Será que o fim dos consoles portáteis está próximo?

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Consoles portáteis: os seus games sempre couberam no bolso! (Fonte da imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

A Nintendo é o maior exemplo de sucesso quando o assunto são video games portáteis, afinal de contas, desde que lançou o seu primeiro GameBoy, a companhia  japonesa já conseguiu vender mais de 300 milhões de aparelhos (segundo este relatório divulgado pela própria Nintendo) – uma quantia pra lá de respeitável. O PSP, da Sony, com os seus quase 80 milhões de aparelhos vendidos (segundo o VGChartz), também não decepciona.

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Por isso, ao ler esse título, muitos de vocês com certeza já reagiram com um pensamento mais ou menos assim: “Como é que eles podem sequer pensar em uma coisa dessas?”. Sim, nós sabemos, alguns números provam que certas empresas consideram o mercado dos portáteis um nicho tão importante quanto o dos consoles de mesa – e conseguem resultados expressivos com tais gadgets.

Contudo, vivemos mudanças intensas no mundo da tecnologia como um todo. Quando o primeiro modelo de GameBoy chegou ao mercado, ninguém imaginava que poderia sair por aí com um poderoso computador enfiado no bolso. Uma máquina que, por sinal, também pode rodar jogos eletrônicos.

Gráfico mostra as vendas de portáteis (Fonte da imagem: Reprodução/AOL Tech)

Os consoles da nova geração vêm aí e, com eles, já surgem também novos players no mercado – alguns com novidades que podem revolucionar tudo, como o streaming de games à distância, por exemplo. Além disso, mudanças no perfil dos jogadores e as novas exigências dos consumidores podem chacoalhar esse importante nicho dos games.

Assim, mesmo com o Nintendo 3DS já alcançando a marca dos 35 milhões de aparelhos vendidos em todo o planeta, é preciso pensar também nas particularidades – e surpresas – que o futuro reserva a esse mercado. Os números são bons nos dias de hoje, mas, e nos próximos anos, o que será dos video games portáteis? Há espaço para tantos gadgets em nossas vidas?

Eles precisam ser assim tão poderosos?

Em conversas com alguns gamers mais hardcore (alguns já com alguns bons anos de jogatina no currículo), pudemos perceber algo que aparece como uma reclamação “comum”: a falta de objetividade nesses video games portáteis. De acordo com algumas pessoas, esse poder de rodar jogos cada vez mais elaborados poderia ser algo que joga contra os próprios gadgets.

Need for Speed: Most Wanted para o Vita (Fonte da imagem: Divulgação/Criterion)

Isso porque hoje há RPGs supercomplexos, games com mapas gigantescos e diversas tarefas, algo que deixa bem mais difícil qualquer partida nesses aparelhos. De quebra, também já não há mais aquela agilidade na hora de começar a se divertir com um aparelho portátil.

O colunista Mike Jackson, do site norte-americano Computer and Videogames, até cita o fato de que hoje em dia você demora tanto tempo para entrar em um jogo que não pode nem mesmo disputar umas partidas enquanto relaxa utilizando o banheiro.

Ele também entra no assunto que abordamos logo acima. Em seu artigo, Jackson pergunta se precisamos mesmo desses “gigantescos, complexos e multimilionários games, com as suas histórias superevoluídas e as suas cutscenes em ‘motion capture’ em nossos bolsos.”

Candy Crush Saga: bobinho e viciante (Fonte da imagem: Reprodução/Google Play)

Na contramão disso tudo, cada vez mais os joguinhos casuais fazem a cabeça da galera em todo o planeta. Games teoricamente supersimples, como Candy Crush e Angry Birds, transformaram o mundo dos jogos móveis. Isso se mostra uma tendência, pois mesmo os gamers mais hardcore acabam curtindo e querendo cada vez mais essas partidas “simples e objetivas”. O que você acha?

