Meu Amigo Robô é uma animação linda e que diz muito mesmo sem falar (crítica)
O quanto pesa um dia de solidão? É essa pergunta que você pode se fazer quando as primeiras cenas de Meu Amigo Robô surgem na tela e você descobre o protagonista preso em seu apartamento sem uma companhia e sem perspectiva de tê-la.
Vale dizer que a animação se passa em uma Nova York dos anos 1980, mas aqui todas as pessoas foram substituídas por animais das mais diversas espécies — e talvez isso desperte ainda mais empatia em alguns espectadores, pois nosso protagonista solitário é um simpático cachorro.
Na TV, o cachorro vê um anúncio de uma nova linha de robôs de companhia e decide encomendar um. A expectativa da chegada é percebida facilmente e assim que o robô finalmente chega é que começamos a aprofundar a história, que apesar de nenhuma pessoa, é humana demais.
Uma trama que diz muito sem falar nada
Eu sou o tipo de pessoa que possui dificuldade com filme muito contemplativo. Apesar de amar ficção científica, tenho ressalvas com os poucos diálogos de 2001: uma Odisseia no Espaço e quando soube que Meu Amigo Robô era um filme sem diálogos fiquei um pouco reticente. Felizmente decidi deixar isso de lado e assisti, porque a história consegue dizer muito.
Filme foi indicado na categoria de Melhor Animação no Oscar 2024
Destaque para os desenhistas, animadores e equipe de som, que conseguiram imprimir emoções e conversas completíssimas apenas com expressões e interações sonoras. A direção também é excelente e consegue compor cenas com montagens belíssimas.
Eu particularmente consegui dar muitas risadas em boa parte das interações, assim como também me emocionei em vários outros momentos.
ATENÇÃO: O TRECHO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS
Antes da metade do filme, Meu Amigo Robô nos apresenta ao grande desafio da trama. Após um dia de praia, o Robô acaba ficando emperrado e o Cachorro precisa ir embora sem ele. Quando volta para o resgate, vemos que a praia está fechada e interditada até o verão. O Cachorro tenta voltar, mas sempre é impedido.
O título original do filme é “Robot Dreams” (Sonhos de Robô, em tradução livre) e faz mais sentido a partir desse ponto. Por várias vezes eu tive certeza de que o Robô estava sendo resgatado ou conseguindo voltar para casa, encontrando o Cachorro e voltando a ser feliz. Mas logo isso era destroçado pela realidade. Vale dizer também que o nome "Meu Amigo Robô” acaba apagando um pouco a interpretação romântica que podemos ter do filme.
ATENÇÃO: AGORA VEM MAIS SPOILER AINDA
Com o desenrolar da história, o Robô sofre como sucata e depois é resgatado, sendo reformado por um Guaxinim habilidoso. Uma metáfora muito bonita e romântica: depois de despedaçado, ele é consertado e pode voltar a ser um Robô feliz.
Uma das cenas mais bonitas acontece quando o Robô está fazendo um churrasco com o Guaxinim e vê o seu amigo Cachorro andando pela rua — com um novo robô. Ele se imagina correndo e reencontrando o cão, mas também imagina o que seria do Guaxinim e do novo Robô.
Nesse ponto vemos que a grande moral de Meu Amigo Robô está no fato de que o amor muitas vezes se manifesta pelo “deixar ir” em vez de ser pelo “ficar”. E essa mensagem é forte e emocionante, colocando uma cereja de verdade — não de chuchu — em cima do bolo.
Em resumo: Meu Amigo Robô é uma das melhores animações que eu já vi, torço pra que ela ganhe um Oscar em 2024 — algo que talvez mude depois de eu ver O Menino e a Garça. E confesso que depois de assistir a esse filme eu fiquei muito empático com robôs e — brincadeira, é claro — nem ligo mais se a inteligência artificial acabar com a humanidade.
“Meu Amigo Robô” é uma animação infantil?
Para responder a essa questão eu precisei da ajuda de um amigo especialista. Falei com o Walkir Fernandes — ilustrador e diretor de animações premiado, sócio do estúdio Dogzilla — e ele me contou que foi o filho de cinco anos assistir ao filme.
A história não é feita somente para crianças e boa parte das nuances da história demandam um pouco mais de maturidade, mas não há nada impróprio ou enfadonho para os pequenos. Um típico caso de animação para divertir crianças e emocionar mães e pais.
Categorias