Sing Sing: drama prisional norte-americano é um retrato do poder redentor da arte

Ao ler a sinopse de Sing Sing, o mais recente longa de Greg Kwedar, indicado a três categorias do Oscar 2025, pode-se, em um primeiro momento, enxergá-lo como apenas mais uma entre tantas produções que retratam a vida nas prisões e o sistema carcerário.
No entanto, sob uma perspectiva redentora, o foco não está apenas nas relações criminais, nas injustiças ou na hierarquia dentro da prisão, mas sim na construção de personagens que encontram algum tipo de redenção por meio da arte.
Da realidade para a ficção
Dirigido por Greg Kwedar e roteirizado por Clint Bentley, o longa é uma adaptação da reportagem publicada pelo jornalista John H. Richardson em 2005 na revista Esquire, além do livro Performing New Lives: Prison Theatre (2010), que conta com a coautoria do roteirista, diretor e produtor Brent Buell.
Tanto a reportagem quanto o livro acompanham o dia a dia de Divine G, um dos participantes mais engajados do RTA (Rehabilitation Through the Arts), programa que promove a criação de peças teatrais com detentos no presídio de Sing Sing, em Nova York. Das páginas do livro para a telona, no filme de 2023, Divine G ganha vida por meio da brilhante atuação de Colman Domingo, que fez jus à sua indicação ao Oscar de Melhor Ator na premiação de 2025.
A arte como um refúgio e redenção

O longa acompanha os momentos que antecedem a estreia de uma nova peça — uma comédia criada coletivamente — na qual os detentos embarcam em uma viagem no tempo. Durante o processo de seleção e ensaios, somos apresentados a cada um dos integrantes da montagem e envolvidos em uma narrativa de forte carga emocional.
Surpreendentemente, e em um detalhe que reforça ainda mais o valor da obra, o espectador é apresentado aos integrantes originais da peça em que o longa se baseia. No filme, esses homens interpretam a si mesmos, revivendo a experiência que tiveram quando estavam presos e apresentaram, anos atrás, a mesma peça ao público.
Um filme para poucos
A história de Sing Sing se constrói em meio a contrastes. Enquanto acompanhamos os ensaios, os exercícios e os monólogos dos prisioneiros-artistas, também somos confrontados com o ambiente frio, cinzento e sufocante da prisão americana. A todo instante, o espectador é lembrado do papel essencial do programa: ser um refúgio para os detentos — presos não apenas fisicamente, mas também aprisionados dentro de suas próprias mentes.

Divine G, o entusiasta do programa RTA, é um protagonista por quem o espectador facilmente torce. Carismático e determinado, ele personifica a realidade de milhares de homens negros encarcerados, que, mesmo tendo sua inocência provada, ainda precisam lutar contra um sistema que insiste em mantê-los atrás das grades.
Sing Sing é um filme emocionante e necessário, mas voltado para um público seleto — aqueles que realmente acreditam no potencial da ressocialização. É uma obra dedicada, também, a quem vê na arte uma poderosa ferramenta de transformação. Sendo assim, um filme para poucos.
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