Cyberpunk Edgerunners: um espetáculo belo, brutal e estonteante

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Quer você goste ou não de Cyberpunk 2077, que há dois anos passa por altos e baixos desde seu lançamento, é inegável que o mundo que a CD Projekt Red construiu em volta do universo de Mike Pondsmith é rico, cheio de referências incríveis e muito crível no gênero de cyberpunk.

Por conta disso, o anime Cyberpunk Edgerunners (ou Cyberpunk Mercenários na tradução brasileira) é um prato cheio para qualquer fã do game ou do gênero, já que usufrui dos elementos visuais e fantasiosos do game, mas sem qualquer tipo de restrição para mecânicas, gameplay ou perspectiva em primeira pessoa.

Agora, mais de um ano depois do anúncio do projeto que reuniria Netflix, CD Projekt Red e Studio Trigger, o Voxel foi convidado a assistir todos os 10 episódios da série e traz um review completo e sem spoilers para você. Confira!

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Visualmente brilhante: um espetáculo animado de violência

Não tem como negar: Studio Trigger é sinônimo de qualidade há um tempo e, para muitas pessoas, esse era o gancho que mais chamava atenção no projeto de Cyberpunk Mercenários. O anime é muito impressionante visualmente, no bom e velho estilo 2D, cheio de batalhas sangrentas, vistosas e recheadas de efeitos especiais. Esse não é um anime adolescente ou para crianças.

Todo o conjunto audiovisual do anime é incrível e colocar qualquer defeito é querer achar pelo em ovo. Assim como Kill la Kill e outras obras do Studio Trigger, pode esperar por animações muito fluidas e efeitos dramáticos em tela, dando vida à rotina brutal dos mercenários de Night City.

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E, por falar na cidade distópica capitalista, ela vive e respira junto com seus personagens. A equipe se empenhou bastante em criar o clima perfeito para a trama, oferecendo vislumbres das ruas de Santo Domingo até o centro da cidade, com os hologramas na praça da Arasaka. Há diversas localizações muito bem representadas no anime e que fogem do padrão monocromático e decadente que estamos acostumados, explodindo a tela com tons vibrantes e de neon.

Sem dúvidas, é muito interessante ver outras abordagens ao gênero cyberpunk, fugindo da estética que já vimos em obras como Ghost in the Shell e Akira, por exemplo. Vale reforçar que Cyberpunk Mercenários não reinterpreta a obra de Mike Pondsmith e segue os pilares construídos pela CD Projekt Red. Portanto, aqui e ali vemos rapidamente vislumbres de paisagens familiares para quem jogou o game.

As cenas de batalha são recheadas de balas, modificações cibernéticas, movimentos fluidos e recheados de frames crocantes, execuções brutais e muitos elementos marcantes de Cyberpunk 2077. Muitos elementos do game dão as caras por aqui e são bem-representados em 2D, como as gangues, personagens e muito mais.

Se você já assistiu aos trailers, já sabe mais ou menos o que esperar: qualidade similar aos animes top tier dos últimos anos e um espetáculo cheio de cenas marcantes. A parte legal é que a trilha sonora parece forjada para o anime, pegando bastante inspiração das músicas do game e colocando algumas novas bem legais, incluindo a abertura e encerramento.

Uma das características excelentes do conjunto é a atenção à dublagem, seja qual for o idioma de sua preferência. Os áudios brasileiros contam com vozes famosas, a trilha japonesa (e original) não deixa a desejar e até a dublagem americana (para àqueles que desejam uma experiência mais próxima do jogo de consoles e PC) não faz feio, trazendo Giancarlo Esposito (Breaking Bad, The Mandalorian e Far Cry 6) no papel do canal Faraday.

Uma vida de (cyber)cão: trama madura e que espanta clichês

Quando fizemos nosso preview de Cyberpunk Mercenários, imaginei que a trama seguiria uma mescla de animes shounen, com um protagonista adolescente que subitamente ganha um recurso especial que o destaca dos demais, incluindo os mercenários que encontra no caminho, e deve provar seu valor por suas características únicas. Quem nunca viu esse artifício narrativo em um anime, não é mesmo? Fiquei feliz em ser surpreendido que essa não foi a abordagem do Studio Trigger.

Nos 10 episódios, vemos a saga de David Martinez, um jovem pobre de Santo Domingo, após um acidente na família que o deixa sozinho e o força a implantar um cromo ultrassecreto militar que garante habilidades sobre-humanas, algo que ele vai utilizar para ganhar a vida como um cyberpunk no mundo de cão que são as ruas de Night City.

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Por se tratar de uma trama de um jovem ainda no colégio, tive a impressão que o enredo levaria para o clássico “garoto da escola que deve conciliar duas vidas”, o que não seria ruim e funciona bem nos primeiros episódios, mas felizmente fui agraciado com uma excelente evolução de acontecimentos que posiciona o anime em um outro patamar, fugindo de diversos clichês e trazendo uma verdadeira narrativa que poderia facilmente ser uma das grandes missões do game.

