hero, e o gênero musical como um todo, começou a perder espaço nos video games.

No início de 2009, a Activision já indicava a saturação da franquia, até que em fevereiro de 2011 veio à confirmação do fim da linha Guitar Hero. Segundo a publicadora francesa, o “declínio continuado do gênero musical” foi um dos principais fatores para a tomada da decisão, que também afetou a série DJ Hero e os downloads extras para os títulos já lançados.

"This is the end..."

A história começa com a parceria entre a RedOctane — na época, uma empresa que só produzia periféricos para video games — e a Harmonix, desenvolvedora que já havia trabalhado em jogos músicas como Frequency, Amplitude e Karaoke Revolution. A RedOctane queria produzir uma versão “caseira” do arcade, GuitarFreaks, um jogo rítmico que fazia muito sucesso no Japão.

Em 2005 a ideia se transformou em Guitar Hero e estreou no PlayStation 2 fazendo muito sucesso, a ponto de credenciar a produção de uma continuação já no ano seguinte. O mais interessante é que os periféricos em forma de guitarra da primeira edição não foram produzidos pela RedOctane, mas por uma empresa chinesa, a Honeybee Corporation.

No entanto, em 2006, as coisas começaram a mudar, a gigante Activision percebeu o potencial da série Guitar Hero e desembolsou cerca de US$ 100 milhões para adquirir a RedOctane. Assim, Guitar Hero II contou com uma divulgação muito maior, estreando também em outra plataforma, o Xbox 360 (em 2007).

Mas no final do mesmo ano, uma reviravolta mudaria para sempre a história dos jogos musicais. A Activision seguia como detentora da marca Guitar Hero e antes mesmo de Guitar Hero II chegar às lojas, a MTV Networks revelou a compra da Harmonix.

A então desenvolvedora da série Guitar Hero teve de deixar a franquia, que passou para as mãos da Neversoft, um estúdio da própria Activision, conhecido pelo desenvolvimento da linha Tony Hawk. A escolha da Neversoft se deve por um fato curioso.

Aparentemente, Joel Jewett — fundador da Neversoft — confidenciou a Kai e Charles Huand, fundadores da RedOctane, que a equipe de desenvolvimento de Tony Hawk's Project 8 ia “trabalhar” até nos finais de semana só para ficar jogando Guitar Hero no escritório. Assim, a Neversoft trouxe Guitar Hero III para o Xbox 360 e PlayStation 3.

Além de marcar a estreia da série no PlayStation 3, Guitar Hero III: Legends of Rock também ficou marcado como o primeiro jogo a faturar mais de US$1 bilhão, com mais de 3,5 milhões de unidades vendidas durantes os primeiros setes meses de 2008. Ao mesmo tempo, a Activision estudava novas formas de explorar a marca e anunciou o desenvolvimento de Guitar Hero para o Nintendo DS e celulares.

Nesta mesma época, a empresa também descobriu outro filão, expansões dedicadas a bandas famosas. O primeiro título derivado foi Guitar Hero: Aerosmith, que apesar de bem recebido não foi registrou o mesmo sucesso que os outros jogos da série.

Neste ínterim, a Harmonix e MTV Games lançaram Rock Band (em 2007), revolucionando o gênero dos jogos rítmicos ao introduzir uma bateria e microfone. Atenta ao mercado a Activision lançou Guitar Hero World Tour também com suporte para bateria e microfone, mas com um ano de atraso.

Mesmo assim, World Tour fez bonito, e segue até hoje como o jogo mais vendido de toda a série, com 3,4 milhões de unidades comercializadas somente nos Estados Unidos durante 2008. Todavia, o sucesso de World Tour atiçou de vez a “ganância” da Activision.

Ao perceber a popularidade da série, a empresa resolveu lançar mais dois títulos, Band Hero — uma variação com músicas pop — e DJ Hero, voltado para música eletrônica (com direito a periférico na forma de pick up). Somando a isso a chegada de mais duas edições especiais dedicadas às bandas Metallica e Van Halen, o mercado estava inundado de jogos da marca Guitar Hero.

Isto não impediu que a Activision anunciasse uma quinta edição da série, Guitar Hero 5. Totalmente remodelado, o título trouxe várias novidades à série, mas não conseguiu repetir o sucesso das edições anteriores. Mesmo assim, uma sexta edição já estava confirmada para o ano seguinte, 2010.

A recessão econômica do final dos anos 2000 e a visível saturação do mercado de jogos musicais minaram qualquer chance de sucesso de Guitar Hero: Warriors of Rock. A Neversoft já previa o fracasso iminente e antes do lançamento do jogo já havia “encerrado” seu envolvimento com a série, passando o desenvolvimento de futuros jogos da linha para a Vicarious Visions, outro estúdio da Activision.

Em novembro de 2010, a Activision já dava indícios de que a franquia estava morrendo ao fechar a Budcat Creations, a publicadora responsável pelos lançamentos de Guitar Hero para o PlayStation 2. Por fim, em fevereiro de 2011, antes mesmo de entregar os relatórios financeiros do ultimo trimestre fiscal de 2010, a Activision revelou o término da franquia e seus derivados.

O show deve continuar

Alguns desdenham — “... em vez de brincar com guitarras de plástico você deveria aprender a tocar um instrumento de verdade!” —, outros idolatram. Independente do seu sentimento em relação da série Guitar Hero, é impossível negar o seu impacto no mundo dos video games e na cultura popular mundial.

A indústria fonográfica descobriu uma nova forma de divulgar músicas e faturar alto com isso. Um bom exemplo é o faturamento de Guitar Hero: Aerosmith. Em si, o jogo não foi o maior sucesso da série, mesmo assim o título acarretou em um aumento de 40% nas vendas de discos da banda.

Além disso, segundo o diretor executivo da Activision, Bobby Kotick, a banda Aerosmith fez mais dinheiro com o jogo Guitar Hero: Aerosmith do que com qualquer de seus álbuns anteriores. Outro bom exemplo é o da banda DragonForce.

A presença da música "Through the Fire and Flames" como um bônus de Guitar Hero III: Legends of Rock, provocou um aumento de 126% na venda de discos da banda. Além disso, a venda de downloads da música subiu de 2 mil por semana, para mais de 10 mil downloads semanais. No final de 2007, depois da consagração de Guitar Hero III, a música registrava mais de 40 mil downloads.

Pesquisas também indicam que Guitar Hero motivou uma legião de jogadores a aprender a tocar um instrumento real. Um estudo britânico revelou que 2,5 milhões de crianças — entre 12 milhões — que começaram a aprender a tocar um instrumento foram motivadas pelo jogo.

Vários bares e estabelecimentos comerciais passaram a oferecer versões do jogo como alternativas para o karaokê. A ideia também se estende a shows nos quais as bandas “tocam” o jogo, ou preparam “setlists” inspirados em Guitar Hero.

E o impacto de Guitar Hero não para por ai. Além de aparecer em uma série de referências cinematográficas (Encontro de Casais) e televisivas (Guitar Queer-o) o jogo também possui aplicações medicinais. Isso mesmo, Guitar Hero é utilizado por vários médicos e fisioterapeutas como ferramenta no tratamento de vítimas de derrame, pois estimula o uso de membros independentes e a coordenação motora.

Em suma, Guitar Hero ficará marcado para sempre na história. É triste saber que o show acabou, mas ainda teremos as músicas para relembrar (todas as 1159 faixas). Dos saudosos tempos em que você podia destruir os botões do seu Dualshock 2, até a guitarra com “frets” sensíveis ao toque, Guitar Hero será lembrado para sempre.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.