Caótico e divertido, Deliver At All Costs é o excelente ‘Simulador de Correios’ da Konami - Review em Andamento
Com estética retrô e jogabilidade caótica, Deliver At All Costs é uma surpresa muito bem-vinda para o gênero!

Por Adriano Camacho
20/05/2025, às 05:00

Desde o lançamento de Death Stranding, em 2017, os simuladores de entrega ganharam uma conotação controversa entre muitos jogadores. Enquanto alguns argumentam que a obra de Kojima é pretensiosa e demorada, graças à sua trama complexa e cheia de reviravoltas, outros defendem que seu legado é um marco na história dos jogos. No entanto, embora as aventuras de Sam tenham investido em todo um potencial dramático e narrativo, outros jogos no gênero preferem focar apenas na diversão desmedida, longe do realismo – e, certamente, conquistaram seu lugar entre o público.
Este é o exato caso de Deliver At All Costs, um título bastante inusitado da Studio Far Out Games, e distribuído pela Konami. Nele, conhecemos a história de Winston Green, um jovem entregador de apenas 24 anos, que deve realizar fretes estranhos, e até duvidosos, para pagar as contas do mês. Contudo, sua personalidade estoica e um tanto introspectiva pode esconder um passado de mistérios, apesar da pouca idade.
A seguir, você confere nossa review em andamento de Deliver At All Costs, sem spoilers da narrativa. Como de costume, avaliaremos o título a partir de sua proposta, e o quanto se aproximou de cumpri-la. Até o momento, testamos cerca de 5 horas da campanha, equivalendo a cerca de cinco capítulos.
- Deliver At All Costs foi avaliado a partir de uma chave gentilmente cedida pela Konami, na versão de PC. A máquina utilizada para o teste é um Alienware M16 R1, equipado com um Core i9-13900HX e GeForce RTX 4070, fornecido pela Dell.
Simuladores de entrega são (muito) divertidos
A princípio, a breve introdução citando Death Stranding pode parecer descabida, mas não é por acaso. É verdade, sim, que o título da Kojima Productions tomou o pódio na mente dos jogadores quando o assunto é “Simulador de Correios” – e, a meu ver, injustamente.
Primeiramente, pois a aventura de Sam é muito mais voltada para a formação de laços entre jogadores e a trama apresentada, com misto de combates e um forte drama. Portanto, seu gênero foi batizado pelo próprio Kojima de "jogo de conexão”. Em segundo, e mais importante, é que a associação não representa bem Death Stranding, e nem os demais simuladores de entrega, sugerindo que não poderiam ser tão divertidos somente pelo estilo de jogabilidade.

Muito antes da obra de Kojima ganhar essa infâmia, na verdade, os simuladores de entrega já abordaram o tema de diferentes maneiras, e nem sempre próximo do realismo. É neste nicho, justamente, que Deliver At All Costs se encaixa. Logo o prólogo, em que conhecemos um pouco do mundo em que jogaremos, fica claro a direção narrativa puxada para o bom-humor e o absurdismo. Sem muito rodeio, o apresentador é situado em 1959, em uma ilha remota com uma economia em ruínas e com falta de empregos.
A beleza no caos
Nosso protagonista, a princípio bastante ordinário, é mais um dos jovens que, apesar da genialidade, precisa de um emprego para pagar suas contas. E, direto ao ponto, somos apresentados à mecânica de direção e um dos principais diferenciais da obra: a possibilidade de destruir absolutamente tudo, sem repercussões. Como se nada fosse, é possível dirigir derrubando postes, árvores e pessoas, como se fosse algo bastante cotidiano na região.

Somado ao estilo cartunesco, com animações afiadas em um tom cômico, que me remeteram às paródias de Team Fortress 2, a atmosfera caótica se consolida em uma jogabilidade muito satisfatória e relaxante. Não há barra de vida, não há atropelamentos letais: apenas uma dose absurda de direção perigosa e muitos xingamentos dos pedestres – que, ocasionalmente, também vão tentar nos agredir.
Uma trama modesta, mas cativante
A desordem coordenada, porém, não é sem propósito. Com apoio de um narrador, somos contextualizados aos dilemas da ilha e do protagonista, Winston Green. Enquanto seu passado como um fazendeiro comum foi desafiado pela afeição às ciências complexas da engenharia, a própria ilha parece ser desafiada por empresas extrativistas, que comprometem o bem-estar de seu ecossistema.

