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Coluna: o Steam precisa filtrar melhor os jogos que oferece

schedule29/05/2014, às 13:37

Caso sua plataforma de games preferencial seja o PC, é muito grande a probabilidade de que você esteja familiarizado com o Steam, o sistema de distribuição digital da Valve. Oferecendo uma seleção de grandes lançamentos, jogos independentes interessantes e promoções constantes, o serviço se tornou para os games de computador aquilo que o Google é para os sistemas de busca.

Como acontece com todo líder de mercado que quer se manter nessa posição, a loja virtual sofreu diversas transformações com o passar de anos, incorporando recursos como a possibilidade de realizar o streaming entre diferentes computadores e a opção de compartilhar bibliotecas. Embora muitas dessas transformações tenham sido acertadas, uma política adotada pela Valve está mostrando consequências não muito boas nos últimos meses.

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Quem acessa o Steam diariamente provavelmente notou que a aba de “Lançamentos” raramente repete seus conteúdos a cada dia. De fato, uma pesquisa realizada pelo site Gamasutra mostra que, durante os primeiros cinco meses de 2014, o sistema já ganhou mais títulos do que durante todo o ano de 2013.

Gamasutra

“Mas, BJ, quanto mais games forem lançados, melhor para o consumidor, que vai ter uma variedade maior de títulos para escolher, não é mesmo?”. Em teoria, a resposta a essa pergunta não tem como ser negativa, mas basta observar a situação mais de perto para ver que a história não é bem essa.

Greenlight e Early Access

Entre os fatores que contribuíram para que o Steam ganhasse cada vez mais conteúdos estão os programas Greenlight e Early Access, criados pela Valve com o intuito de tornar sua plataforma mais aberta. Enquanto o primeiro estabelece permite que jogos populares entre a comunidade de usuários (medida estabelecida através de uma votação pública) cheguem rapidamente à loja, o segundo possibilita que desenvolvedores financiem mais facilmente seus projetos ao vender builds incompletas deles, com a promessa de trabalhar em atualizações constantes que aprimoram a experiência oferecida.

No entanto, a falta de uma supervisão mais atenta faz com que ambas as soluções apresentem problemas que podem ser considerados graves. Após uma fase conturbada, no qual o Greenlight quase não resultava em lançamentos, a Valve decidiu “abrir suas porteiras”, o que tornou extremamente fácil qualquer projeto com uma quantidade mínima de votos ser lançado através do programa.

Da mesma forma, o Steam Early Acess se prova cada vez mais arriscado, visto que muitos desenvolvedores mal-intencionados estão aproveitando a liberdade oferecida do Steam para lucrar com produtos incompletos que serão abandonados antes de chegar a um ponto funcional. Exemplos dessa situação não faltam, envolvendo desde títulos relativamente “finalizados” como Towns (abandonado após seu desenvolvedor original vender o projeto) até vergonhas como Earth: Year 2066.

Lançado sem grande alarde em estágio inicial de desenvolvimento, Earth: Year 2066 ganhou notoriedade pela maneira como seu desenvolvedor tratou os consumidores. Ele não só oferecia um produto incompleto (que exibia imagens promocionais roubadas) como usava seu poder de administrador para apagar críticas negativas, chegando ao ponto de fechar e renomear o fórum de discussões dedicado ao título.

Foi preciso que o jogo tomasse as manchetes de sites especializados em games e que uma série de vídeos do YouTube ganhasse popularidade para que a Valve tomasse alguma atitude em relação ao caso e removesse o título de seu programa. O problema, no caso, é que a empresa nunca deveria ter deixado a situação chegar a esse ponto: antes de permitir que pessoas pagassem pelo game, era obrigação dela verificar a integridade do desenvolvedor e se assegurar de que o projeto tinha um patamar mínimo de qualidade.

Futuro preocupante

Por mais que as intenções da Valve sejam admiráveis, é difícil não ver uma “Era das Trevas” se aproximando do Steam. A enxurrada de novos títulos que a plataforma recebe faz com que novos jogos desapareçam rapidamente da lista de lançamentos, o que diminui a possibilidade de que alguém os encontre ao acaso — algo que prejudica justamente os desenvolvedores independentes que a empresa tenta beneficiar em seus programas.

