Video game levado a sério: uso dos jogos na vida

5 min de leitura
Imagem de: Video game levado a sério: uso dos jogos na vida

O realismo é uma das características mais comentadas nos games atuais. Gráficos ricos em detalhes, alta definição, movimentos precisos e sons idênticos aos do ambiente que ele representa são aspectos altamente elogiados em diversos títulos da atualidade.

E este realismo todo tem colocado jogos como muito mais do que uma diversão, mas também uma forma eficiente e barata de realizar treinamentos e aperfeiçoar reflexos. O mesmo vale para o aprendizado de comandos em um ambiente muito mais controlado e seguro.

Militares: Estados Unidos e China

Jogos de guerra como Counter-Strike saíram das salas de recreação para o treinamento real. Militares dos Estados Unidos e da China já admitiram o uso de games ou de adaptações para práticas de seu efetivo.

É claro que um video game não é capaz de substituir o treinamento real, com armas de verdade em um ambiente hostil de guerra, mas ele certamente pode ajudar — e muito! O uso de simuladores dentro do exército se provou não só eficiente como muito mais barato.

(Fonte da imagem: Reprodução/Gamespot)

Pilotos de caça afirmam que simuladores são essenciais na hora de aprimorar a coordenação dos olhos e dos comandos, formando profissionais que estão mais preparados na hora de realizar seu primeiro voo de verdade.

De acordo com o pesquisador Corey Mead, autor do livro War Play: Video Fames and the Future of Conflict, essa utilização começou já no final do século passado, logo depois do lançamento de Doom — um título de muito sucesso. Militares norte-americanos utilizaram formas modificadas do jogo para realizar treinamentos específicos.

Atualmente, de acordo com Mead, todos os oficiais do exército dos Estados Unidos têm contato com algum tipo de simulador em determinado ponto de seu treinamento, e um dos jogos mais utilizados é Battlespace 2.

James Namkung esteve no exército norte-americano de 2004 a 2008. Segundo ele, os jogos também são utilizados para um treinamento social. As guerras no Afeganistão e no Iraque mostraram que soldados precisam interagir com culturas diferentes, algo para o qual eles nunca haviam sido preparados. Sendo assim, games que utilizam o oriente médio como pano de fundo e colocam o personagem no meio da população também ajudam a preparar o soldado a se comportar de forma apropriada em áreas de conflito com grande número de civis.

(Fonte da imagem: Reprodução/Kotaku)

Já na China, alguns setores do exército já aderiram ao treinamento virtual. Jogos como Counter-Strike e The Glorious Mission ajudam os soldados a se preparar para batalhas. A ideia é, principalmente, trabalhar a visão e reflexos, melhorando habilidades de observação, adaptação e colaboração com outros soldados.

Petrobrás: simuladores para diversas tarefas

A Petrobrás mantém diferentes convênios e apoios a projetos universitários para desenvolver simuladores para diferentes áreas de ação. Em abril deste ano, a estatal firmou parceria com o SENAI/FIRJAN para a criação de 14 novos simuladores de operação destinados aos profissionais da indústria de óleo.

O investimento é de mais de R$ 80 milhões e visa qualificar profissionais dentro de menos tempo e aumentar a segurança operacional. Assim, será possível atender à alta demanda de capacitação e, ao mesmo tempo, efetuar um treinamento mais em conta e totalmente seguro.

No começo desse ano, a empresa também apoiou o desenvolvimento de um simulador de manobras de navios, na USP. A equipe trabalhou no Tanque de Provas da Poli-USP, em São Paulo, sob a coordenação do professor Eduardo Aoun Tannuri.

(Fonte da imagem: Reprodução/Engenharia é)

O sistema desenvolvido reproduz no computador variáveis referentes aos diferentes portos brasileiros, bem como diferentes condições climáticas e a situação da embarcação (que pode estar carregada ou não, alterando significativamente seu peso). O trabalho começou há dois anos e todos os softwares utilizados no Simulador Marítimo Hidroviário (SMH) foram projetados no próprio Tanque de Provas.

O simulador está localizado em duas salas, com dois equipamentos diferentes. São dez telas de até 46” em uma sala e outra de 6 metros de largura por 2 de altura no ambiente seguinte, com uma réplica de uma cabine de comando — com todos os equipamentos se movimentando simulando o balanço de um navio. Ou seja, além de ter a simulação visual, você tem todo um ambiente preparado para testar e realizar manobras com segurança antes de partir para um navio de verdade.

Auto-escola agora tem uso obrigatório de simulador

Se você ainda não tem carteira de motorista e vai passar pelo processo do Detran, prepare-se para encarar um simulador de direção. A partir de julho de 2013, ele se tornou obrigatório em todas as auto-escolas do país.

O Simulador de Direção Veicular foi aprovado pelos deputados federais em abril deste ano e todo o condutor que deseja obter a habilitação para a categoria B (carros) precisa passar por duas horas e meia de treinamento virtual antes de entrar em um automóvel de verdade.

A ideia é deixar o condutor mais à vontade em diferentes situações nas ruas e estradas, realizando manobras, reconhecendo sinalizações e interagindo com a presença de outros motoristas, pedestres e animais. Além de treinar reflexos e regras do trânsito, o futuro motorista também pode se familiarizar com os comandos do carro — volante, freio, marchas, acelerador etc.

A ideia é ótima e pode deixar a pessoa muito mais confiante na hora de realmente dirigir um carro, mas também tem sua contrapartida, pois aumenta o custo do curso de capacitação. As escolas precisam arcar com o valor do simulador, que varia entre R$ 25 e 30 mil e tem apenas uma empresa licenciada para a venda até o momento.

Uma geração que cresceu com video games

De acordo com o soldado James Namkung, o uso de simuladores pode ser observado por duas ópticas diferentes. A primeira é de que estamos diante de uma geração que já está mais do que familiarizada com o mundo dos games. Jovens que cresceram com a indústria, console após console, jogando títulos cada vez mais completos, complexos e realistas.

Uma pessoa de 18 anos que se alista no exército hoje já nasceu depois que Doom foi lançado. Por outro lado, Namkung afirma ter observado um outro problema nas simulações virtuais do exército: alguns jovens pareciam estar mais interessados em ganhar o jogo do que em aprender com ele.

É claro que nenhum jogo ou simulador pode substituir a experiência da vida real. No entanto, o método de treinamento com a ajuda dos video games tem se mostrado não só eficiente como barato. Gastar milhares de dólares em um simulador ainda representa um custo menor do que colocar o profissional em um campo de treinamento mais realista. Além disso, a prática de reflexos, tiros, manobras etc. deixa a pessoa muito mais bem preparada para encarar o mundo real, se sentindo mais segura e com melhor conhecimento do que vai enfrentar e das ferramentas que tem à sua disposição.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.