Little Nightmares II assusta pela qualidade e competência

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Imagem: Little Nightmares 2

A cada ano que passa fica mais complicado aterrorizar as pessoas, seja com um filme, uma série ou com um game de terror. Com a realidade do nosso mundo, de pandemias, assaltos e desigualdades sociais, os diretores tentam quebrar a cabeça para achar uma nova fórmula. Desde os primeiros sustos que eu tomei, com as maravilhosas películas de Alfred Hitchcock, os anos foram tratando de apaziguar nossos lados mais assustadores.

Alguns cineastas tiveram muito êxito nisso, como Tobe Hooper e Sean Cunningham, que nos apresentaram as obras primas O Massacre da Serra Elétrica (1974) e Sexta-feira 13 (1980). Já nos videogames, houve tentativas certeiras, como os primeiros jogos da série Silent Hill e o clássico Resident Evil. Recentemente, tivemos o sucesso das franquias Amnesia, Dead Space e Outlast.

Little Nightmares chegou ao mercado em 2017. Com uma proposta de suspense, misturando puzzles e aventura, conseguiu o seu merecido destaque  – não necessariamente assustando os jogadores, mas incrementando um estilo que se tornaria marca no fim da década passada.

Alimentado por Limbo e Inside, o título do Tarsier Studios e da Bandai Namco agradou em cheio aos fãs de videogame. Devido ao seu grande sucesso, não poderia ser diferente a continuidade da franquia. É aqui que nos encontramos, em Little Nightmares II.

Companhia certeira

A história começa com Mono, um jovem garoto que acorda sozinho em uma floresta e tenta desvendar o porquê de o mundo se tornar podre. Isso mesmo, podre. Totalmente escuro, cheio de matança, larvas, moscas, carnes estragadas e televisores. Mas como assim, televisores?

A criança perdida no meio de farrapos tem um artefato curioso, um saco de papel na cabeça, com dois furos na altura dos olhos para ver melhor. Lógico, também para se “proteger” do mundo afora, cheio de dúvidas, incertezas e monstros aterrorizantes.

Com o passar da aventura, Mono encontra Six, nossa pequena protagonista do primeiro jogo da série. Juntos, eles serão os grandes responsáveis por mostrar todo o pano de fundo que cerca Little Nightmares II. Uma pena que não podemos jogar com a garota, ou com um amigo, cada um controlando um personagem.

Assim como no primeiro game, o enredo não é tão desenvolvido no início, gerando muitas dúvidas e confusões sobre o que realmente está acontecendo no mundo. Ele se perde no meio de quebra-cabeças e principalmente durante as cenas de terror.

Esse é um detalhe importante, pois Little Nightmares II acaba deixando de lado o seu grande objetivo, que é contar uma história. Em vez de desvendarmos o que aconteceu no mundo, vemo-nos a todo instante tentando fugir de inimigos e situações perigosas.

Independentemente disso, a colcha de retalhos que se forma deixa o enredo instigante e pouco enjoativo, dando vontade de terminá-lo de uma só vez.

Novidades muito bem-vindas

Deixe de lado a ideia de que teremos apenas mais um jogo para desvendar caminhos e superar obstáculos. Por mais que tenham sido inseridos de forma suave, em Little Nightmares II teremos combates, que ajudam muito os nossos amiguinhos.

Batalhas simples, mas desafiadoras e que absorvem de forma excelente as mecânicas polidas e bem implementadas da empresa. Você poderá utilizar martelos, canos e tudo o que estiver pelo caminho para interagir com o cenário e para destruir os inimigos.

Chama a nossa atenção a inteligência artificial de Six, que será fundamental para auxiliar nos mais inóspitos caminhos e derradeiros obstáculos, seja ele uma ponte quebrada, seja na hora de derrotar um grande chefe. Aliás, os inimigos estarão na aventura, criando dificuldades extremas para a sua longa jornada.

Isso só foi possível devido ao excelente trabalho feito na jogabilidade. Por mais que o cenário seja em 3D, os comandos são responsivos, de fácil entendimento e usabilidade, o que ajuda drasticamente na execução de movimentos mais complexos.

Dessa vez os ingredientes de terror e suspense aparecem na medida certa. Prepare-se, pois o jogo dará muitos sustos. Se você tiver um headset, eu recomendo utilizá-lo para jogar, dessa forma será possível compreender a ligação feita entre o enredo e a trilha sonora, que se encaixam perfeitamente.

Os chefes são aterrorizantes, como o caçador, que lembra muito o assassino do filme Wolf Creek (2006). Também temos a professora cabeça de cobra, que lembra muito o Orochimaru, da série Naruto. Para não dar mais spoilers, vou parar por aqui.

2,5D cativante

O que me encanta em Little Nightmares II é a sua forma inteligente de misturar o 2D com o 3D, sem esquecer de criar interação entre puzzles, personagens e cenários. Essa não é uma tarefa fácil de ser realizada, portanto ponto para os desenvolvedores e principalmente para o artista responsável pelo jogo.

Inclusive, recomendo ficar de olho em todo o cenário para poder descobrir saídas e objetos que poderão auxiliá-lo na resolução dos puzzles. Como um bom enxadrista, fiquei muito feliz em ver um quebra-cabeça focado no jogo. Aqueles que jogam xadrez conseguirão passar facilmente pelo desafio.

Há também esconderijos, como caixotes, matos altos e até mesmo rios para se esconder dos inimigos. Você poderá até se vestir como um deles para passar despercebido pelos inimigos, seja ele um humano ou um boneco de porcelana, os chamados bullies.

Por mais que não seja permitido inventar uma saída ou uma forma diferente de progredir na aventura, todos os detalhes estão lá. O tom sobre tom, a luminosidade, a fluidez dos movimentos e a trilha se encaixam de uma forma completa, dando vida ao imaginário, transformando a aventura em algo aterrorizante.

Curto e grosso

Existiu muita especulação em torno do tempo de jogo em Little Nightmares II. Tudo porque o seu antecessor poderia ser concluído em pouco mais de 2,5 horas. Inclusive, Little Nightmares tinha uma conquista/troféu para quem terminasse a aventura em menos de 1 hora e sem morrer.

A segunda aventura é um pouco mais longa, mas nada que chame a atenção do jogador, ou que transforme o game em um ponto fora da curva. Acredito que o tempo tenha sido suficiente para o desenvolvimento dos personagens e da história.

Vale debatermos um pouco mais sobre esse assunto, pois o período de um jogo não pode significá-lo, como muitos fazem por aí. Saiba que é muito complicado criar títulos desse gênero sem ser repetitivo: por mais que os chefes sejam variados e que o jogo traga diversas soluções, a tarefa de game design não pode ultrapassar 4, 5 horas. Caso contrário, tornar-se-á repetitivo.

Vale a pena?

Little Nighmares II é tudo aquilo que o seu antecessor quis ser. Mais rebuscado, mais aterrorizante, com uma jogabilidade polida e gráficos maravilhosos: a Bandai Namco acertou em cheio em trazer uma continuação da franquia.

E mais do que isso, mostra que um longo caminho pode ser trilhado daqui para frente dentro da série. Por mais que o tempo de jogo possa deixar com um gostinho de quero mais, prepare-se para tomar bons sustos. E cuidado para não ter pesadelos à noite.

Imagem: Jogo Little Nightmares II, PC
Imagem: Tecmundo Recomenda

Jogo Little Nightmares II, PC

Controle o Mono, um garoto preso em um mundo de horror encantador que foi distorcido pela transmissão que emite zumbidos de uma torre distante.

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