Erros estratégicos

Alguns erros estratégicos também vêm atrapalhando a atuação de algumas gigantes do entretenimento no mundo dos portáteis. Isso quem pode confirmar com bastante convicção é a Sony, pois, até o momento, o seu PS Vita não é nenhum sucesso de vendas.

Segundo a própria companhia, alguns erros na hora de posicionar o console portátil no mercado acabaram atrapalhando o seu desempenho. O seu preço inicial, de acordo com Fergal Gara, diretor de marketing do braço da empresa no Reino Unido, era realmente salgado, o que acabou afastando grande parte dos consumidores.

Preço afastou compradores, diz Sony (Fonte da imagem: Divulgação/Sony)

A Sony, para tentar reparar o erro, cortou drasticamente o valor do gadget, que agora custa, nos Estados Unidos, 199 dólares. A empresa, no entanto, cita outro grande obstáculo no caminho do sucesso do Vita, mesmo com ele trazendo um preço mais baixo: os smartphones.

Outro ponto destacado por algumas pessoas em conversas na elaboração desse artigo é o fato de a bateria de tais aparelhos apresentar pouca autonomia. Se você está em uma viagem longa de ônibus, por exemplo, as quatro ou cinco horas de energia de um 3DS podem representar somente um pouco de diversão e mais algumas horas de um “peso morto” a ser carregado na bagagem.

Tablets e smartphones: os grandes inimigos

Além de Fergal Gara, o líder da Sony Worldwide Studios, Shuhei Yoshida, também citou os outros eletrônicos portáteis como o grande entrave para as vendas do Vita. E eles não estão sozinhos quando falam que o crescimento nas vendas de tablets e smartphones pode redefinir esse mercado.

Gadgets portáteis são a grande ameaça (Fonte da imagem: Divulgação/Samsung)

Yoshida cita a questão financeira, dizendo que os custos dos planos de telefonia desses aparelhos já comprometem o dinheiro dos consumidores – e que, com isso, eles não estariam dispostos a gastar ainda mais para ter um console para jogar. O fato é que essa não é a única justificativa válida.

A portabilidade, por exemplo, é indiscutível. Se um Vita ou um 3DS pode ser levado para lá e para cá em sua mochila sempre que você quiser, um celular estará sempre no seu bolso, esteja você na sala de espera do médico, dentro do ônibus ou mesmo atendendo a um chamado da natureza dentro do banheiro.

Outro fator a ser levado em conta é a conectividade. Os smartphones podem se conectar facilmente à internet, seja por meio de planos de telefonia ou alguma rede WiFi qualquer. Isso expande consideravelmente as opções de jogos diferenciados para os gamers e também para os desenvolvedores. Cada vez mais títulos online cheios de recursos invadem o mundo do Android, do iOS e, por que não, também do Windows Phone 8.

Há também outra questão bem importante: o hardware desses aparelhos vem evoluindo em um ritmo frenético. Processadores poderosos, displays em Full HD e chipsets gráficos capazes de trazer um visual absurdo vêm tornando os títulos para os smartphones cada vez mais interessantes.

Ok, mas e os grandes lançamentos? E os blockbusters? Bem, como não falamos da situação atual, mas sim do futuro desses portáteis, quem nos garante que os grandes estúdios não vão começar a produzir os seus títulos mais famosos também para os smartphones? A Electronic Arts, por exemplo, já vem crescendo o olho para esse mercado, investindo, aos poucos, em novos lançamentos.

O crescimento exponencial da Gameloft com certeza chamou a atenção dos outros grandes estúdios, afinal de contas, quem joga nos portáteis sabe muito bem que a maioria dos títulos lançados por eles tem muitas semelhanças com alguns grandes sucessos do mundo dos games, como Call of Duty e Need for Speed.

Periféricos de todos os tipos

Ainda na toada dos tablets e principalmente smartphones, vale lembrar também que a indústria não perde tempo na hora de deixar tais gadgets ainda mais atrativos, vamos dizer assim, para todos os gamers de plantão.

