Coluna: o que faz um bom Survival Horror?

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O castelo parece vazio, mas os assovios do vento que passam pela sua pele o fazem temer por mais alguma presença por perto. Você sente um arrepio repentino e pensa que há alguém nas suas costas, virando seu lampião com desespero para conferir. Por sorte, não há.

Mas os passos à sua frente provam o contrário, e, quando você se vira, a luz que antes era sua segurança se apaga bruscamente. A luminosidade da janela lá do alto promove um pouco de visão, bem a tempo de você visualizar a porta de madeira se abrindo com um rangido preguiçoso.

Sobreviver em um game de horror é como estar pronto para uma explosão de adrenalina. O Survival Horror pode fazer você suar, tremer e sentir ansiedade ao entrar em um quarto ou ouvir um barulho suspeito. O susto muitas das vezes é o meio de estourar a bomba de emoções que se acumulou nas veias.

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Mas, ao contrário do que muitos pensam, não é a surpresa ou o espanto que definem o quão bom é um jogo nesse gênero – mas uma série de fatores que no fim ampliam a sensação de horror e nos fazem despertar para a sobrevivência.

Definindo o gênero

Há algumas características que costumo observar quando me aventuro por um Survival Horror. A primeira delas será, inevitavelmente, o quanto o game assusta ou desperta emoções no jogador. A existência do terror psicológico é apontada como o principal fator de sucesso para um game nesse gênero, mas somente o medo faz com que o jogador queira sobreviver?

Definir o gênero é trabalhar com as duas características que envolvem o termo em inglês: horror e sobrevivência. O primeiro pode ser despertado por vários sentimentos, como pavor, repulsa, nojo, espanto, angústia; todos combustíveis para o jogador lutar pela segurança do personagem. Diferentemente dos filmes de terror, somos nós os responsáveis pelo destino do protagonista em um game.

No entanto, há várias formas de despertar essas emoções: da trilha sonora ao enredo, passando pelo ambiente e pelos sustos. Analisarei cada uma separadamente, apontando alguns exemplos e como eles podem impactar o jogador de diferentes formas.

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Do ruído seco à música de suspender o fôlego

Envolvimento sonoro não significa necessariamente a adição de uma música: tudo dependerá da proposta do jogo. Um bom game de terror pode aterrorizar pelo silêncio – quem aqui não se lembra de Amnesia: The Dark Descent, em que somos conduzidos ao ápice da tensão pelos ruídos do ambiente, dos próprios passos e dos grunhidos e demais barulhos do personagem?

A valorização do silêncio se encaixa com a imersão do jogador – experimentar a mesma carga emocional que o próprio personagem passa naquela situação. Isso o torna constantemente tenso: o que é perfeito para os masoquistas fãs do terror.

Do outro lado, a presença de uma trilha sonora mais trabalhada desperta sentimentos específicos durante a jogatina. Lembre-se de Silent Hill: cada momento traz uma música capaz de carregar uma emoção diferente ao jogador.

Da depressiva “Blood Tears” e a morte de uma personagem ao perturbador “My Heaven” e a pura representação do perigo. A imersão não é ligada ao protagonista, mas ao enredo do game e às sensações que ele pode provocar.

A névoa que cerca o medo

Cenários dão um sentimento de realidade ao jogador e podem trazer diferentes tipos de sensações. Como não continuar citando Silent Hill, principalmente a forma como a série desenvolve uma identidade obscura para a cidade, capaz de mudar para cada personagem que a visualiza?

Um local que pode passar de misterioso para ameaçador em poucos instantes, trazendo um simbolismo marcante e único para cada personagem e local: bem-vindo à Silent Hill.

Img_normal?Do outro lado, o ambiente pós-apocalíptico de The Last of Us traz cenários devastados e contaminados pelo fungo cordyceps – e, apesar de focar o enredo e os elementos de ação, a sobrevivência está presente em vários momentos. Os ambientes tomados pelos enormes fungos pulsando esporos me despertavam uma enorme sensação de claustrofobia e nojo, sendo uma ameaça mais marcante que os infectados comuns.

