Adventure: uma relíquia estranha e genial dos anos 90

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A grande maioria dos heróis de video game de hoje são brutamontes armados até os dentes com queixos quadrados e nível de testosterona diretamente proporcional à dimensão de suas armas — e inversamente proporcional ao tamanho de suas massas cinzentas. Bem, mas como eram as coisas durante a década de 90? Verdade seja dita: tratavam-se, igualmente, de “brutamontes armados até os dentes...”. Mas havia um núcleo de resistência.

Quem se lembra do enorme jogo de cintura exigido de desenvolvedores que quisessem tornar seus cenários e personagens algo distintos de uma massa amorfa e colorida de pixels deve se lembrar bem: os “adventures” eram verdadeiras pérolas de genialidade/excentricidade.

A fim de driblar limitações tecnológicas gritantes para a construção de mundos tridimensionais realistas, boa parte dos desenvolvedores da época optou por criar cenários pré-renderizados com pouco ou nenhum movimento. Com essa receita, como evitar que aquele seu jogo fosse uma catástrofe ociosa? Simples: você conta uma boa história.

Dessa forma, como uma alternativa para os tradicionais machos alfa que (desde sempre) dominam o grosso da indústria, algumas dessas pessoas perceberam que poderiam transformar você, o protagonista, em uma barata, em um interno de um manicômio — com problemas sérios para distinguir entre a realidade e um amontoado de ilusões paranoicas — e, finalmente, em um vendedor de pacotes de viagem póstumos.

Juntamente com esses verdadeiros registros em “estado de arte”, caminhavam também alguns dos desafios mais escabrosos de que se tem conhecimento — com enigmas que fariam o melhor jogador de um puzzle “difícil” da atual geração reduzir-se à sua insignificância e procurar um detonado.

É claro que vale a pena relembrar alguns exemplares dessa mistura efervescente entre criatividade, bizarrice e dificuldade. Vamos e ales.

12 Adventures tão geniais quanto bizarrosAqui você pode ser qualquer coisa entre uma barata, um motoqueiro caricato e um nerd com a missão de salvar o mundo de um tentáculo roxo

  • Bad Mojo

Bad Mojo é provavelmente um dos jogos mais singulares de uma safra de jogos incrivelmente singulares. Depois que o infame Roger decide roubar 1 milhão de dólares de um empregador, um medalhão de sua falecida mãe acaba por transportar a sua alma para dentro de uma barata.

O resultado é o que se poderia chamar de “Joe e as Baratas” versão jogo. No papel do inseto você vai precisar perambular por locais de indizível nojeira, enquanto resolve diversos puzzles bastante criativos — correndo o risco de ser sugado por um aspirador de pó durante o processo.

  • Full Throttle

Eis um clássico absolutamente indiscutível da LucasArts. Quem não controlou os passos do icônico Ben, dos Polecats, provavelmente perdeu uma das experiências mais bizarramente engraçadas dos anos 90. Assassinos, fabricantes de carros e muito... Mas muito humor negro. Tudo isso amarrado com maestria por uma trama assinada pelo lendário Tim Schafer.

  • Loom

Loom foi um dos games que conseguiram se destacar em sua singularidade em um nicho que acumulava mais e mais excentricidades. A despeito da tradição da LucasArts com jogos licenciados com abordagens cômicas, tendendo a “cult”, há aqui um complexo conto de fantasia que ainda ganha um belo diferencial: puzzles baseados em sequências de notas musicais.

  • The Dark Eye

Trata-se aqui de um título de 1995 que mostrava claramente a pretensão que reinava entre os desenvolvedores de adventures: transformar jogos em verdadeiras obras de arte interativas. Neste caso, há uma narrativa perturbadora baseada nos contos de horror e mistério do escritor Edgar Allan Poe — com destaque para “O Barril de amontilado”, “Berenice” e “O coração acusador”.

Os cenários, naturalmente, deixam bastante a desejar. Mas não é preciso mais do que uma ou duas interações com os personagens estranhos do jogo para se envolver e deixar, de bom boa vontade, as limitações técnicas de lado.

