G2A: Entenda a polêmica entre a loja e desenvolvedores indies

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O mês de julho está sendo marcante para os games e já tivemos notícias importantes como o anúncio do Switch Lite e uma série de novos hardwares da AMD e Nvidia. Mas, como nem tudo são flores no mundo dos jogos, uma polêmica também tomou conta do setor: uma longa e intensa briga entre desenvolvedores independentes e a loja G2A.

A plataforma, que já possui quase 10 anos de mercado, é constantemente alvo de críticas de desenvolvedores e também jogadores, principalmente após adotar o sistema de marketplace, há cerca de cinco anos. Enquanto negócios como a brasileira Nuuvem fazem parcerias com estúdios e publishers para vender games de PC mais baratos fora de plataformas como Steam e GOG, a G2A aceita que qualquer pessoa comercialize chaves de ativação de jogos em seu site, ao estilo Mercado Livre e eBay.

A competitividade entre vendedores acaba gerando preços mais atraentes, mas como a empresa não é restritiva quanto a origem dos produtos, que podem ser adquiridos de formas ilegais ou antiéticas pelos revendedores, seu serviço não é bem visto por membros da indústria e costuma gerar revolta em desenvolvedores independentes. E foi isso que aconteceu na treta que tomou o mês de julho.

G2A versus desenvolvedores

A polêmica da vez começou no fim de junho, com uma publicação no Twitter de Mike Rose, responsável pela publisher No More Robots. Na rede social, o desenvolvedor declarou que é melhor ver seus jogos pirateados do que vendidos na G2A. A frase, que acabou ganhando a atenção da mídia pela sua peculiaridade, foi postada junto com um vídeo exibindo um anúncio da loja com o game Descenders, do estúdio RageSquid, se sobressaindo às propagandas da própria firma que lançou o título.

"Por favor, se você vai comprar um jogo pela G2A, só o pirateie! Genuinamente! Os desenvolvedores não veem um centavo de qualquer maneira, então preferimos que a G2A não veja esse dinheiro também”, disse o dono da publisher responsável por Descenders.

Segundo Rose, como o marketplace permite a revenda de chaves de ativação que não foram cedidas pelos responsáveis do game, nenhuma renda vem para os criadores do produto. O movimento “pirateie e não compre na G2A” também ganhou o apoio do cofundador do estúdio independente Vlambeer, Rami Ismail, que deu mais motivos para quem faz jogos não gostar da loja.

Além de não gerar lucros para os desenvolvedores, a G2A também costuma gerar problemas de atendimento ao cliente para os estúdios independentes

Os casos de chaves falsas ou compradas com cartão de crédito roubados que são revendidas na G2A costumam tirar “tempo de desenvolvimento” dos estúdios. De acordo com Ismail, empresas de pequeno porte costumam ter que abrir mão de trabalhar em seus jogos para investir em atendimento ao cliente e resolver os pepinos causados pelo marketplace. "Se você não puder pagar ou não quiser comprar nossos games com preço integral, pirateie em vez de comprá-los em um revendedor de keys", disse.

Oferta de paz

Para tentar acabar com a guerra civil contra os desenvolvedores, a G2A fez uma longa publicação em seu site no dia 5 de julho explicando o funcionamento do seu serviço, apresentando soluções de segurança para seus clientes e respondendo diretamente os estúdios que criticaram a plataforma.

A empresa admite que já cometeu erros no passado e merece ser criticada por alguns de seus serviços, mas ressalta que também possui formas de ajudar os desenvolvedores, como o programa de parceria G2A Direct. A firma garantiu que está investindo para evitar fraudes em sua plataforma e sugeriu uma solução que vai compensar estúdios que tiveram prejuízo por causa de fraudes no marketplace. “Não estamos fazendo isso porque somos os únicos culpados, mas porque queremos finalmente parar com as acusações que recebemos”, diz a loja em sua publicação.

(Fonte: G2A/Reprodução)

Para começar, a empresa prometeu que vai pagar aos desenvolvedores 10 vezes o valor do prejuízo gerado por chargebacks. Ou seja, se os criadores de games comprovarem que o cliente adquiriu no marketplace da G2A um jogo originalmente comprado com cartão de crédito roubado, a companhia cobrirá os custos e ainda dará um bônus gigante para o estúdio.

A G2A disse que casos de fraude são raros e prometeu pagar 10 vezes o prejuízo sofrido por desenvolvedores

E as promessas não param por aí: a G2A também disse que vai contratar uma firma de auditoria independente para garantir transparência em todo o processo de análise dos casos. A atitude é uma ótima forma de compensar desenvolvedores independentes que perderam dinheiro por causa do marketplace, mas, segundo a empresa, isso não acontece com frequência.

De acordo com dados divulgados pela G2A, as reclamações mais raras, que ocupam uma parcela de 0,02% de todas as transações mensais, seriam casos em que o jogo some da conta da Steam do cliente, algo que ocorre quando o título é comprado com cartão de crédito roubado, gerando chargebacks. Ou seja, se os números da companhia estiverem corretos, os casos em que desenvolvedores vão solicitar o dinheiro perdido no marketplace seriam raros.

Não é bem assim...