É neste quesito que Cyberpunk Mercenários mais se destaca: em vez de ser somente uma produção que carrega um nome forte, ideal para expandir para novas audiências, ele apresenta uma história madura e digna de grandes produções. A espinha dorsal do enredo se sustenta muito bem e destaca um elenco cativante para acompanhar a trajetória de David.

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No desenrolar dos 10 capítulos disponíveis na Netflix, não temos um grande vilão orquestrando tudo pelas sombras ou uma figura antagônica majoritária que compele o grupo a tomar ações na trama, apesar existir alguns personagens e eventos agem contra o protagonista e sua equipe. A parte legal é que, desde o começo, o anime age perfeitamente como um recorte da rotina dura que acontece nas ruas e corporações deste universo.

Um dos pontos principais dos eventos que ocorrem nos episódios é a discussão sobre a humanidade em pessoas que usam cromos ao extremo, modificações corporais que garantem habilidades e que podem retirar o fator humano da equação, os tornando cyberpsicopatas. No meio de tudo isso, nosso protagonista, David, é uma pessoa especial que detém a capacidade de resistir os efeitos colaterais muito melhor que qualquer outro.

Para enriquecer mais o pano de fundo, a trupe de Maine (líder da gangue), com a trilha-redes Kiwi e Lucy, a atiradora Rebeca, o motorista Falco e muitos outros, cria um quadro diverso que auxilia bastante o espectador a simpatizar com suas histórias e objetivos. Certamente, este não é um produto qualquer só para servir de marketing para o jogo e isso é um ponto extremamente positivo.

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Excelente para otakus, perfeito para os fãs

Apesar de Cyberpunk Mercenários ser um anime com sua própria história e não depender dos eventos do jogo para funcionar, isso não quer dizer que não haja conexões para àqueles que prestarem bastante atenção nos elementos que surgem durante o roteiro. E pode acreditar: há bastante deles.

Não vou dar spoilers, mas muitos personagens que vemos no decorrer do game dão as caras, assim como lugares importantes, itens e easter eggs legais para quem conhece o universo. Como dito anteriormente, o anime é feito em cima do título da CD Projekt Red e não é uma reinterpretação: em outras palavras, os efeitos sonoros, interfaces e equipamentos são todos os que vemos em Cyberpunk 2077.

Para quem é fã do game ou de seu universo, ou seja, um bom conhecedor e com percepção aguçada, é fácil sacar tudo o que está acontecendo na tela o tempo todo: coisas como neurodanças, cacos, cromo, canais, atravessadores, trilha-redes, edgerunners e muito mais; é fácil entender o enredo sem qualquer problema.

Contudo, me peguei perguntando se pessoas que não tiveram a chance de jogar o game vão compreender tão facilmente tudo que o anime joga na trama, já que pouquíssimas coisas são explicadas e dependem bastante da compreensão contextual. Outras referências, como as gangues Garras de Tygre, e locais, como o Bar da Lizzie, também podem passar batido em sua importância e significados nos acontecimentos da história.

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A parte boa é que, na minha percepção, por mais que essas referências sejam ótimas, não vão retirar a diversão para novatos no universo distópico da franquia. Certamente ter algo melhor explicado em alguns momentos não seria ruim e o anime parece já contar com o conhecimento do espectador, não há nada de suma importância que deixe o roteiro raso para um marinheiro de primeira viagem.

Vale a pena?

Devo confessar que Cyberpunk Mercenários (ou Cyberpunk Edgerunners) me surpreendeu de muitas maneiras, desde seu visual belíssimo até sua trama que foge da previsibilidade. Ao começar a assistir, esperava algo mais protocolar: elementos narrativos de um shounen qualquer que seria gostoso de consumir com as referências do universo do game. O que eu encontrei foi outra coisa: uma história extremamente madura, cheia de violência, referências e de altíssima qualidade que me fisgou do começo ao fim.

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Cyberpunk Mercenários passa longe de ser uma trama adolescente qualquer e muito menos “só mais um anime” no mar de produções da atualidade. Caso você seja um otaku de plantão, saiba que Edgerunners está muito mais próximo de uma obra como Devilman Crybaby do que um Jujutsu Kaisen: uma obra com história fechada e que conta um pequeno pedaço de uma distopia futurista.

E, se tudo isso não é o suficiente para abocanhar sua atenção, saiba que é um anime de alto valor de produção, cheio de cenas de ação lindíssimas e vistosas que vão marcar em 2022. Portanto, mesmo que a busca seja por uma diversão boa e recheada de batalhas incríveis, você ainda tem muito a ganhar.

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