A delicada construção de cada situação contribui para o envolvimento de cada personagem. A semiótica lidera a ambientação do jogador ao contexto desenvolvido na tela; nos sentiremos inconfortáveis se aquela mensagem com sangue na parede nos tocar ou surpreender de alguma forma.

Costurando o script

Relacionar elementos da história nem sempre será o fator crucial para o horror, mas em certas situações o enredo será uma peça importante para ambientar e angustiar o personagem.

Lembre-se de Resident Evil e as mutações desenvolvidas pela Umbrella Corporation: a existência da companhia naquele universo deixava o protagonista vulnerável às ameaças biológicas, e o perigo poderia aparecer quebrando qualquer parede pela qual ele passasse.

Da mesma forma, saber dos poderes psíquicos de Alma em F.E.A.R. é também uma das formas de injetar adrenalina em um FPS, afinal, não é todo dia que objetos são lançados por forças ocultas. Sobreviver a esse tipo de perigo já é outra história.

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O enredo é o que dará as formas de ameaça em cada game – e quanto melhor trabalhado, mais surpresas e emoções ele pode guardar. Nem sempre ele será claro desde o início, pois, assim como em Amnesia, os detalhes revelados aos poucos podem dar o “gostinho especial” que falta em um game desse gênero.

O “fator surpresa”

O susto é valorizado por muitos na escolha de um Survival Horror: eles são instantâneos, inesperados e nos fazem temer pela nossa segurança. Mas em alguns jogos o pavor imediato não é buscado a todo instante – em vez disso, títulos como Dead Space e Alan Wake trabalham com uma ambientação mais ampla, reservando emoções diferentes que o puro e simples terror.

Os games que exploram o susto sempre terão duas opções: surpreender ou aplicar o terror de forma lenta e corrosiva à segurança do personagem. Explorar esses dois quesitos foi o que gerou a fama em torno do game indie Slender – enquanto o perigo do homem de paletó negro era constante, a sua aparição inesperada também era possível, maximizando o pavor.

E assim alguns gamers choravam de medo, como nosso querido apresentador Gabriel Soto Bello.

Obviamente eu não deixaria escapar a chance de citar a série Fatal Frame nesta coluna. Além de trabalhar com a visão entre a primeira e terceira pessoa, a troca de câmeras e a aparição de fantasmas sempre trazem algumas “surpresinhas”. Não é exatamente isso o que marca um jogador? Aproveitem, porque Fatal Frame III: The Tormented acabou de sair na PSN.

A tensão do ambiente vai terminar geralmente no susto, na surpresa ou no evento inesperado; trabalha-se aqui a sobrevivência pelo puro e simples medo. É a adaptação aos games dos clássicos filmes de terror, mas a diferença é que nós estamos na pele das infelizes vítimas.

O que nos assusta?

A imersão é o ponto principal para se garantir um bom Survival Horror. Mergulhar o jogador em um contexto o deixa sensível aos sentimentos transmitidos pelo enredo, pelo ambiente ou pela trilha sonora. Se há falha nessa sintonia, não teremos interesse na sobrevivência do personagem.

É importante entendermos que os jogos exploram o Survival Horror de diferentes formas. Existem games que trabalham com elementos do gênero acompanhados de ação, suspense ou aventura. Nesse caso, temos os já mecionados The Last of Us e Alan Wake.

Do outro lado dessa classificação, haverá outros títulos que utilizam o horror como ferramenta primária para a jogatina, como as séries Silent Hill, Fatal Frame e Amnesia.

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No entanto, cada jogo apresenta uma proposta diferente de imersão: enquanto o ponto forte de Slender é o susto, Silent Hill se destaca pelo ambiente e pelo som. Quanto mais dedicado o game é com o gênero, mais trabalhado precisam ser os canais emotivos, garantindo assim aquele suspense clássico dos filmes de terror ou ainda a angústia de algo perturbador na tela.

Dos misteriosos contos de Edgar Allan Poe até o entretenimento moderno, o horror ganhou novas dimensões, e os video games trazem a forma mais interativa de vivenciá-lo. Isso até a chegada da realidade virtual – aí sim será uma adrenalina de outro mundo.

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