Coluna do Carpe #03: o que faz uma boa continuação?

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O mercado de videogames sempre foi lotado de sequências, continuações de outros jogos, e por razões óbvias. Lucrar mais em alguma ideia que deu certo, menores custos de produção, maiores possibilidades de merchandising e expansão para outras mídias…

Muitos dizem que isso limita a criatividade na indústria. De certa forma é verdade, mas alguns dos melhores e mais inovadores títulos vieram justamente de continuações. A questão é: o que define uma boa sequência? É isso o que discutiremos hoje, através de bons e maus exemplos.

Novidades, e em todos os aspectos

Talvez o ponto mais importante (e óbvio) sejam as tais “novidades”. Seja em videogames, filmes, séries ou em qualquer outra mídia: esperamos algo novo, e não apenas uma repetição do que já vimos. E como estamos falando de videogames, isso vale não apenas para a história, mas principalmente para as mecânicas e os sistemas de um jogo.

Uma boa sequência não só dá continuidade à trama e adiciona novos conteúdos (como armas e mapas), como também aprimora e evolui seus elementos de gameplay. E isso vai desde aquelas ideias geniais até os pequenos aperfeiçoamentos aqui e ali, mas que elevam a experiência como um todo.

Um bom exemplo disso é Half-Life 2 (que, a propósito, talvez seja a melhor sequência já feita). Apesar de manter basicamente a mesma pegada do primeiro jogo, apresenta várias novas ideias interessantes. A Gravity Gun, por exemplo, é uma arma que lhe permite manipular praticamente qualquer objeto do cenário através da gravidade, e usá-los tanto para o combate quanto para a solução de puzzles. Mecânica inexistente no primeiro jogo e que dá outro nível de profundidade ao gameplay.

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Dishonored 2, além de apresentar novos poderes, aprimorou vários aspectos da jogabilidade, “lapidou as arestas”. Muitos desses detalhes podem passar despercebidos, mas basta jogar ambos os games em sequência para perceber como fazem toda a diferença. Na sequência, por exemplo, é possível assassinar inimigos através das janelas, algo que não acontecia no primeiro.

Vale menção também a Portal 2, com desafios muito mais complexos e interessantes, ou até mesmo Street Fighter 2, que definiu todo um gênero e fez o primeiro jogo parecer obsoleto.

É claro que também temos maus exemplos, como Thief (2014), que deixou de lado a liberdade característica da série e apostou em um design linear. Enquanto os primeiros games davam ao jogador inúmeras formas de se cumprir um mesmo objetivo, o reboot geralmente oferece apenas um caminho possível. É uma sequência que não apenas falhou em evoluir as ideias dos anteriores, como também as regrediu.

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Ainda relacionado a isso, é importante que uma sequência corrija os problemas de seus antecessores, desde aspectos técnicos até decisões de design que não deram tão certo na prática. Podemos mencionar Assassin’s Creed 2 e Far Cry 3, que evitaram as repetições maçantes tão criticadas nos jogos anteriores e, mesmo mantendo a fórmula sem grandes alterações, são muito melhores.

Novo, porém familiar

Agora, por mais uma boa continuação precise de novidades, é importante que haja certo equilíbrio com a identidade já estabelecida, fidelidade aos elementos que caracterizam aquele game. O público geralmente busca algo novo, mas que ainda possua um grau de familiaridade.

Call of Duty 4: Modern Warfare elevou a fórmula em praticamente todos os aspectos e trouxe diversas novidades, principalmente no componente multiplayer, mas sem deixar de lado as características centrais estabelecidas nos títulos anteriores, como o single player cinematográfico.

O público geralmente busca algo novo, mas que ainda possua um grau de familiaridade

O mesmo não aconteceu em Zelda 2: The Adventure of Link (1987), que abandonou a visão de cima e apostou em uma jogabilidade side-scrolling, semelhante à dos jogos de plataforma da época, com um elevado nível de dificuldade. Apesar de ser uma continuação da história, carrega pouquíssimos elementos em comum com o primeiro jogo e é considerada por muitos a ovelha negra da franquia.

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Há exceções, claro. Por vezes, é necessário reinventar toda a fórmula de um jogo, mantendo apenas o nome e alguns elementos centrais. São os tais reboots, e geralmente acontecem quando há algum tipo de desgaste ou crise na marca.

Já deram muito certo, como em Prince of Persia: Sands of Time, que atualizou um clássico dos anos 80 com uma trama interessante e sistema de combate viciante, ou muito errado, como Duke Nukem Forever e Sonic: The Hedgehog (2006).

Continuando a história

Quanto à trama, podemos listar diversos aspectos por si só. Em primeiro lugar, uma continuação precisa fazer sentido, beneficiar a história de alguma forma. Isso pode ser através da continuidade dos eventos e personagens apresentados anteriormente ou da expansão do universo do game. Halo 2 é um ótimo exemplo, pois mostrou as consequências do que aconteceu no primeiro game e apresentou todo um novo panorama de personagens e motivações.

Em primeiro lugar, uma continuação precisa fazer sentido, beneficiar a história de alguma forma

Se a história é uma continuação direta, precisa respeitar o que aconteceu anteriormente e evitar repetir o mesmo arco narrativo. Em Tomb Raider (2013), Lara Croft é uma jovem arqueóloga aprendendo a sobreviver. Não faria sentido vê-la aprendendo tudo de novo na sequência, certo? É por isso que Rise of the Tomb Raider (2015) já se inicia com uma Lara aventureira e mais experiente.

Quanto aos personagens, mantê-los de um jogo para o outro não é uma obrigatoriedade, mas, se novos protagonistas e vilões são introduzidos, é importante que eles sejam tão ou mais interessantes que aqueles apresentados no game anterior. E caso os personagens sejam os mesmos, é necessário evoluí-los, abrindo caminho para a abordagem de novos temas.

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Ainda sobre a narrativa, boas sequências geralmente subvertem expectativas, vão além do que foi apresentado no game anterior. Pode acontecer através de revelações da trama, como em respostas a perguntas apresentadas previamente. Isso funciona até mesmo como uma forma de recompensa aos jogadores fiéis, que acompanham uma série de um jogo para o outro.

Gráficos importam

Como estamos falando de videogames, não podemos deixar os aspectos técnicos de lado. Jogos eletrônicos estão diretamente relacionados aos avanços tecnológicos de sua época, mais do que qualquer outra mídia de entretenimento. Inclusive, são mais dependentes disso. Não é à toa que buscamos consoles ou placas de vídeo cada vez mais poderosas. Então, uma boa sequência precisa apresentar uma considerável evolução técnica em gráficos, áudio ou performance.

Jogos eletrônicos estão diretamente relacionados aos avanços tecnológicos de sua época, mais do que qualquer outra mídia de entretenimento

Podemos mencionar Uncharted 2: Among Thieves (2009), que, apesar de ter sido lançado apenas 2 anos após seu antecessor, o supera em praticamente todos os aspectos. É um jogo muito mais bonito e bem executado, e detalhe: ambos saíram para o mesmo hardware, o PlayStation 3.

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Não há uma fórmula

Desenvolver uma boa sequência não é uma tarefa fácil. Não há uma fórmula do sucesso, e mesmo que se faça tudo o que foi listado acima, ainda pode dar errado (e vice e versa). De qualquer forma, é interessante analisar e entender como os desenvolvedores trabalham duro para continuar e expandir as franquias que tanto amamos, e como, por muitas vezes, conseguem superar quaisquer expectativas.

Mas e aí: quais são os pontos mais importantes em uma sequência, para você? Quais são as melhores e as piores continuações? Deixe sua opinião no campo de comentários.

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