Watch Dogs Legion: a legião deixou a desejar?

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Hackers… um tema que é muito bem explorado pela mídia. Claro, não chega a ser lá uma mitologia grega ou nórdica, mas a temática tecnológica com uma pegada de Mr. Robot chama a atenção do público; pensando nisso, em 2014 a Ubisoft lançou Watch Dogs, com a promessa de revolucionar tudo aquilo que já havíamos visto em relação a games de hackers. Contudo, não foi bem assim. Watch Dogs 2 melhorou as coisas, com uma abordagem muito mais relevante, e agora a publisher francesa está trazendo o terceiro capítulo dessa saga. Nele você não é um, mas sim todos! Seja bem-vindo à nossa análise de Watch Dogs Legion.

Confira também a análise em vídeo:

Como você que acompanha o Voxel já deve saber, eu havia jogado bastante do game antes do lançamento nas previews no total, já tinha visto mais ou menos umas 9 horas de jogo.

Agora, com o game completo e jogando no PC pude chegar às minhas conclusões. Minha máquina tem as seguintes configurações: processador I7 de terceira geração e placa de vídeo GeForce 2080 SUPER. Guarde essa informação do meu processador, pois ela vai ser útil mais tarde. Vou separar essa análise por etapas: primeiro falarei tudo de bom que experimentei e, depois, vou trazer pontos de atenção para que você possa colocar na balança.

A história

Vamos começar com um pouco da história. O game se passa em uma Londres distópica onde, após um grande atentado, uma organização de segurança privada chamada Albion é contratada pelo governo para tomar conta das coisas. Esse ataque terrorista foi articulado por um mascarado que se autointitula “zero-day”, mas foi realizado de uma forma para culpar o grupo hacktivista Dedsec, do qual o jogador faz parte, e justificar a implantação de um governo autoritário que força a obediência aos habitantes — aqueles que não concordam com isso são sistematicamente perseguidos.

É nesse contexto que o jogador é colocado: a Dedsec deve se reorganizar e encontrar membros em potencial para conquistar Londres. Entretanto, o Zero-Day não é o único problema que o grupo vai enfrentar; o enredo ainda traz outros, como uma gangue conhecida como Clã Kelley, envolvida com coisas sinistras que vão desde escravização de estrangeiros até venda de órgãos.

A Albion, como é de se esperar, não é nenhuma santa. Afinal, é uma organização privada paramilitar contratada para trazer a “segurança” de volta a Londres — o que poderia dar errado, não é? Eles tratam a população com violência e não estão nem aí para os direitos dos cidadãos.

Há também outros que vão aparecer no caminho com ideias magnânimas de salvação. Mas não vou falar muito sobre isso para não dar spoilers.

A Londres de Watch Dogs Legion

Watch Dogs Legion tem toda aquela carinha de mundo aberto da Ubisoft. Distritos separados com missões secundárias específicas para cada região, diversas side quests para derrubar o sistema, algumas bem legais e envolventes e outras bem mais rotineiras, como levar algo do ponto A ao ponto B.

Uma coisa interessante que reparei nessas missões é que, embora se tornem meio repetitivas depois de várias horas de jogo, até há uma boa variedade e vai um tempo até você começar a se cansar delas.

Cada distrito de Londres conta com algumas missões para fazer a população se revoltar; ao cumpri-las, uma barrinha vai aumentando e, quando completa, você recebe uma missão especial para fazer. Terminando essa tarefa, assistimos a uma animação que mostra que aquela seção está revoltosa e aí todos os seus segredos, como objetos importantes e colecionáveis, são revelados no mapa, além de você ganhar um novo agente com habilidades extras.

Londres está muito bem representada no game, não tem como deixar de notar pontos turísticos muito bem retratados, como a London Eye, o Big Ben, o palácio de Buckingham e a Abadia de Westminster. O game está bem bonito na ambientação, principalmente na chuva… Ah! O que dizer da chuva… Talvez uma das melhores representações de chuva com Ray Tracing que vi até agora, o reflexo das poças dá um toque incrível de realismo quando estamos passeando; durante a noite ou o dia, vale a pena ficar apenas olhando para elas em certos momentos.

