Todo mundo que gosta um pouco de motos já ouviu falar no nome de Valentino Rossi. Para quem gosta de motociclismo, o nome do italiano é, sem dúvida alguma, um divisor de águas na história do esporte: existe uma MotoGP antes e depois do “The Doctor”. Não é a toa, então, que a italiana Milestone achasse digno fazer um jogo que levasse o nome e contasse a história do piloto nove vezes campeão mundial.
Mas, se eu tivesse que resumir Valentino Rossi: The Game em poucas palavras, elas seriam algo como “uma DLC gigantesca que vem com um jogo junto”. Isso porque, não se engane, o jogo ainda é um MotoGP 16 – só que repleto de novos conteúdos relacionados a um dos maiores nomes da história do motociclismo.
Nossos vídeos em destaque
Pense que é como se a Codemasters resolvesse lançar, sei lá, um F1 2017 e decidisse batizá-lo de Ayrton Senna: The Game, com direito a todas as atividades extra-curriculares do brasileiro (pilotando aeromodelos por aí, por exemplo), venderia horrores, certo? Pois é, a receita é bem parecida.
)
Sendo assim, o que você pode esperar de VR: The Game? Basicamente, tudo que fez a franquia MotoGP voltar aos holofotes lá na Europa pelas mãos do competente estúdio italiano Milestone: uma jogabilidade bem produzida e amigável, uma física extremamente convincente para um jogo de motociclismo, gráficos bons – mas longe de utilizar todo o potencial da atual geração de consoles – e uma sonorização ok.
A contribuição de Valentino Rossi, por sua vez, é o grande diferencial e, como dito anteriormente, vem como um gigantesco pacote de conteúdo adicional que faz com que o jogo, mesmo sendo um MotoGP 16, proporcione experiências bem diferentes.
Explico: os desenvolvedores viram uma oportunidade de ouro em trazer o nome do piloto italiano para o game porque, além de sua carreira brilhante na MotoGP, ele também participou de competições com automóveis e organiza frequentemente corridas offroad em seu rancho. A Milestone, por sua vez, também é a responsável por títulos como Sébastien Loeb Rally Evo que, como o nome diz, é de rally, e MXGP, do mundial de MotoCross.
Sendo assim, os caras tinham a faca e os queijos na mão para unir três engines diferentes em um só título sob um pretexto extremamente válido – e a ideia casou perfeitamente. É por isso que as grandes inovações de Valentino Rossi: The Game são as atividades que você pode fazer fora de uma moto de MotoGP: é possível participar de eventos de RallyCross com o Ford Fiesta do Rossi, fazer drifts com um Mustang ou se aventurar no terreno escorregadio do MotoRanch.
)
Esses eventos podem ser feitos de duas formas. A primeira delas é na pele do italiano nove vezes campeão, através de um modo que permite que você reconstrua os principais momentos da carreira de Valentino: desde sua primeira vitória na MotoGP, no GP da República Checa em 1996, passando pelas batalhas históricas travadas ao longo de sua jornada, até o último campeonato conquistado pelo italiano, em 2009.
Essa história também é contada através de um compilado de informações batizado de “Rossipedia”. Outros modos que fazem parte da “Rossi Experience”, como é chamada a categoria no game, envolvem desafios às marcas e tempos estabelecidos pelo Doutor.
Você pode começar também como um de seus pupilos, no modo carreira. Nele, você cria o seu próprio piloto e começa sua história na chamada “VR Riders Academy”, a “escolinha” de Rossi para formar novas estrelas no motociclismo.
A mecânica é a mesma: você participa de diversos eventos e vai construindo sua carreira na MotoGP sob a tutela de Valentino. Entre uma corrida e outra, você participa de eventos fora do campeonato, como é o caso das competições de drift ou as corridinhas entre amigos no rancho de Rossi.
É possível customizar seu personagem com uma gama de produtos licenciados de marcas conhecidas entre os amantes de motociclismo, entre capacetes, botas, luvas, número e outros detalhes.
)
MotoGP 16: a experiência mais tradicional
Se você busca uma experiência mais tradicional – o que é relativamente difícil em jogo que transpira o nome de Rossi por todos os poros –, você tem a temporada de 2015 e 2016 do mundial de motovelocidade à sua disposição nas três categorias existentes: Moto3, Moto2 e MotoGP.
São diversos pilotos e equipes diferentes que podem ser escolhido para correr uma temporada completa, passando pelo fim de semana completo de corrida, com direito a treinos práticos, classificatório e a corrida em si.
)
A abordagem é bem mais simples e direta, justamente para aqueles que buscam algo mais parecido que o que vinha sendo visto até agora nos jogos da série. A grande questão aqui é que ele é um apenas um modo entre os 15 disponíveis no game, entre o singleplayer e multiplayer.
Um dos aspectos mais bacanas de Valentino Rossi: The Game e que também está relacionado ao conteúdo mais “puro” do título é o modo histórico, que permite que você corra com pilotos de outros períodos importantíssimos da MotoGP, como é o caso das temidas 500cc do fim da década de 90, ou as tradicionalíssimas 250cc de dois tempos – uma das categorias, inclusive, na qual Rossi se destacou.