Por outro lado, um cálculo feito pelo pessoal da Wube Software, criadora do indie Factorio, mostrou que os casos de ilegalidade no marketplace podem ser mais recorrentes e a promessa deve pesar no bolso da companhia. No dia 12 de julho, os desenvolvedores disseram que apoiam o movimento “piratear é melhor que G2A” e mostraram dados revelando que com fraudes durante o lançamento do seu game, em 2016. E alguns deles ocorreram na polêmica loja.

O time alega ter recebido cerca de 300 reclamações sobre chaves de ativação adquiridas com cartões de crédito roubados e revendidas na internet. “Com uma taxa de estorno média de US$ 20, estimamos o valor total das tarifas que pagamos devido a chargebacks em algo na casa de US$ 6,6 mil”. A Wube Software diz que possui todas as chaves que foram “devolvidas” e e-mails comprovando que a origem de alguns dos produtos fraudulentos (não todos) vieram da G2A. Até o momento desta reportagem, a empresa ainda não havia respondido o estúdio sobre a promessa de pagar 10 vezes os prejuízos provenientes de seu marketplace, mas comentou que está “conversando” com desenvolvedores e aprendendo com os feedbacks recebidos.

Para conseguir preços mais baixos, alguns revendedores compram o jogo na Europa e enviam como presente para outros lugares do mundo. (Fonte: Wube Software/Reprodução)

Além de reclamar dos casos de fraude, a equipe de Factorio tocou em outro ponto mais abrangente que costuma irritar alguns desenvolvedores independentes: o fato de seus jogos simplesmente serem revendidos na G2A, mesmo quando são obtidos de forma legal. De acordo com os desenvolvedores, algumas pessoas aproveitam aberturas como mudanças de preços regionais e promoções em revendedoras oficiais para lucrar em cima dos estúdios. “Recomendamos fortemente que as pessoas comprem de nós ou de um dos nossos parceiros oficiais”, explica a Wube Software, que comercializa Factorio na Steam e no site oficial do game.

Uma nova esperança

Depois de sua oferta de paz e os esforços para acabar com fraudes, a G2A também tentou agradar aos desenvolvedores que querem impedir a venda de seus produtos por pessoas não autorizadas. No dia 12,  a empresa sugeriu a criação de uma ferramenta para “bloquear games” em seu marketplace. Assim, companhias como a Wube Software poderiam, em tese, impedir que seus títulos fossem revendidos na plataforma. De acordo com a loja, os estúdios poderão acessar um formulário e cadastrar keys geradas para análises e sorteios, que serão identificadas pelo sistema e não poderão ser anunciadas por terceiros.

(Fonte: G2A/Reprodução)

A firma disse que só vai fazer a novidade se existir interesse por parte dos estúdios, já que a criação da solução seria “cara e demandaria tempo”. Por causa disso, a G2A lançou um formulário e espera que pelo menos 100 desenvolvedores apoiem a iniciativa dentro de um mês. Após a divulgação da ideia, porém, a companhia voltou a ser criticada por especialistas do mundo dos games.

Apesar de o bloqueador de keys da G2A permitir que os incomodados diminuam a circulação de seus games no mercado cinza, a ferramenta foi vista como uma forma da empresa passar a responsabilidade dos problemas de sua plataforma para os desenvolvedores, já que os estúdios teriam que inserir manualmente todas as chaves de ativação que não queiram ser comercializadas no marketplace.

Apesar das boas intensões, o bloqueador de keys da G2A poderia gerar problemas diferentes para os desenvolvedores

O desenvolvedor Mike Bithell, responsável por John Wick Hex, comentou a atitude no Twitter dizendo que não trabalha para a G2A e que a empresa deveria cuidar melhor do seu negócio. A solução do marketplace também foi vista como um risco de segurança por sites como o Polygon, já que a firma teria um banco de dados imenso com chaves de ativação de games em suas mãos, o que colocaria  seu serviço na mira de cibercriminosos.

Má fama

Bartosz Skwarczek, CEO da G2A (Fonte: Polygon/Reprodução)

A G2A só vai divulgar se recebeu apoio suficiente dos desenvolvedores para criar seu bloqueador de keys na metade de agosto. Logo, teremos que esperar um tempo para ver o desdobramento da mais recente oferta de paz da companhia para ficar de boas com os estúdios que fazem games. Isso não quer dizer, porém, que a firma vai deixar de gerar manchetes polêmicas nesse meio tempo.

Enquanto estava tentando tranquilizar os desenvolvedores, a empresa também se meteu em outra confusão. A assessoria da loja enviou um e-mail para alguns veículos de mídia oferecendo dinheiro para a publicação de um artigo falando bem do marketplace, mas com um detalhe: o post não deveria ser marcado como patrocinado.

No meio de toda a confusão, a G2A enviou um e-mail oferecendo dinheiro para a mídia falar bem do marketplace

A companhia respondeu oficialmente dizendo que a mensagem, emitida no dia 8 de julho, foi enviada por um funcionário sem autorização e chegou em apenas 10 sites especializados. No final das contas, se a campanha foi acidental ou não, isso só acabou colaborando ainda mais para a má fama da empresa, que além de desagradar os desenvolvedores independentes, também acabou ficando mal vista por internautas.

Em meio aos esforços e polêmicas, você acha que a G2A vai conseguir ganhar a confiança dos desenvolvedores e resolver os problemas de seu marketplace para limpar a sua imagem? Deixe sua opinião sobre a empresa aí nos comentários!

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Fontes

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