Coluna: Por que os grandes estão se afastando dos jogos AAA?

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Recentemente, o mercado de jogos eletrônicos parece ter estado em um ritmo constante de mudanças, com grandes figuras optando por meios diferentes de colocar suas ideias em prática. A indústria dos video games tem visto um número cada vez maior de criadores abandonarem a cena das grandes produções para tocar outros projetos.

Um exemplo recente é de Ken Levine, que encerrou as atividades da Irrational Games da maneira como todos a conhecem, abrindo mão da franquia Bioshock e optando por projetos menores. O que está acontecendo que todos os responsáveis por grandes títulos estão “abandonando o jogo” e partindo para o cenário independente?

O preço do sucesso?

Imagine que você é um desenvolvedor de jogos. Certamente, um dos seus objetivos é ter um game de sucesso em seu currículo, conseguindo dinheiro para produzir cada vez mais títulos. Então, depois de muito esforço e noites mal dormidas, você conseguiu realizar o seu sonho.

Com o sucesso, veio o dinheiro de grandes publishers, permitindo que você pudesse colocar todas aquelas ideias mirabolantes que somente alguns milhões poderiam proporcionar. Porém, você não tem mais a mesma liberdade de antes.

Agora, você responde a uma grande empresa, que precisa lucrar em cima das altas cifras investidas em seus games. Quando você para e pensa, percebe que está preso a uma máquina gigantesca, tendo que seguir regras que podem limitar o que você pode criar.

Battlefield 4Battlefield 4

As coisas só pioram quando o seu novo projeto é um título AAA. Milhões de dólares são investidos durante sua produção e milhares de fãs ao redor do mundo aguardam o seu novo game. Caso um frame não seja do agrado deles, o título é criticado antes mesmo de chegar às lojas. Só que você quer continuar trabalhando com isso, aceitando tudo para fazer uma empresa ganhar dinheiro, abrindo mão das suas ideias.

É essa a vida de muitos desenvolvedores que encontraram sucesso em seus primeiros games e começaram a tocar projetos AAA. A constante necessidade de apostar no seguro, ganhando o dinheiro de jogadores que parecem querer sempre a mesma coisa, enquanto reclamam que todos os jogos são iguais, acaba por minar a criatividade de desenvolvedores como o já citado Levine.

Por mais que eles tenham um bom relacionamento com publishers e empresas, a pressão pode acabar sendo demais para alguns, que preferem ter a liberdade de antes para criar.

A liberdade é muito melhor

Como dito acima, a falta de liberdade pode ser um motivo pelo qual alguns desenvolvedores abandonam o cenário AAA. Recentemente, nomes como Keiji Inafune, que ajudou a criar o Mega Man e foi produtor de títulos como Onimusha e Dead Rising, optaram por seguir um caminho independente.

Mighty No.9Mighty No.9

O primeiro game criado por ele foi Mighty No. 9, um título muito parecido com a série que Inafune ajudou a criar. Isso fez com que várias pessoas acreditassem que o desenvolvedor realmente queria um jogo de Mega Man, mas, por não poder fazê-lo dentro da Capcom, resolveu criar algo “novo”, com mais liberdade do que teria dentro da empresa.

Outros grandes nomes parecem ter se afastado das grandes publishers e do mercado AAA para conseguirem tocar suas ideias, como os responsáveis pelo Project Phoenix, que optaram em levar o seu projeto ao Kickstarter, em vez de buscar financiamento e meios de lançar o game por publishers, como a Square-Enix.

Reprodução/KickstarterArte conceitual de Project Phoenix (Fonte: Reprodução/Kickstarter)

Nomes que antes apenas trabalhavam em projetos considerados blockbusters, como Nobuo Uematsu, responsável pela trilha sonora de clássicos da franquia Final Fantasy, partiram para um projeto independente e com mais liberdade para se trabalhar.

A pressão que um grande projeto recebe do público

Um ponto que merece ser mais bem explicado, e que foi mencionado acima, é que o próprio público pode ser responsável por fazer alguns desenvolvedores se afastarem da cena AAA. Sempre que um grande projeto é anunciado, surgem fãs que já o consideram como a melhor coisa já criada pela humanidade.

