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Capcom Fighting Collection 2 resgata as maiores joias da desenvolvedora em curadoria certeira; review

A Capcom Fighting Collection 2 traz uma seleção de títulos significativamente superior à de sua antecessora, ainda que não tenha interesse em mexer na fórmula; testamos

Avatar do(a) autor(a): Bruno Magalhães Barbosa

14/05/2025, às 12:00

Capcom Fighting Collection 2 resgata as maiores joias da desenvolvedora em curadoria certeira; review

Em tempos em que a preservação dos videogames se tornou um tópico tão importante quanto urgente, a Capcom tem feito um excelente trabalho em conservar a sua história com o lançamento de coletâneas de clássicos bastante competentes. É um modelo que já caiu na graça do público e que, de quebra, serve para reacender a paixão por franquias que há algum tempo não recebem uma atenção especial, como Mega Man e mais recentemente, Marvel Vs. Capcom.

Nos últimos anos, não é de se espantar que a empresa, dona de Street Fighter, preparava o terreno para dar o próximo passo, que era bastante óbvio: se aproximar novamente da SNK, sua principal rival na “Era de Ouro” dos jogos de luta dos fliperamas, nos anos 90. Os sinais estavam muito claros com Terry Bogard e Mai Shiranui chegando ao elenco de Street Fighter 6, além da vindoura adição de Ken e Chun-Li em Fatal Fury: City of the Wolves.

O resultado desse esforço é o lançamento de uma nova coletânea, a Capcom Fighting Collection 2, que acerta em cheio na curadoria ao resgatar alguns dos jogos mais cultuados da jornada da desenvolvedora na virada do milênio — incluindo as suas colaborações com a SNK, cuja ausência foi muito sentida pelos fãs na primeira Capcom Fighting Collection de 2022. O Voxel já jogou esta nova coleção, que chega em 16 de maio para PC e consoles, e conta a seguir como foi a experiência. Confira:

Uma curadoria de respeito

Batendo o olho na lista de títulos disponíveis (oito no total), não é exagero dizer que a Capcom Fighting Collection 2 traz um dos melhores acervos entre as coletâneas da desenvolvedora. Estamos falando de um pacote que traz clássicos atemporais como Capcom Vs. SNK: Millennium Fight 2000 Pro e Capcom Vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001, além dos divertidíssimos Power Stone, Power Stone 2, Star Gladiator e Project Justice. Até mesmo Capcom Fighting Evolution está aqui, embora não seja considerado um jogo tão bom.

Em retrospecto, é bastante curioso perceber que todos esses jogos citados têm algo em comum: a produção ou direção de Hideaki Itsuno, uma das mentes mais criativas do estúdio, responsável também por Dragon’s Dogma, e que deixou a Capcom em setembro do ano passado após mais de 30 anos. Eu gosto de pensar que essa coleção poderia se chamar “Hideaki Itsuno’s Fighting Collection”, deixando muito claro como a sua passagem pela Capcom marcou toda uma geração de jogadores.

O único título que foge dessa regra é Street Fighter Alpha 3 Upper, que também marca presença aqui e se trata da versão definitiva do clássico, com mudanças de balanceamento, correções e personagens como Guile, T. Hawk, Dee Jay, Evil Ryu e Fei Long. Talvez seja o maior “tapa-buraco” da seleção de jogos, ainda mais tendo em vista que Street Fighter Alpha 3 já estava presente em Street Fighter 30th Anniversary Collection, de 2018. Mas também é um reforço do compromisso da Capcom em preservar a sua história.

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A Capcom Fighting Collection 2 traz oito jogos no total, incluindo alguns dos clássicos mais atemporais da desenvolvedora

A mesma receita das coleções recentes da Capcom

Para o bem e para o mal, a estrutura da coleção é idêntica à das últimas que foram lançadas pela Capcom, dispondo de conquistas e um museu com documentos de design escaneados, artes oficiais e conceitos. Até mesmo os encartes que eram usados nas máquinas originais estão aqui, com listas de comandos e outras informações pertinentes para aprender cada um dos jogos.

É uma verdadeira viagem no tempo, embora eu tenha sentido falta de uma abordagem mais “guiada” desse material — não é muito diferente de uma pasta com arquivos depositados, sem muito contexto do seu conteúdo.

A galeria com a trilha sonora de cada jogo também é digna de nota, pois inclui remixes originais feitos pela banda oficial da Capcom, a CAP-JAMS. Há uma quantidade considerável de faixas inéditas e que serão do agrado dos entusiastas, dando uma nova perspectiva sobre alguns dos seus temas favoritos.