Nomes importantes destas eras estão presentes e você pode ter o privilégio de dar umas voltas, por exemplo, com pilotos como o brasileiro Alexandre Barros ou o italiano Loris Capirossi. Isso leva o número total de pilotos disponíveis no game a 291!
Carros e MotoRanch: inovações bem-vindas, mas...
Se Valentino Rossi: The Game é competente em oferecer uma experiência tradicional, ele também acerta ao oferecer algo que vai além das corridas da MotoGP. É o caso das competições de RallyCross, Drift e os eventos em pistas de superfície escorregadia no rancho do The Doctor.
O único problema aqui é que, enquanto o conteúdo em si é bacana, a aplicação... Bem, nem tanto. Não que seja uma falha da forma como foram inseridos, mas é que, assim como já foi visto em Sébastien Loeb Rally Evo, a engine física da Milestone para os veículos de quatro rodas ainda carece de polimento e não consegue ser tão fluida quanto o que se tem quando se está sobre uma moto.
Andar nas motos de motocross, como era de se esperar depois do excelente trabalho da desenvolvedora em MXGP2, é muito bacana, mas essa mesma empolgação não está presente quando você senta atrás do volante do Ford Fiesta RX de Rossi ou no Mustang de drift.
A jogabilidade nas motocicletas continua amigável, entregando um feeling muito bom ao jogador, apesar de se tratar de uma dinâmica diferente em função da transferência de peso do piloto e tudo mais. Já nos carros, você tem comandos que respondem de forma estranha e uma física pouco responsiva – é difícil prever o comportamento dos veículos e quem não tem tanta familiaridade com jogos de corrida pode ter bastante dificuldade em conseguir andar direitinho.
Ainda assim, ter a possibilidade de jogar algo diferente entre uma corrida e outra da MotoGP ajuda a dar uma oxigenada no jogo, mas também pode ser um pouco frustrante. De qualquer forma, a inclusão desse tipo de conteúdo é um esforço a ser reconhecido, já que ele pode não mais aparecer caso os desenvolvedores optem por voltar para a fórmula tradicional nos próximos títulos da franquia MotoGP.
O bom que poderia ser ótimo
Sendo um dos únicos jogos de motociclismo da atualidade, Valentino Rossi: The Game mostra que a Milestone está em uma posição relativamente confortável, e um dos pontos que mais evidencia isso fica na parte técnica: a evolução na parte gráfica do game é quase nula em relação ao seu antecessor, o MotoGP 15.
)
Enquanto a produtora conseguiu contornar bem o risco de cair no “mais do mesmo” na parte de conteúdo, os aspectos técnicos não conseguiram se desvencilhar disso. Visualmente e sonoramente, VR: The Game é praticamente a mesma coisa que se viu no ano passado e, sendo assim, peca nos mesmos pontos. Não significa que se trata de um jogo feio, não: ele é bonito, mas está bem longe de aproveitar tudo o que os consoles e PCs da atual geração têm para oferecer.
Por não ser muito ambicioso em tentar superar os limites da parte de hardware, a performance do jogo é boa e não apresenta slowdowns mesmo com muitas motos presentes na tela, mas a experiência visual é bem linear nas três plataformas nas quais o game está disponível.
)
Sonoramente ele também não impressiona, já que, apesar de não fazer seus ouvidos sangrarem, não existem uma trilha sonora ou um trabalho excelente de áudio que se destaque.
É justamente essa falta de evolução nos aspectos mais técnicos que fazem com que, apesar das novas atividades, ele ainda pareça mais do mesmo. São os mesmos gráficos, os mesmos sons, a mesma jogabilidade (que não é ruim, mas poderia ser refinada), a mesma física, tudo com uma cara nova e com conteúdos reaproveitados de outros games da produtora.
Ainda é bom ser um piloto da MotoGP – mas por quanto tempo?
No fim das contas, Valentino Rossi: The Game deixa evidente que os mesmos pontos que foram os grandes destaques da franquia MotoGP nos últimos anos também começam a ser suas principais fragilidades.
A Milestone fez um bom trabalho em dar uma “chacoalhada” na série e souberam aproveitar muito bem o nome de Valentino Rossi ao oferecer novos modos de jogo e fazer o jogador ir além da MotoGP – tudo isso enquanto mantém as qualidades do seu principal conteúdo.
Por outro lado, se a parte de conteúdo apresenta inovações bacanas, o mesmo não pode ser dito dos aspectos técnicos: ao optar por manter também o bom visual, efeitos sonoros, jogabilidade e física, a Milestone faz com que Valentino Rossi: The Game ainda pareça mais do mesmo e evolua pouco em relação aos títulos anteriores – o mesmo conteúdo com uma roupagem um pouco diferente.
Sendo assim, a conclusão que se chega é que ainda é muito bom ser um piloto da MotoGP e que é legal ter um título bom de motociclismo no mercado. Mas, logo, logo, talvez esse bom não seja mais o suficiente para fazer com que as pessoas se interessem pela franquia – e nem mesmo o nome de Valentino Rossi poderá ser capaz de mudar isso.
Se você gosta de MotoGP, Valentino Rossi: The Game é um título mandatório na sua coleção, mais do que seus antecessores por apresentar uma enxurrada de conteúdo. Agora, se você só gosta de motos e sente saudades de Tourist Trophy, talvez Ride 2 (também da Milestone) seja uma compra muito melhor.
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)
)