Enquanto títulos com orçamento de marketing gigantesco vão vender rapidamente — um Watch Dogs ou um Call of Duty não precisam estar em lugar de destaque na capa para que alguém se interesse por eles —, títulos menores simplesmente vão passar batidos para a maioria do público.

Caso você não acesse o serviço diariamente, será preciso percorrer diversas páginas até conseguir encontrar algum título que mereça atenção (algo que sabemos que a maioria das pessoas simplesmente não tem paciência de fazer). Lançado no dia 26 de maio, o interessante ibb & Obb já figura na quinta página da janela de lançamentos, e deve desaparecer de lá antes da semana que vem — só para citar um exemplo.

Out There Somewhere

Na tentativa de resolver esse problema, a Valve acabou criando um problema ainda mais grave: em vez de exibir a aba “Lançamentos” a quem entra no site, agora a empresa passa a destacar a aba “Mais Vendidos”, algo que só ajuda a chamar ainda mais a atenção para títulos já consolidados: por melhor que um jogo de qualidade como Out There Somewhere seja (da brasileira MiniBoss), ele não tem condições de competir no mesmo patamar de fenômenos como DayZ ou Counter-Strike.

O resultado? A experiência acaba sendo reduzida a um público especializado que não dependia de um lançamento no Steam para aproveitá-la. O destaque dado aos jogos mais populares é, basicamente, a Valve dizendo “não queremos que vocês descubram novas experiências, mas sim invistam naquelas que já foram consagradas publicamente”.

O efeito App Store

A situação é semelhante à que acontece com a App Store e a Google Play, lojas que começaram promissoras e que permitiam que desenvolvedores independentes competissem no mesmo patamar que empresas multimilionárias com orçamentos de marketing gigantescos. No entanto, ao não adotar filtros de conteúdo eficientes, ambas viram um verdadeiro inferno, tanto para o consumidor que não quer se deparar com mais um clone de Flappy Bird quanto para desenvolvedores que querem apostar em algo que se diferencie do “sucesso do momento”.

E é exatamente essa situação que vemos sendo repetida no Steam, mesmo que em ritmo ligeiramente mais lento. Para cada game independente com ideias novas, temos pelo menos uma dúzia de “simuladores de atividades banais e entediantes”, um punhado de adventures com fórmulas imbecilizadas (encontre os itens espalhados por esse cenário) e alguns joguinhos para cuidar do jardim ou unir três peças coloridas — muitos deles, ironicamente, lançados originalmente no Android e no iOS.

Por um lado, é fácil entender os motivos pelos quais a Valve abraça tantos jogos novos: não só isso oferece mais opções ao público e reforça o nome do Steam como um “sinônimo de jogar no PC” como contar com uma grande quantidade de aplicativos funciona como uma publicidade positiva — algo que a Apple e a Google sabem muito bem.

No entanto, ao abrir a porta para clones de jogos famosos e experiências mal-acabadas (e a relançamentos de jogos que nunca deveriam ter deixado os anos 90), a empresa em nada favorece seus consumidores. Não somente jogos legitimamente interessantes acabam sendo perdidos em meio a uma lista enorme de lançamentos diários mas também títulos de baixa qualidade falham em atrair a atenção do público.

Putt-Putt para GOTY 2014

Basta observar a App Store para comprovar isso: embora a loja esteja recheada de clones de Clash of Clans, é somente a experiência original que continua campeã em vendas e atraindo a atenção do público. Enquanto isso, jogos como Republique acabam perdidos em meio ao mais novo MOBA genérico da “empresa X” e o game recheado de microtransações da “companhia Y”.

Seria terrivelmente triste observar o Steam seguir a mesma direção: um game chegar ao sistema da Valve continua sendo um grande acontecimento para seus desenvolvedores, particularmente para aqueles com pouco dinheiro que têm dificuldade em serem notados. No entanto, com o número cada vez maior de lançamentos da plataforma, está ficando terrivelmente difícil separar o que é bom e o que não é. Ao contrário do que acontecia em um passado recentemente, infelizmente a loja virtual já não tem mais a mesma garantia de visibilidade e qualidade.

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