Coletivo I Hate Flash celebra a popularização das fotos ingame

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Imagem: Square Enix

Nos últimos anos virou tendência ver um modo fotografia em praticamente todos os grandes jogos do mercado. De Death Stranding ao novo Final Fantasy VII Remake Intergrade, permitir que o jogador brinque de fotógrafo acabou virando quase que uma obrigação entre os jogos triple A.

Mas o que fotógrafos de verdade acham desse recurso? Para descobrir, conversamos com Luiz Sontachi e Bléia Campos do coletivo de produtores de conteúdo I Hate Flash, que fazem um trabalho muito legal com fotografias in game. Confira a seguir como foi o nosso papo:

Como surgiu o interesse de vocês pelas fotografias ingame? Como se aproximaram dos jogos na sua produção de conteúdo?

Luiz Sontachi: Acho que surgiu por uma junção de duas coisas que gosto muito, fotografar e vídeo games. Já tinha brincado um pouco antes, mas com o GTA 5 que acho que comecei a levar mais a sério. Comecei a jogar online com um amigo, que também é fotógrafo, e a gente foi pirando no que a gente podia fazer e quando vi, já era.

Bléia Campos: Comecei a praticar mesmo com a quarentena, quando finalmente comprei meu Playstation 4, ainda estava estacionada no PS3. Já acompanhava pessoas que fotografam Ingame, como o Leonardo Sang, que é uma referência para mim., ele tem vários trabalhos autorais e também para empresas e eventos de game. Já tinha ouvido falar de trabalhos feitos no GTA 5, que é um jogo de mundo aberto fantástico e com esse recurso da fotografia no celular dos personagens.

Meu interesse vem também por estar sem a minha rotina, que cada dia era de um jeito, sendo fotógrafa freelancer sempre estava viajando, cobrindo algum evento/festa ou editando meus materiais. Então, esse ritmo foi completamente freado e eu voltei a ter mais tempo e, consequentemente, jogar mais. Eu já tinha jogado o jogo do Spider-Man – que sempre gostei do personagem, do fato do Peter Parker ser fotógrafo e tal – e adorei, foi o primeiro que comprei quando também comprei o Playstation 4.

Quando o jogo disponibiliza, eu passo muito tempo no modo fotografia, também tiro muito print de momentos maneiros. Peguei na época que comprei meu console também o Death Stranding, que é um jogo com modo fotografia fantástico. Nele dá para fazer muita coisa, mudar a expressão e posição do personagem tanto do BB quanto do Sem Bridges, então uma cena que era só um congelamento, um pause, se torna a sua interpretação daquilo podendo regular a câmera, profundidade de campo, matiz e saturação da cena, etc. Então esse modo acaba me fazendo gastar ainda mais tempo em jogos, do que eu gastaria de só fazer as missões extras e a história.

Quando comecei a fazer essas fotos eu me animei e quis editar elas no meu computador. Comecei a mexer nelas numa espécie de pós-produção, corrigindo tom, contraste, crop, porque as vezes você quer dar outra nuance para o momento que registrou dentro do jogo. Com essa liberdade de mexer nas imagens cada vez maior você se torna “autor” daquilo também, daquela interpretação do jogo.

Então, para mim, veio muito disso, de começar a postar algumas fotos que eu fiz no modo fotografia de jogos que eu estava jogando. Lembro que fiz um carrossel no meu Instagram com fotos do The last of us, Homem-Aranha, FFVII Remake, God of War. Esse é outro jogo fantástico, que eu nunca tinha zerado, apenas jogado na casa de amigo, e quando peguei já estava atualizado com o modo fotografia (que infelizmente só reparei no final do jogo) então também fiz algumas fotos dentro dele. Essa postagem teve uma repercussão muito maneira! Eu me reaproximei do mundo dos games demais com a quarentena, mas sem abandonar meu outro grande “vício” que é a fotografia.

Qual a visão de vocês sobre o atual mercado de videogames? Qual demografia esperam atender trabalhando com as fotos ingame?

Luiz Sontachi: O mercado de games é um dos maiores e que mais cresce hoje, e com a pandemia deve ter ficado mais forte ainda. Espero que chegue em todo mundo na real. Porque em quanto mais gente chegar, mais vai ter um investimento das empresas nos modos de fotografia, e ai tem mais diversão para a gente.

Bléia Campos: Creio que mudou muito esse mercado. Estou com 33 anos, peguei lá do começo essa evolução, já joguei desde o Mega Drive soprando fitas pra pegar direito na TV até jogo de disquete no PC. Cresci com os videogames. Sempre gostei também de portáteis, vivi a era do Pokémon. Entendo que sempre foi um mercado caro, que está cada vez mais especializado, mais bonito, com mais megaproduções muito bem-feitas.

Acho que o mercado atualmente está muito aquecido, muita gente está de olho. Mas também acho que tem suas questões. Assisto muitas notícias de games, gosto do canal do Davy Jones, GAMEPLAYRJ, que tem notícias diárias desse mercado então sei que existem muitas coisas difíceis, exploração tanto do consumidor como de desenvolvedores, jogos que não são completamente polidos que são vendidos a preços absurdos e chegam precisando de patch, mas você pagou um preço muito caro para um jogo que não muitas vezes não entrega o valor pago, a meu ver.

O exemplo mais atual foi o caso do Cyberpunk 2077, que comprei antecipado e devolvi. Gastei R$300 em uma promessa absurda e me entregaram um jogo quebrado. Isso é frustrante, mas é um mercado que eu torço muito a favor e quero me envolver profissionalmente cada vez mais.