  • Dark Seed

Da série “Esquisitices geniais que você provavelmente não encontraria em um blockbuster atual”, Dark Seed vai levá-lo a um universo tenebroso de imagens criadas pelo célebre H.R. Giger — o mesmo que criou as monstruosidades do filme “Alien, o Oitavo Passageiro”.

Trata-se aqui de terror psicológico da melhor qualidade — isto é, intenso e sem pudores. Uma jornada bizarra que vai levá-lo ao potencial fim do universo, em uma tentativa de preservar a integridade da raça humana.

  • Sanitarium

Após um acidente de carro, Max Laughton tem sua memória e sua identidade completamente apagadas. Para tornar a situação mais singularmente desesperadora, Max é interno de um hospício e é constantemente bombardeado por informações sensoriais que tanto podem se referir a algo real como a surtos de paranoia. A série de visões grotescas e a atmosfera característica complementam a receita médica de Sanitarium.

  • Myst

Myst é um verdadeiro emblema das pretensões de profundidade artística forjadas nas limitações técnicas do início da década de 1990. Forjado com belos cenários — “algo” perturbadores, vale mencionar —, o game conta a história de uma civilização capaz de “escrever” novos mundos em livros. Para completar, há ainda um belo drama familiar, épico e cheio de traições.

  • Day of the Tentacle

Day of the Tentacle é a infame sequência de Manic Mansion. Desta vez, Bernard, Hoagie e Laverne precisam correr para salvar o mundo da malevolência de um... Enorme tentáculo roxo — melhor não buscar interpretações para isso. Certamente uma das criações mais bizarras, engraçadas e originais da LucasArts.

  • Grim Fandango

Manny Calavera certamente tem um bom emprego. Ele é um dos mais eficientes vendedores de pacotes de viagem póstumos — chame-o de “A Morte”, se achar mais conveniente, mas isso excluiria toda uma rica e doentia burocracia da mistura.

Grim Fandango representou a primeira tentativa inteiramente tridimensional da LucasArts, embora com certeza não tenha ficado só nisso. A nova tecnologia ganhou vida por meio de uma direção artística impecável, detalhada, envolvente e misturando elementos noir a uma incrível dose de humor nonsense. Um clássico.

  • Phantasmagoria

Verdade seja dita: Phantasmagoria era incrivelmente “tosco”. Quer dizer, trata-se de um amontoado de clichês de histórias de fantasmas, os quais são colocados em movimento por alguns dos atores mais canastrões da história das artes cênicas. Só que isso tudo é incrivelmente divertido e pertinente. O conjunto da obra urdido pela desenvolvedora Roberta Williams tornou-se um dos ícones maiores de toda uma era.

  • I Have No Mouth and I Must Scream

Sim, esse é realmente o nome do jogo. Parece estranho? Espere então pela sinopse: um computador senciente resolveu exterminar toda a humanidade, com a exceção de apenas cinco sujeitos “sortudos”.

A fim de triunfar sobre o amontoado megalomaníaco de chips e cabos, você precisará mostrar que a humanidade ainda pode ser melhor do que as máquinas — embora isso seja altamente controverso. Cada um dos personagens traz ainda sua própria dose de penúria, a fim de compor um conto digital dos mais perturbadores.

  • Harvester

Carinhosamente apelidado de “o adventure mais violento de todos os tempos”, Harvester, de fato, trazia uma mistura bem pouco moralista. Além de doses cavalares de nojeira e truculência, havia ainda conteúdos sexuais que teriam derrubado da cadeira uma daquelas senhoras responsáveis por tirar o sangue de Mortal Kombat.

O que o torna realmente genial? Bem, ser “desmedidamente violento e exageradamente sexual” era apenas uma das facetas de Harvester. Para quem pudesse enxergar além disso, havia ali um dos games mais envolventes da década de 1990, incluindo ainda uma sátira da melhor qualidade.

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