Será o fim dos jogos para consoles?

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(Fonte da imagem: Reprodução / Uncharted)

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A pergunta acima já foi respondida. Na verdade, com todas as letras: sim, os jogos para consoles exclusivos estão fadados ao desaparecimento. Isso porque o novo mercado de jogos para celulares conta com desenvolvedores mais “ágeis”, os quais podem lançar novas atualizações para os seus jogos na mesma velocidade em que regurgitam novos projetos — os quais, possivelmente, serão vendidos a poucos centavos de dólares... Ou mesmo distribuídos gratuitamente.

O comentário acima foi convenientemente disparado pelo chefe da Rovio Mobile, Peter Vesterbacka, empresa que colocou no mercado de celulares e afins o hit Angry Birds. Desnecessário dizer que o prognóstico deixou parte considerável da indústria em ebulição.

Entretanto, ainda em relação à previsão, talvez caiba a seguinte pergunta: além da óbvia tentativa de monetizar um gênero que experimenta óbvia ascensão, o mercado de games, de fato, experimenta uma mudança radical? Uma mudança que, talvez, poderia mesmo soterrar parte das práticas relacionadas à produção de blockbusters que existem atualmente?

(Fonte da imagem: Reprodução / Angry Birds)

 De fato, o chefão da Nintendo, Satoru Iwata, chegou a manifestar abertamente seus temores em relação ao terreno que vem sendo tomado por passarinhos e fazendas durante a última edição da feira GDC (Game Developers Conference). Basicamente, no que tange ao futuro da criação de games em um cenário consideravelmente atulhado. “Poucos jogos se tornam mega-hits, mas isso não é fácil”, afirmou Iwata. “Com semelhante competição, mesmo ser notado é extremamente difícil — e grandes investimentos não prometem nada.”

Sentencioso, ele continua: “Agora, considere isto: o número de jogos disponíveis em sites de aplicativos fica em torno das dezenas de milhares. O desenvolvimento de jogos está afundando”. Afinal, o cenário atual é realmente catastrófico? Nós devemos nos despedir de títulos como Metal Gear Solid, Mario Galaxy e Gears of War, já que dentro de alguns anos estaremos todos arremessando pequenos animaizinhos coloridos em catapultas? Talvez o buraco seja mais embaixo. Na verdade, vale a pena analisar.

É hora de reinventar as rotinas de produção de games?

A pedra angular do argumento dos desenvolvedores para celulares e navegadores parece repousar sempre no mesmo ponto: quem pagaria dezenas de dólares por um jogo de grande porte quando há toda uma gama de pequenas maravilhas sendo vendidas por alguns poucos centavos?

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Ao acompanhar os números mais recentes do mercado de jogos, é fácil engrossar o coro pró-Angry Birds. Mesmo grandes mercados, como os EUA, têm apresentado queda considerável em lucros oriundos do comércio tradicional de jogos — aqueles adquiridos em mídia física através de varejistas. As vendas no país movimentaram US$ 18,58 bilhões (aproximadamente R$ 30 bilhões), em uma queda de 6% em relação ao ano anterior.

De fato, declínios semelhantes têm sido registrados em outras partes do globo, como no Reino Unido, cujas vendas em 2010 apresentaram queda de 13% em relação a 2009 e 29% em relação ao ótimo ano de 2008.

Segundo Nicholas Lovell, da GamesBrief, o movimento pode acabar forçando mudanças nas grandes publicadoras. A questão, entretanto, é saber exatamente quantos jogadores estão dispostos a trocar seus consoles por jogos para Facebook, navegador ou celulares. “Certamente, caso se torne claro que metade do público dos consoles não está mais adquirindo jogos para consoles, isso fará com que as publicadoras pensem com cuidado sobre a viabilidade estratégica de manter o suporte para consoles”, afirmou Lovell ao site Eurogamer.

Um horizonte mais amplo - novas tecnologias, novas formas de jogar vídeo games

Mesmo com o declínio incontestável nas vendas de blockbusters em suas versões físicas, ainda não fica exatamente claro se esse movimento pode mesmo acabar por excluir jogos longos e caros. “Para mim, trata-se apenas de deixar a torta crescer”, afirmou o chefão da franquia Gears of War, Rod Fergusson, ao site Eurogamer.

Em outras palavras, pode ser um equívoco assumir a existência de homogeneidade entre o público de games. Embora celulares e navegadores sirvam como chamariz para a criação de uma nova cultura gamer, parece pouco provável que as formas anteriores de jogar simplesmente caiam em um ostracismo. “Eu vou desistir do meu momento com um blockbuster para console para jogar Angry Birds? Provavelmente não”, disse Fergusson.

Ele continua: “Mas eu vou jogar Angry Birds durante um voo? É claro que sim. (...) Só porque uma nova forma se mostra, isso não implica a morte instantânea do formato anterior”.

Fast-food vs. à la Carte

Um mercado mais abrangente e com públicos distintos? Talvez uma analogia do bom e velho Michael Pachter ajude a tornar mais compreensível a ideia: “É como se o McDonalds dissesse que ninguém mais vai comer em churrascarias porque os cheeseburgers são um sucesso. McDonalds e Rovio [Angry Birds] conferem um valor fenomenal ao dinheiro, mas fast-food é fast-food, seja para comida ou video game.”

Realmente não é difícil entender o comentário gastronômico do Sr. Pachter. Quer dizer, Angry Birds provavelmente jamais poderia substituir a experiência de um título grande — Call of Duty, digamos —, já que as propostas são consideravelmente distintas. Ou, como colocou o analista Jesse Divnich, tratam-se de níveis de envolvimento distintos. “Eu ainda estou por ver um jogo para celular ou mídia social que consiga me envolver emocionalmente da forma como conseguem jogos focados na história, como Uncharted 2.”

Ainda uma indústria uniforme?

Ao analisar o panorama atual da produção de entretenimento digital, pode-se, com relativa facilidade, chegar à seguinte conclusão: jogos casuais e rápidos podem não representar um perigo à existência dos grandes projetos sugadores de dólares — embora certamente apresentem a necessidade de uma reelaboração dos processos de produção.

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Em contrapartida, também parece pouco provável que a tendência criada por altos níveis de conectividade e pela ascensão dos celulares (e afins) como plataforma de jogo possa desaparecer sem deixar vestígio.

Dessa forma, qual seria exatamente o futuro da indústria de games? Bem, segundo o diretor da Hogrocket, Bem Ward, torna-se cada vez mais difícil aplicar o termo “indústria de games”.

Conforme disse Hogrocket ao site Eurogamer, as pessoas estão jogando mais do que nunca, embora não necessariamente em frente às suas TVs. “Sim, ainda é a indústria de games, mas ela se tornou tão ampla que chega a ser quase um desserviço utilizar apenas um nome para designá-la.”

Em outras palavras, “dizer que não há sentido nos jogos para Facebook é quase tão ridículo quando tizer que os shooters de guerra não têm seu mérito. Nós precisamos de ambos”. Em suma, parece menos lógico falar de substituições do que de novos formatos para novos públicos.

Via Baixaki Jogos

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