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Os manuais consistem nos encartes escaneados das máquinas originais, preservando até mesmo um aspecto que vai além dos jogos da coleção

Todos os jogos da coleção também têm suporte à jogatina online, com netcode de rollback, além de uma fila para partidas casuais e ranqueadas, pareando com jogadores do mundo todo. E claro, também é possível criar salas particulares para convidar seus amigos. Quando eu digo que a estrutura é idêntica, isso também vale para os seus pontos negativos: não é desta vez que os jogadores poderão curtir partidas entre plataformas.

Na minha experiência, descobrir isso foi uma decepção gigantesca, já que me impediu de testar o online da maneira que eu gostaria. Os menus também seguem burocráticos, entregando uma interface confusa e cheia de rodeios para chegar aonde queremos. Embora seja possível pausar o progresso em um jogo a qualquer momento para continuar depois, esse recurso dispõe de um slot único: apenas um progresso pode ser armazenado por vez, considerando todos os jogos da coletânea.  

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É possível curtir as versões americana ou japonesa dos jogos da coleção

Diversão para nostálgicos ou visitantes de primeira viagem

Não há dúvidas de que a Capcom Fighting Collection 2 traz a melhor forma de curtir esses clássicos nos dias atuais. Seja para reviver a infância ou conhecer os títulos pela primeira vez, todos os jogos estão rodando com excelência e dispõem de melhorias de qualidade de vida, incluindo uma sala de treinamento com hit boxes e hurt boxes (o contador de quadros deixa a desejar), níveis de dificuldade e um botão para executar especiais com facilidade. Desta vez, eu também achei os filtros de monitores CRT muito mais agradáveis.

Uma das minhas maiores diversões foi revisitar Power Stone e Power Stone 2,  constatando que são jogos tão bons quanto eu lembrava. As partidas têm um dinamismo que ainda salta aos olhos, com estágios que se transformam em tempo real e obrigam a adaptação dos jogadores. Segue sendo um dos melhores jogos de luta em arena para reunir amigos e se divertir de maneira descompromissada — e foi o título ao qual mais dediquei tempo no período de review.

Também não é surpresa que ambos os Capcom Vs. SNK são o chamariz da coleção e o motivo pelo qual a maior parte dos jogadores deve se interessar por ela. Já naquela época, na virada dos anos 2000, era considerado o crossover dos sonhos. Eu quero acreditar que esse se trata de mais um passo para resolver burocracias e reacender de vez parceria entre os estúdios, permitindo o desenvolvimento de uma sequência. Afinal de contas, já foi dito que ambas as partes têm interesse e a SNK está mais bem posicionada hoje em dia.

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A sala de treino traz uma boa exibição de hit boxes e hurt boxes, mas deixa a desejar nas informações de contagem de frame em comparação com outros jogos de luta

Vale a pena?

Capcom Fighting Collection 2 cumpre um papel muito importante ao preservar mais uma parte brilhante da trajetória da Capcom, mas também demonstra que a empresa não tem muito interesse em mexer na fórmula das suas coletâneas. A ausência de cross-play é muito lamentável, enquanto alguns problemas de interface, presentes nos lançamentos anteriores, também marcam presença aqui.

Apesar disso, os jogos disponíveis fazem dessa uma das melhores coleções da produtora por si só. São alguns dos títulos mais cultuados pelo público e que carecem de sequência nos dias atuais, reacendendo mais uma vez a esperança dos fãs. Seja você alguém que curtia esses games na época ou alguém que está a fim de conhecê-los, Capcom Fighting Collection 2 cumpre muito bem o seu papel de perpetuar esses clássicos e deixá-los mais acessíveis nas plataformas atuais.

Nota do Voxel — 85

Pontos positivos (prós):

  • Reúne alguns dos melhores jogos da Capcom na virada do milênio;
  • Suporte a online com netcode de rollback;
  • Centenas de documentos e artes conceituais na galeria;
  • Melhorias de qualidade de vida.

Pontos negativos (contras):

  • Ausência de cross-play (mais uma vez);
  • O museu podia trazer comentários e curiosidades sobre o conteúdo;
  • Interface burocrática.

A análise de Capcom Fighting Collection 2 foi possível graças a uma chave fornecida pela assessoria de imprensa. O lançamento do jogo está previsto para 16 de maio, com versões para PC (Steam), PS4, Xbox One e Nintendo Switch. Os jogos estão em inglês ou japonês, enquanto a interface da coleção tem suporte a PT-BR.


Avatar do(a) autor(a): Bruno Magalhães Barbosa

Por Bruno Magalhães Barbosa

Especialista em Redator

Jornalista freelancer. Graduado em Letras, trabalha com games já há mais de 14 anos — com textos publicados em grandes portais. É entusiasta da língua japonesa e de jogos de luta/retrô.


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