Por causa disso, todo e qualquer detalhe do novo jogo é passado pelo escrutínio do público. Caso algum elemento não agrade alguém, os criadores do título se tornam alvo de xingamentos e tudo o que os fãs de games conseguem produzir de pior.

Apesar de muitos considerarem isso como “parte do trabalho”, todos têm um limite, que muitas vezes é ignorado por hordas de fãs que chegam a ameaçar fisicamente desenvolvedores pelo simples fato de um personagem fazer algo que eles não acreditavam ser correto.

Fãs afirmam muitas vezes que o criador de uma obra não estava certo em fazer algo com sua criação, como se ele não tivesse direito de fazer a história se desenvolver da maneira que havia planejado. É tudo tão absurdo que deixa de fazer sentido.

Esse tipo de stress não costuma acontecer durante o lançamento de jogos menores, mais intimistas, sendo normal quando se trata de um projeto AAA. Em títulos maiores, a impressão que dá é a de que fãs acreditam que são os donos da obra, em vez de simples consumidores, culpando qualquer mudança que não os agradem, hostilizando todos os envolvidos.

A chance de inovar

Por mais que existam exceções, jogos AAA seguem um padrão. Eles trazem histórias cinematográficas, com muita ação e gráficos que testam os limites de consoles e computadores. Muitos são sequências ou spin-offs de franquias que já tiveram sucesso ou que fazem parte do portfólio de empresas consagradas.

São poucos os jogos AAA que conseguem realmente apresentar um conceito inovador ao mundo dos games, sendo que esse papel geralmente fica a cargo de projetos independentes.

Se notarmos a recente evasão de grandes nomes da indústria dos games dos títulos AAA, podemos ver que eles fazem parte de um seleto grupo de “criadores”. Todos alcançaram o sucesso de público e crítica por trazer algo que parecia novo ao mundo dos jogos eletrônicos.

Nomes como os já citados Ken Levine e Keiji Inafune, e Peter Molineux, John Carmack, entre outros, são responsáveis por títulos e momentos de inovação na linha de tempo dos games. Esses mesmos profissionais parecem que cansaram de ter que sempre baixar a cabeça e trabalhar dentro de regras que limitavam a sua criatividade em troca de sucesso financeiro.

Reprodução/KickstarterJohn Carmack e o Oculus Rift (Fonte: Reprodução/Kickstarter)

O afastamento desses profissionais do mercado AAA de jogos não deve ser considerado como algo ruim, pelo contrário. Com mentes como essas tendo liberdade para fazer o que bem entenderem, a chance de termos uma nova leva de produtos que trazem aquela sensação de novidade ao mercado de games é muito grande.

Em vez de sempre termos que esperar por jogos de tiro em primeira pessoa que parecem exatamente como os games lançados no ano anterior, mas com gráficos levemente melhorados, nós poderemos esperar por títulos realmente inovadores.

O verdadeiro motivo

A razão para grandes nomes da indústria dos games abandonarem o mercado de jogos AAA ainda é desconhecida. Pode ser por causa da pressão do público, de sempre manter um nível de sucesso, vontade de inovar ou simples fadiga. Cada profissional tem seus próprios motivos para realizar uma mudança drástica em suas carreiras.

O que nós, como fãs de jogos eletrônicos, devemos fazer é aguardar para saber o que cada um deles tem em mente e como serão suas novas criações.

Isso significa que o mercado AAA está em declínio?

É difícil afirmar isso, mas os altos custos de produção de um jogo “blockbuster”, como já falamos aqui, pode ser um responsável para que vejamos mais títulos com baixo orçamento, mas que podem proporcionar novas experiências aos jogadores.

Algo similar já aconteceu com a indústria do cinema, houve um período de grandes épicos, que acabaram saturando o público, o qual começou a consumir histórias mais simples e que sentia ser mais próximas de suas vidas.

O futuro, por mais que seja visto como sombrio por muitos, ainda tem chance de brilhar mais forte do que nunca. Basta acreditar.

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