Exclusivos: relíquia do passado? [Coluna]

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Imagem: Arte da capa de Uncharted 4: A Thief's End

Jogos exclusivos para determinadas plataformas existem desde que a indústria de jogos eletrônicos nasceu. É um tópico sensível até hoje, visto que é inevitável tocar nele sem que discussões acaloradas acabem acontecendo sobre qual plataforma tem os melhores jogos. E, bom, vamos ser sinceros: essas discussões são bem divertidas. Pode parecer até que a existência de exclusivos é uma característica imutável da indústria. Seria esse o caso?

(Fonte: Nintendo/Reprodução)

Primeiro, vamos considerar as razões que nos trouxeram à situação que temos hoje. A principal razão para existência de exclusivos é vender hardware. Sim, é possível argumentar que, ao focar em uma única plataforma, os desenvolvedores conseguem um aproveitamento maior dos recursos disponíveis e isso, por sua vez, pode resultar em um jogo melhor.

Entretanto, esse fator é secundário, dado que nem sempre os exclusivos tiram proveito desse potencial. Outra justificativa para exclusividades são os casos em que um determinado hardware oferece alguma funcionalidade única e, dessa forma, ports para outras plataformas comprometeriam a visão original. Entretanto, esse também é um fator secundário — ainda mais nos últimos anos, quando até a Nintendo renunciou a maior parte dos gimmicks.

Percebam que o principal motivo para a existência de exclusivos é algo que não traz benefícios diretos ao consumidor, enquanto os outros motivos são inconsistentes ou cada vez menos relevantes. Além disso, enquanto boa parte do público fica preocupado em discutir qual plataforma tem os melhores jogos e os lucros das fabricantes de hardware aumentam, o problema real é ignorado.

(Fonte: God of War/Reprodução)

Qual é esse problema? Exclusividade significa jogos menos acessíveis. Afinal, nem todos têm condições de ter mais de uma plataforma em que jogar. Muitas pessoas, em resposta a essa situação, simplesmente dizem para escolher a plataforma com cuidado. É um bom conselho, evidentemente, mas cabe um questionamento. Afinal, não precisamos tratar a existência de exclusivos como se fosse um dogma. E se fosse diferente? E se vivêssemos em um mundo sem exclusivos?

Ao levantar a possibilidade de um mundo sem exclusivos, o primeiro pensamento que vem à cabeça é uma espécie de pânico. Afinal, muitos dos melhores jogos eletrônicos da história são exclusivos. Falar de um mundo sem exclusivos pode soar como uma rejeição a jogos como God of War, The Legend of Zelda ou Halo. Que fique claro: independentemente do que o futuro nos reserve, nada irá apagar as contribuições desses jogos (e de muitos outros) à indústria, muito menos as memórias que temos deles.

Dito isso, o fim dos exclusivos representaria uma mudança interessante. O cenário que temos hoje limita a perspectiva da maior parte dos jogadores, especialmente dos jogadores com menor poder aquisitivo. Importante lembrar que jogos eletrônicos há muito tempo deixaram de ser um nicho, mas todo possível avanço na democratização da mídia deveria ser incentivado. Não há como superestimar a importância que diferentes perspectivas têm na evolução de qualquer mídia, tanto comercial quanto artisticamente. Essas perspectivas, porém, precisam ser alimentadas e é muito fácil se isolar em uma bolha. A quebra de exclusividades definitivamente ajuda a estourar essa bolha.

(Fonte: PlayStation/Reprodução)

Há outro argumento a favor do fim da exclusividade: com uma competição maior, as desenvolvedoras e produtoras precisariam se esforçar mais e investir mais para se destacar. Esse fator poderia compensar eventuais quedas de qualidade causadas pela diluição de recursos ao suportar várias plataformas. Entretanto, aí esbarramos em um problema: a competição mais acirrada prejudicaria desenvolvedoras menores, que já não têm muitos recursos. Dessa forma, podemos nos perguntar: valeria a pena abrir mão das exclusividades?

Um processo como esse representaria uma grande ruptura na indústria. Baixas seriam inevitáveis. Muitas desenvolvedoras e muitas produtoras fechariam as portas. As sobreviventes certamente passariam por uma transformação profunda. Não obstante, considerando os benefícios da democratização do acesso a jogos, talvez seja um processo necessário no longo prazo. Na realidade, talvez seja até inevitável.

(Fonte: Steam/Reprodução)

Nos últimos anos, tem sido cada vez mais difícil encontrar jogos exclusivos para uma única plataforma. A Microsoft já não lança jogos exclusivos para uma única plataforma, preferindo lançamentos para consoles e PCs (muitas vezes simultaneamente). A Sony também está se movendo nesse sentido e tem trazido cada vez mais jogos first-party para o PC. Até a Nintendo tem lançado versões de suas propriedades intelectuais para outras plataformas — destaque para o recente Pokémon Unite, que terá inclusive cross-play entre Switch e celulares. Aliás, o advento e constante crescimento de jogos com cross-play e cross-save também são evidências de que cada vez menos importa a plataforma em que o jogador está.

Ainda estamos longe de ver um Uncharted rodando em um Xbox ou de um Mario rodando em um PlayStation, mas temos casos como Minecraft Dungeons, desenvolvido por um estúdio interno da Microsoft (em conjunto com a Double Eleven) e lançado para a maior parte das plataformas disponíveis atualmente. Então, há um movimento grande acontecendo, um movimento que tem tornado exclusividades no sentido literal algo cada vez mais raro.

(Fonte: Nintendo/Reprodução)

É impossível dizer com certeza no que isso tudo resultará. É provável que o paradigma atual se mantenha por um bom tempo, já que ele representa uma forma de ampliar o acesso do público a diferentes jogos sem que cada fabricante de hardware abandone seu território. As barreiras que enfrentaríamos para ir além disso são muito grandes (em outras palavras: há muito dinheiro envolvido). Seja como for, não há como voltar ao que era antes. Então, é importante que não fiquemos presos a dogmas e que tenhamos em mente o que é melhor para nós, os consumidores.

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