A demografia é muito ampla, tem pessoas da minha geração, da anterior, acima de mim, muito mais novos, que tem interesse pelo universo do videogame. Porque não é só o fato de se ter o console e jogar, às vezes você quer saber das notícias, não jogar, mas assistir alguém jogando. A fotografia Ingame ainda não é expressiva no sentido de estar amplamente disseminada, mas tem muita gente fazendo trabalhos belíssimos, com interpretações lindas. Para mim, é uma arte.

E quanto a trabalhar diretamente com fotografia Ingame, acredito que ainda é algo bem restrito, um nicho. No sentido que as empresas ainda não acreditam que isso traga mais ou menos vendas, mas eles sabem o poder de interpretação das fotos que se disseminam pela internet, pela comunidade gamer. Agora, não sei se um profissional de eventos, no mundo real como eu, ganharia tanto trabalhando com fotografia Ingame. Espero que um dia sim, e que me contratem, porque estou pronta.

Vocês acham que o modo foto ingame serve para ensinar fundamentos de fotografia para amadores? Há algo para se aprender ali puramente ao brincar com as ferramentas?

Luiz Sontachi: Acho que serve tanto para amadores como para profissionais. Porque com certeza sempre dá para aprender alguma coisa de uma experiência diferente. Muitas vezes a gente acaba ficando muito preso num modo de pensar a fotografia e, ali dentro do jogo, você pode explorar de jeitos diferentes.

Às vezes por ter mais tempo e olhar com mais calma tudo que está acontecendo, às vezes justamente pelo contrário, de repente acontece algo e você tem que pensar rápido. No modo foto em si, meio que rola uma suspensão do tempo, então você pode explorar ângulos, luzes e tal de uma mesma cena e levar também para fora do jogo.

Bléia Campos: Se você se interessa por esse modo e não é um fotógrafo profissional você vai acabar se inspirando a ousar mais em uma fotografia mais especializada. Penso assim, todos os celulares têm câmera e as pessoas acabam absorvendo noções básicas de fotografia, mesmo que não saibam os nomes técnicos do que estão fazendo, acabam mexendo e se divertindo e porque não aprendendo. Na fotografia Ingame é assim também, se a pessoa vai praticando acaba tendo noções de fotografar com o tempo.

Então esse treino de captura de momento, as vezes é muito mais especial e interessante do que o fato da pessoa saber o que é aquilo que ela está fazendo tecnicamente. Só um adendo: existem jogos que são voltados, de alguma maneira, para o aprendizado da fotografia. Conheci um jogo que foi feito nesse sentido chamado Umurangi Generation. Nele você é Maori, um fotógrafo freelancer que tem uma série de desafios para fazer e entregar para ganhar um valor x até o final do dia além de evitar alienígenas num futuro distópico.

Como avaliam a evolução da direção de arte nos videogames através da gerações, e o que acham das cores e visuais nos jogos modernos? Preferem tirar fotos em jogos mais realistas ou mais cartunescos?

Luiz Sontachi: Nossa, é surreal a evolução da direção de arte! Claro que tem a evolução da tecnologia mesmo que permitiu muita coisa, mas você percebe que cada vez mais tem um cuidado maior com a arte dos jogos. Tanto na história principal, quanto no mundo inteiro ao redor. Os detalhes, objetos, a vida que rola em torno do jogo todo.

Eu fotografo todos que posso, mas acho que por ter um investimento maior, tanto em dinheiro como em arte, os jogos realistas acabam tendo mais possibilidades de fotografar.

Bléia Campos: Acho absurda a evolução, virou uma produção hollywoodiana. Tem jogos que são melhores que muitos filmes de ação que estão por aí, é um show de fotografia. Concordo que às vezes até se perde nisso, o jogo é lindo, mas não tem um roteiro ou uma gameplay tão boas . Para mim, jogos simples ainda conquistam muito. Eles são lindos, têm pixel art, aqueles meio cartoon, point and click, amo todos.

Acho que minha versatilidade vem talvez pela minha geração, se eu fosse geração Z não sei se minha interpretação seria a mesma talvez. Eu sou aquela pessoa que procura os making offs porque acho muito interessante entender como são feitos esses novos jogos. E é surreal.

Para mim, tanto faz tirar foto no cartunesco ou realista. Claro que o realista dá mais impacto, tem uma fotografia mais emocionante. Mas também me aventuro dando prints em jogo 2D, desenhados, cartunescos, pixel e acho que seria muito interessante se tivessem o modo fotografia Ingame mais elaborados. O Cyberpunk 2077 me decepcionou no modo fotografia, era tudo meio embaçado, meio flicado. Já um jogo como Ghost of Tsushima entrou no meu radar pelo que vi de fotos ingame.

Entre todos os jogos com modo foto ingame, qual é o favorito de vocês tanto como jogo em si como pelas ferramentas de fotografia que ele apresenta?

Luiz Sontachi: Que difícil! Pude jogar um pouquinho do Cyberpunk 2077 e gostei bastante, mas não deu para explorar tanto. Gosto de usar tudo que der para fotografar nos jogos. Dos jogos que tem modo foto acho que os que mais aproveitei por enquanto foram os Assassin's Creed Origins, Odyssey e o Red Dead Redemption 2.

Mas tem muitos jogos que ainda não tem modo foto, e aí a gente dá aquele jeitinho. No Fallout 4, escondia o HUD pra fotografar, no Destiny usava o momento do pulo ou de troca de arma, no Tomb Raider usava objetos ou paredes para forçar a visão da câmera e esconder a personagem.

Bléia Campos: Com certeza Death Stranding (talvez porque ainda não peguei o Ghost of Tsushima ou o Red Dead Redemption 2). O Death Stranding com certeza foi o primeiro que pude mexer tanto nas emoções como nas poses em cenários que já são lindos por si só, que são espetaculares. É tudo muito bonito!

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