Seja quem você quiser ser…

O sistema de recrutamento também chama atenção. Não exatamente o sistema em si, mas a forma como o jogo lida com cada personagem que você utiliza. É totalmente diferente jogar com um personagem que tem aptidão para combates e jogar com um que não tem. Isso é visível inclusive na hora de se movimentar para trocar uns socos. Personagens que sabem lutar usam golpes bem mais dinâmicos e que parecem mesmo estar sendo aplicados por alguém com experiência (apesar de a variação não ser muito grande), enquanto outros parecem só dar um soco no ar e torcer para acertar o rosto do adversário.

É claro que você pode optar por jogar com apenas um personagem, mas a graça é você recrutar alguém que seja segurança da Albion, por exemplo, para entrar em locais protegidos, ou um construtor, que pode invocar drones de carga a qualquer momento. E acredite: eles são uma mão na roda, principalmente na hora de pegar coisas em lugares altos de difícil acesso, como colecionáveis e pontos de tecnologia, que servem para upar seus equipamentos.

Médicos, advogados, anarquistas, empresários, espiões… Todos têm alguma serventia ao grupo. Diminuir o tempo de cadeia, caso você vá preso; diminuir o tempo no hospital, caso você sofra muito dano; barganhar descontos na hora de comprar algo etc. Todos são bem-vindos ao Dedsec; tudo depende do que você quer fazer.

Além de ter toda uma população para escolher, também podemos equipá-los. O “arsenal” dos agentes não é muito extenso. Mesmo depois de liberar tudo no menu de tecnologia, não há tanta coisa assim que você pode equipar.

Dando alguns exemplos aqui: temos o robô aranha, extremamente útil em diversas situações de invasão. Há o mecanismo de esconder corpos, que simplesmente torna invisíveis corpos que você nocauteia, impedindo que outros guardas vejam e fiquem alarmados; e um dispositivo para dar choques a longas distâncias. Enfim, existe uma série de aparatos com os quais todo e qualquer agente da Dedsec pode contar, mas que não são assim coisas de outro mundo em relação a gameplay. 

Além dos equipamentos, você pode escolher a aparência dos personagens. Basta juntar aquela graninha boa, que você ganha cumprindo missões, e ir para algumas lojas de roupas fazer a festa e vestir seus membros do grupo com estilo.

Uma das coisas mais legais é que trocar de um personagem para o outro não é uma tarefa árdua; o loading de troca de personagem é bem rápido, mesmo para mim que não estou usando uma máquina com SSD. Vou falar de performance em breve, mas os loadings de viagem rápida e de troca de agentes me deixaram bem contente.

Toda essa galera é coordenada por uma inteligência artificial chamada Bagley, que é o destaque do jogo. A IA é extremamente carismática e engraçada, fazendo o jogador dar boas risadas e se tornando um personagem fundamental para a imersão no game — sem contar que ele, a hacker Sabine e Skye Larssen têm as melhores dublagens, uma combinação muito boa entre voz e modelo.

Agora, vamos para as pedras

Eu comecei falando de tudo de legal e das experiências boas que tive jogando Watch Dogs Legion. Porém, nem tudo são flores, e nesse caso há várias coisas que não são. Vamos começar falando de performance. Mesmo com uma máquina bem boa, apesar de ter um gargalo na minha CPU, lembra que eu falei que era um I7 de terceira geração? Já não é um processador muito novo, né?

Enfim, mesmo com uma máquina boa, capaz de rodar jogos no ultra com certa tranquilidade, notei que Watch Dogs Legion não é muito bem otimizado em relação à CPU. Sofri com quedas de frames quando andava de carro ou quando havia muitas coisas na tela. Você pode pensar: OK, é por conta do seu processador, você não iria mesmo rodar tudo no ultra a 60 fps. Sim, concordo; entretanto, cair abaixo de 30 fps não poderia acontecer. E acredite: aconteceu bastante, por mais que seja um processador mais antiguinho, ele ainda é um bom processador. Sem contar um superaquecimento que fazia meu processador passar dos 100 graus, 10 graus acima do limite que uma CPU deve receber de calor. 