Adaptadores que transformam o celular em um video game portátil e opções para poder ligá-los nas televisões não faltam. Hoje em dia, controles específicos para aparelhos Android, por exemplo, podem ser encontrado aos montes na internet. O iOS também já conta com boas opções e versões oficiais já começam a ser lançadas para praticamente todas as plataformas.

Shield: os híbridos estão chegando

As novas tecnologias e os diversos produtos que chegam ao mercado todos os anos também aparecem como grandes adversários para o futuro dos consoles portáteis. O Shield, da NVIDIA, por exemplo, vem para tentar balançar esse mercado.

Shield é mais uma nova alternativa (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)

A plataforma traz algumas ideias revolucionárias, como apresentar uma nova maneira de o jogador aproveitar os títulos lançados para o sistema operacional Android. Além disso, o que pode fazer a cabeça da galera é o streaming de games do PC diretamente para o portátil, não importa onde você esteja – algo que os consoles atuais nem pensam em serem capazes de fazer.

E tal tecnologia promete avançar significativamente nos próximos anos, tornando a experiência de jogo cada vez melhor.

É preciso se reinventar

Uma saída para que as plataformas móveis mais tradicionais possam sobreviver nesse mercado cada vez mais competitivo pode ser a busca por novos nichos de atuação. Assim, além de inovar, as companhias precisam também mostrar novidades, cativar e obter a atenção (e o dinheiro) de um público que é cada vez mais exigente e que tem cada vez mais opções para escolher.

A Sony já admitiu que os portáteis são um grande desafio e que eles realmente atrapalharam nas vendas do Vita. Como o console não consegue decolar, mesmo com os cortes nos preços feitos recentemente, a companhia já buscou uma nova função para o portátil. Ele passará a trabalhar em conjunto com o PS4.

Além disso, os japoneses também apresentarão um novo produto compatível com o vídeo game. Trata-se do Vita TV, serviço que deve unir jogos eletrônicos e serviços televisivos em uma única ferramenta. Segundo a empresa, essa pode ser a chave do sucesso para que o aparelho consiga obter uma fatia maior de mercado.

Já a Nintendo aproveita que o seu console “pegou” em 2013 para atingir um novo público – o mercado infantil. Chamado aqui na redação de “fábrica de vender Pokémons”, o 2DS será lançado pela companhia ainda neste ano, tudo para conquistar também o público infanto-juvenil.

Nintendo 2DS deve turbinar as vendas dos portáteis da Nintendo (Fonte da imagem: Divulgação/Nintendo)

Sem dobradiças, em um corpo mais simples e somente com imagens em duas dimensões, o aparelho teve o seu custo barateado para ficar ainda mais atraente. Em cores vivas e com títulos da franquia Pokémon sendo lançados junto com o 2DS, o gadget tem tudo para ser um sucesso no Natal de 2013.

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Com vários elementos “jogando contra” os consoles portáteis, ainda é possível ver que tais video games ainda têm alguma lenha para queimar. Como dito acima, os números do 3DS estão aí para provar. O futuro, no entanto, pode trazer um caminho cada vez mais tortuoso para esse tipo de aparelho.

A Sony, por exemplo, já sofre, assumidamente, com a concorrência dos smartphones. A Nintendo pode ser a próxima, afinal de contas, até a próxima geração de consoles portáteis, muita coisa ainda pode mudar. Estaremos cada vez mais habituados aos smartphones ao mesmo tempo em que eles também estarão ainda mais poderosos.

Além disso, em um futuro não muito distante, a próxima geração de compradores de consoles portáteis já terá convivido desde muito jovem com os tablets e smartphones, de forma que o seu julgamento na hora de comprar um 3DS “2” pode ser totalmente diferente daquele que nós, “saudosistas”, temos nos dias de hoje. Assim, para os que curtem consoles portáteis, vale a pena torcer para que o mercado continue apreciando as experiências que esses gadgets têm para oferecer.

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