Will & Grace mais relevante do que nunca (opinião)

Minha Série
Imagem de: Will & Grace mais relevante do que nunca (opinião)

Embora os revivals estejam mais na moda do que nunca, é relativamente raro ver uma série antiga, encerrada há anos, retornar para uma temporada completa, ignorando tudo o que ocorreu em seu último episódio. É como começar de novo. Pois foi exatamente o que Will & Grace fez ao retornar para a nona temporada, com a décima já confirmada na gaveta.

E se em 1998, época com quase zero representatividade na TV, Will & Grace fez história ao levar aos lares norte-americanos a cultura LGBT de forma natural, em 2017 a série volta justamente quando o mundo parece viver um onda de retrocesso assustadora, especialmente após a vitória de Donald Trump como presidente dos EUA. Mesmo quase 20 anos após sua estreia e 11 anos depois de seu final, Will &Grace segue relevante e necessária.

Para quem não conhece, Wil & Grace é uma criação de David Kohan e Max Mutchnick que gira em torno da relação de Will Truman (Eric McCormack), um advogado gay, e sua melhor amiga, Grace Adler (Debra Messing), uma decoradora de interiores hétero. Os dois vivem acompanhados de seus amigos Karen Walker (Megan Mullally), uma socialite riquíssima, que vive bebendo e “trabalha” para Grace apenas por hobby, e Jack McFarland (Sean Hayes), um aspirante a ator gay.

A série, tal como era de se esperar, continua bastante política. Se nos anos 1990 e início dos anos 2000 a comédia teve um impacto absurdo na cultura LGBT, nesta década Will & Grace volta com mais liberdade, ampliando o leque de piadas e aproveitando os progressos, muitos causados justamente por ela, mas sempre tocando em feridas ainda sensíveis ao público mais conservador.

Se na segunda temporada, por exemplo, a série reservou um episódio inteiro para discutir por que os canais de TV não exibiam beijos entre pessoas do mesmo sexo, o nono ano coloca dois homens se beijando na frente de várias crianças que estão presas em um acampamento de reversão de suas, digamos, inclinações homossexuais. A famosa cura gay. Absurdo? Basta olharmos para a realidade brasileira.

De forma inteligente, a série também resolveu voltar sem se levar muito a sério, confiante de que o público nostálgico aprovaria as decisões criativas. Ao mesmo tempo, o texto está mais ácido do que nunca, tirando sarro basicamente de toda a concepção de Donald Trump do que seria a América. Ou seja, Will & Grace volta falando de hipocrisia, heteronormatividade, homens brancos no poder e conservadorismo. E é pelas atitudades da ótima Karen que conseguimos ver o quão patética pode ser uma pessoa reacionária e preconceituosa. Só que a série consegue fazer isso brilhantemente, quando nós rimos dela, e não com ela.

Outro grande acerto foi ignorar tudo o que ocorreu nos episódios finais, o que poderia enfraquecer a série. Grace e Will não estão mais casados com seus companheiros, Jack também está solteiro, e Karen, bem, continua casada com Stan (que havia morrido, mas foi ressuscitado para o revival). Todas as explicações são nonsenses, sem nenhuma preocupação com a verossimilhança. Os atores, obviamente, estão bem mais velhos, e o roteiro brinca constantemente com isso. Assim, Will & Grace acaba sendo uma série sobre personagens quase em seus 50 anos, sem crianças, casamento e abertos a todas as possibilidades.

Contudo, o mais interessante mesmo é que a série ainda consegue captar a realidade LGBT em seus pormenores, mas agora em uma sociedade mais liberal e com milhões de possibilidades. Jack experimenta aplicativos de encontros rápidos, Will tem um encontro com um jovem que não conhece a relevância de Madonna, e Grace sofre por não se sentir mais à vontade com o próprio corpo. Em uma TV onde os atores jovens ganham o protagonismo, Will & Grace mostra, de novo, representatividade.

Não dá para saber quanto tempo a comédia durará novamente, especialmente porque a série pode perder um pouco de força quando a nostalgia passar. Entretanto, os roteiristas acertaram em cheio em continuar a produção como se ela nunca tivesse acabado e, surpreendemente, com o mesmo nível de qualidade de suas temporadas anteriores. Em uma TV que descobriu que despedidas podem ser lucrativas, mas que voltas acabam sendo bem mais, Will & Grace retorna sendo um exemplo de série com fôlego simplesmente porque ainda tem muito o que falar.

Este texto foi escrito por Rodrigo de Lorenzi via N-Experts.

Cupons de desconto TecMundo:
* Esta seleção de cupons é feita em parceria com a Savings United
Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.