Mesmo quando troquei meu processador para um Intel I5 de 10ª geração. A performance de fps melhorou no geral, mas ainda tive quedas para menos de 30, chegando a 23 quando dirigia em alta velocidade.

O jogo tem alguns bugs bem bobinhos que a gente entende, como um cara preso em cima de um carro subindo e descendo, ficar preso entre paredes de vez em quando, umas cenas de luta em que você acerta o ar, mas mesmo assim os adversários saem voando.

Contudo, a história muda quando o game trava ao entrar em telas de loading quando me transfiro de lugares abertos para cenários fechados. Isso aconteceu inclusive na última missão do game, me obrigando a usar o ALT+F4 algumas vezes e até a reiniciar todo o PC. Em outra ocasião, uma animação ficou congelada na tela e o jogo ficou todo bugado como se fosse a animação, me forçando a sair do game.

Eu citei há pouco que o trabalho de dublagem de Sabine, Bagley e Skye era muito bom e combinava perfeitamente com os personagens, certo? Bem, o mesmo não se pode dizer dos agentes da Dedsec. Imagino o quão complicado deve ter sido fazer TANTOS personagens para o jogador ficar trocando, quantas linhas de diálogo diferentes para cada situação devem ter sido gravadas, mas diversas vezes algumas conversas não fazem sentido para a pessoa que está falando, e a voz não tinha absolutamente nada a ver com o modelo, sem contar um lipsync que no nosso idioma não funciona muito bem.

Um último ponto fraco a ressaltar: a trama. Por mais que exista um plot twist, ele é bem previsível. Obviamente, não vou comentar aqui para não estragar a experiência, mas se você prestar atenção e pensar na linha de raciocínio de games que escondem o grande vilão, você vai sacar tudo em pouco tempo.

E a decepção não é só com o plot twist. A história tem de fato momentos interessantes, como o peso do tráfico de órgãos do Clã Kelley, ou uma luta com um chefe que é bem divertida, mas parece que Watch Dogs Legion pegou todos os estereótipos de vilões e colocou em um jogo só; e não há nenhum ali que possa ser considerado realmente interessante. Porém, sabemos que a Ubi sabe fazer bons vilões, como na franquia Far Cry.

Vale a pena?

Watch Dogs Legion, não é um jogo ruim; é um jogo bom, mas peca em aspectos que não poderia em um game de fim de geração. Quando você vê que Watch Dogs 2 aprendeu com os erros de Watch Dogs 1, você coloca fé em um terceiro capítulo; contudo, quando essa expectativa não vinga, a decepção bate e bate forte.

E nem estou falando só da má otimização, mas sim de um plot que tem uma ideia legal, de fazer o jogador ser quem ele quiser ser. Vemos esse grande potencial se esvair com uma história pouco interessante e um plot previsível demais.

Eu confesso que esperava muito mais de Watch Dogs Legion, pelo que joguei nos previews. Talvez por isso, ver o trabalho final ser fechado assim tenha me pegado de surpresa. É divertido jogar descompromissado fazendo missões para livrar a cidade de um sistema corrupto, mas falta alguma coisa. Pode haver uma luz no fim do túnel quando o modo multiplayer chegar? Quem sabe? Vamos aguardar para ver o que essa Londres vai nos trazer no futuro.

No entanto, é preciso ter cuidado com essa parte, pois as compras in game com dinheiro real já estão rolando na loja do jogo com pacotes que variam de R$ 20 até R$ 200.

Watch Dogs Legion foi gentilmente cedido pela Ubisoft

Nota: 75

"A legião deixou a desejar, o terceiro capítulo da franquia dos hackers desperdiça um grande potencial com uma história rasa e pouco carisma nos vilões."

Watch Dogs Legion - A legião deixou a desejar? via Voxel

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Fontes

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