Night in the Woods: a cultura do trabalho excessivo ainda vai matar alguém

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Sucesso independente, Night in the Woods teve um elemento comum à maioria dos jogos que consumimos: para que ele fosse finalizado, os desenvolvedores tiveram que trabalhar até tarde durante meses, sacrificando tanto suas vidas pessoais quanto sua saúde. Tanto é que, durante o postmortem que o game recebeu na Game Developers Conference, o desenvolvedor Scott Benson afirmou que “quase se matou” para completar a criação do jogo.

Night in the Woods

“O motivo pelo qual estamos nos matando não é porque amamos o que estamos fazendo”, afirmou ele à Games Industry. “Essa é a coisa que falamos para nós mesmos e para as pessoas: ‘somos muito apaixonados por isso’”, complementou. “Mas eu sou muito apaixonado por várias coisas e eu não me mato por elas. A razão pela qual estamos nos matando é dinheiro e prazos”.

“O motivo pelo qual estamos nos matando não é porque amamos o que estamos fazendo”

“São essas restrições materiais. É muito do que isso se trata. Se tivéssemos mais financiamento e não fosse ser o fim do mundo se adiássemos em seis meses, estaríamos bem. Podemos viver sem ter que contrair dívidas imensas. Mas essa não é a realidade para a maioria de nós”, explicou Benson.

Questão cultural

“Particularmente em games, quando você anuncia uma data de lançamento, se você muda isso, as pessoas tratam como se fosse um pecado mortal”, continua o desenvolvedor. “’Adiado de novo! Você mentiu para os jogadores!’.  E a imprensa vai cobrir isso. Se você adiar uma coisa, você insultou e nos machucou em algum nível”.

Night in the Woods

Segundo Benson, também é preciso lidar com uma cultura que valoriza o trabalho duro e não consegue distinguir quando isso se torna algo prejudicial. Ele acredita que muitas publicadoras abusam disso ao fazer com que funcionários acreditem que seus trabalhos dependem de um esforço maior que nem sempre é recompensado — e que a única forma de combater isso é através de leis, sindicatos e organizações.

“Dizemos a nós meses para aspirar a essas coisas em um nível cultural por conta de coisas como o capitalismo, no qual nos definimos por quanto valor geramos, quanto trabalho podemos fazer, o quanto podemos batalhas. Internalizamos esse trauma que temos por fazer isso para pagar aluguel, e começamos a nos definir por isso. ‘Sou o melhor pagador de aluguel do mundo! Posso lutar o máximo! Sou como um tubarão: nunca paro de nadar!’”.

“Eu penso que novos modelos disso têm que ser criados, porque as pessoas vão morrer"

“E há algumas pessoas que gostam disso legitimamente, mas muitos sentem a pressão de fazer isso porque estamos assustados que, se pararmos, a realidade é que não vamos poder comprar remédios. E isso se torna parte de nossa cultura”, continua o desenvolvedor de Night in the Woods.

Benson afirma que não há nenhuma força que se oponha a isso e que nenhum produtor vai deixar de comprar um iate e colocar a mão na consciência e dar mais dinheiro e oportunidades a desenvolvedores — mas uma mudança tem que acontecer. “Eu penso que novos modelos disso têm que ser criados, porque as pessoas vão morrer. Pessoas morrem por trabalhar demais. Casamentos são arruinados. As pessoas nunca veem seus filhos. Tudo isso é ruim, mas consideramos bom, algo como ‘sim, você se sacrificou!”. Por que?”.

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