Bem costurada, a campanha alterna bem entre momentos cômicos leves e tópicos mais profundos, adicionando cada vez mais elementos que prendem o jogador ao elenco, de maneira muito natural. Somos apresentados à narrativa como se fôssemos moradores da ilha, e, eventualmente, começamos a tratá-la assim. Em poucas palavras, a trama faz pouco esforço para se tornar querida e cativante.
Possivelmente, essa sensação de familiaridade é promovida pela rica atmosfera presente na ilha, tanto pelos visuais retrô, quanto pelas músicas “de época”. Há inúmeros elementos para observar durante os passeios que, como uma boa surpresa, podem ser realizados a praticamente qualquer momento do jogo. Durantes as voltas, é possível coletar itens, conhecer outros moradores e obter recompensas para aprimorar o veículo de entregas.

Embora simples, o sistema de progressão é bastante natural, e acompanha o propósito da trama. Rapidamente, conseguimos nos colocar no lugar do jovem entregador, que sofre quase tanto quanto Peter Parker em seu cotidiano, e vencemos os obstáculos pelo caminho. Entre as missões e capítulos, podemos conhecer mais de sua infância, bem como dos eventos que permeiam seu trabalho.

Curiosamente, nestes momentos, o Deliver At All Costs não tem medo de tocar em tópicos mais sensíveis, ainda que com muito cuidado, e consegue até mesmo comover. Trazendo temas como os riscos do extrativismo, identidade e propósito e, levemente, críticas à exploração da mão de obra, a trama do jogo é o contraste perfeito para sua jogabilidade leve e divertida. É uma combinação quase tão certa como queijo e goiabada!
As pedras no caminho
Apesar do evidente carinho em seu desenvolvimento, Deliver At All Costs encontra alguns percalços em sua entrega. Bem mais de uma vez, acabei me deparando com problemas de jogabilidade que, literalmente, me fizeram recomeçar missões.
Em especial, cito os problemas quando, sem solução, o veículo fica agarrado em uma pedra ou outro obstáculo – algo que, de modo geral, é muito comum em jogos do estilo. No entanto, neste título, não é possível “empurrar”, ou desvirá-lo manualmente para seguir.

Junto disso, também notei que os diálogos presentes no rádio do veículo não são legendados, bem como as frases de efeito e reações dos passageiros. Bastante estranha, a decisão pode prejudicar jogadores que não são fluentes em inglês, ainda que o restante do jogo esteja traduzido e localizado para o português brasileiro.
Por fim, mesmo que se considere o escopo do projeto, orçamento, e até proposta estilística, entendo que as animações e expressões faciais dos personagens possam desagradar jogadores mais exigentes. É evidente que o título foi planejado para a distância isométrica da cidade, em que seus gráficos brilham com o capricho. Porém, essa decisão parece ter comprometido, em partes, a desenvoltura das cenas pré-renderizadas. Felizmente, a dublagem em inglês consegue trazer muita vida a estes momentos, neutralizando boa parte do problema da expressividade.
Até o momento, vale a pena?
Mesmo com apenas cinco capítulos jogados, Deliver At All Costs mostrou o suficiente para provar a que veio. Sua atmosfera cativante e jogabilidade despreocupada convencem o jogador muito antes da narrativa, que, quando emplaca, pode ser até comovente. Embora inusitada, essa combinação funciona muito bem, e dá propósito a um jogo caótico, que nas mãos erradas poderia rapidamente se tornar repetitivo.

No entanto, há mínimos detalhes técnicos a se considerar, como a ausência de legendas em determinados trechos, e os “problemas” em obstáculos intransponíveis. Enquanto o primeiro não pode ser evitado, o segundo felizmente pode, com um pouco de sorte e direção mais efetiva.
Deliver At All Costs mostra que os simuladores de entrega seguem muito divertidos e com uma identidade própria. Mesmo ao ecoar memórias do primeiríssimo GTA (aquele, do PlayStation 1, que quase ninguém jogou) e alguns outros títulos que apostam no caótico, a obra da Studio Far Out Games não precisa de esforços para provar seu charme. Nele, basta assumir o volante, cometer infrações gravíssimas no trânsito sem consequências, e fazer algumas entregas para se divertir.
Pontos positivos
- Gráficos charmosos e belos efeitos climáticos;
- Narrativa modesta, mas cativante;
- Boa dublagem e trilha sonora;
- Jogabilidade despreocupada e divertida.
Pontos negativos
- Ausência de legenda em certos trechos;
- Obstáculos ‘críticos’ podem frustrar jogadores;
- Animações podem parecer datadas para parte do público.
A Review em Andamento de Deliver At All Costs será atualizada com uma pontuação assim que a campanha for concluída.
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