Cyber Shadow é uma passagem só de ida à era dos jogos impiedosos

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Quem vivenciou os tempos de ouro das gerações 8 e 16-bit, entre os anos 1980 e 1990, sabe bem o que esperar de Cyber Shadow. Nos dias de hoje, numa época em que os jogos têm seletores de dificuldade para amenizar desafios, o novo game de plataforma do estúdio finlandês Mechanical Head Studios vai na contramão da modernidade para prestar homenagem à era dos games sádicos e impiedosos.

Publicado pela Yacht Club Games (produtora responsável pela franquia Shovel Knight) e idealizado por um único desenvolvedor, Cyber Shadow nos remete à infância, à geração em que o ato de terminar um jogo era questão de persistência. Lembro bem de nunca ter sido capaz de fechar Super Ghouls 'n Ghosts, Hagane: The Final Conflict e Contra III: The Alien Wars (todos obtidos por empréstimo numa extinta locadora), embora tenha investido dezenas de horas neles, talvez centenas. Mesmo sem tê-los zerado, eles ainda figuram entre os melhores títulos do SNES que eu experimentei.

Para bem ou para mal, Cyber Shadow proporciona uma experiência à moda antiga, custosa, daquelas que exigem paciência e agilidade. Ele despertou o mesmo sentimento que conheci nos games noventistas supracitados: uma mistura de frustração e realização pessoal. Após mais de 300 mortes registradas no contador (e contando), enfim posso relatar com propriedade o quanto eu sofri. Vamos às impressões.

Diversão noventista e crocância visual

Estive encantado por Cyber Shadow desde o começo. Trata-se de um jogo de plataforma em side-scrolling com uma estética pixelada, de sprites feitos à mão, que faz jus aos principais títulos do gênero ao qual pertence. Antes de me aprofundar nos detalhes desta análise, gostaria de esclarecer um ponto: Cyber Shadow é um ótimo game old-school, mas gosta da ideia de se abster de elementos modernos. Na prática, isso pode não ser bem o que você está buscando, já que ele não acrescenta nada de novo à fórmula que conhecemos.

Fonte:  Voxel 

Aqui você assume o papel de Shadow, o único sobrevivente de seu clã após um desastre ter assolado a cidade de Mekapólis. Com a ajuda do robô L-Gion, o herói deve resgatar habilidades e ninjutsus de seus parceiros perdidos para poder enfrentar Dr. Progen e seu exército sintético. A meu ver, a narrativa não é uma das principais características do jogo, mas traz diálogos interessantes, ainda que pontuais, e um rico universo, abarrotado de descrições para explicá-lo. Os textos, inclusive, estão em português do Brasil.

A atmosfera espelha-se em Super Metroid, clássico da Nintendo de 1994, e Shinobi, franquia da SEGA esquecida no tempo, e foca no senso de descoberta. Aliás, a paleta de cores das fases iniciais me levou de volta à aventura da heroína Samus Aran – deu até para saciar a saudade. Conforme você avança, os cenários ganham cores vibrantes e biomas diferentes, que saltam entre áreas industriais, laboratórios e templos herdados do Japão feudal, cada qual com uma identidade visual única, atraente à sua maneira.

Fonte:  Voxel 

Sangue, suor e muito pixel brotando na tela

Contrariando a tendência do mercado, Cyber Shadow obedece à estrutura linear e, para surpresa de muitos, não é um metroidvania. Você pode revisitar fases quando quiser e quantas vezes desejar para acumular pontos e desbloquear segredos até então inacessíveis, mas o mundo não está interconectado. O backtracking, na verdade, é opcional, sendo necessário somente a quem pretende concluir 100% dos mapas.

As mecânicas de gameplay têm nítidas influências de Ninja Gaiden e demandam movimentos precisos, seja para vencer inimigos com combinações acrobáticas ou ultrapassar obstáculos escabrosos. A jogabilidade encontra um ritmo particular, diria que até um pouco mais cadenciado do que gostaria, em vez de correr a 180 por hora, nos moldes de um The Messenger. À medida que você progride pelo mundo, novas habilidades são desbloqueadas e colocadas à prova tão logo forem adquiridas.

Fonte:  Voxel 

Os primeiros estágios são dedicados a aprender e dominar técnicas novas, como a esquiva, o pulo duplo e o corte transversal. Porém, da quinta fase em diante, isto é, na metade do jogo, a dificuldade aumenta de forma brusca. A partir daí, as fases introduzem desafios adicionais às partes de plataforma, fazendo com que o jogador precise usar e abusar de suas habilidades de shinobi. Goste você ou não, a curva de aprendizado não é nada sutil – e isso não é bom para ninguém.

Por mais estranho que pareça, os momentos mais tranquilos da jornada são as batalhas contra os chefes, refrescos aos trechos de plataforma. Elas exigem estratégias distintas, é claro, mas todos os bosses têm padrões de ataque fáceis de serem lidos e memorizados. O ponto alto é que as criaturas possuem animações caprichadas e design primoroso, o que contribui para que os encontros sejam sempre divertidos.

Fonte:  Voxel 

Checkpoints distantes e power-ups bem-vindos

Além da dificuldade elevada embutida em cada zona, há outro aspecto que complica ainda mais o progresso: os pontos de salvamento. Não há generosidade por parte do estúdio, então a distância entre o ponto A e B, sem checkpoints, é exagerada. Um único movimento errado, sem sincronia, fará com que Shadow, o herói, recomece de uma área muito distante. Morreu? Faz tudo de novo. Em resumo, Cyber Shadow vai testar a paciência e obrigá-lo a jogar melhor, mesmo que isso resulte em frustração.

Como um tipo de facilitador, os portais dos checkpoints permitem que alguns recursos especiais (em um esquema de power-ups) sejam destravados para ajudá-lo a superar setores específicos. Você pode, por exemplo, usar os pontos de inimigos abatidos para habilitar drones e amplificar o poder de ataque, assim como munir-se de escudos a fim de ganhar defesa. Essas técnicas temporárias são bastante úteis ao longo das fases, porém devem ser renovadas em estações de salvamento recém-descobertas, criando uma dinâmica interessante de gerenciamento.

Fonte:  Voxel 

Vale a pena?

Cyber Shadow é uma passagem só de ida à era dos jogos impiedosos, de quando games eram concebidos sem a preocupação excessiva de atrair gregos e troianos, isto é, jogadores casuais e experientes. Não há como negar que a Mechanical Head Studios confeccionou uma obra à altura de suas inspirações, embora falte um toque de modernidade e robustez. A dificuldade alta pode comprometer a diversão, sim, mas garanto a você que a persistência irá recompensá-lo com amplas doses de nostalgia.

Imagem: XBOX Game Pass
Imagem: Tecmundo Recomenda

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