Dark é instigante, mas se perde tentando ser muito grandiosa (opinião)

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A série alemã Dark, criada por Baran bo Odar, é um desses projetos surpreendentes de países sem tanto reconhecimento popular por obras audiovisuais que a Netflix exibe para o mundo inteiro, assim como fez com a brasileira 3%. O potencial dela fica claro logo no primeiro episódio, mostrando sobre o que se trata realmente sem ter medo disso, mas a grandiosidade ambiciosa que os criadores pretendiam não se sustenta no decorrer dos episódios.

Na trama, três famílias de uma pequena cidade alemã estão conectadas por eventos que aconteceram no passado. Porém, esse vínculo entre elas começa a ficar ainda mais latente quando dois garotos desaparecem, dando início a uma grande investigação que mobiliza todos e gera indagações sobre várias pessoas do lugar.

Dark inicia sua narrativa com muita efetividade: logo nos primeiros minutos, nota-se que sua trama acontece em linhas do tempo bastante diferentes, mas extremamente conectadas. A partir daí, o espectador fica instigado a descobrir a verdade de tantos mistérios que começam a surgir. Parte do funcionamento disso fica por conta da excelente trilha sonora, que cria um tom enigmático e de perigo ao mesmo tempo.

Enquanto tece uma trama megalomaníaca em que cada personagem é vital para que os eventos funcionem com perfeição, a narrativa não se importa em nenhum momento em fazer com que eles pareçam reais. Discussões, brigas, reconciliação e até mesmo a interação entre familiares em um café da manhã do primeiro episódio soam artificiais. Isso é culpa tanto da direção quanto do roteiro, que só está preocupado em fazer com que cada pessoa seja uma peça dentro de um quebra-cabeça gigantesco, mas se esquece de dar vida real a cada uma delas.

A edição consegue dar ritmo aos vários núcleos que são construídos, independentemente de qual época da história seja o foco. O problema é quando ela acredita que é genial demais para o próprio espectador entender o que está acontecendo, usando elementos visuais extremamente didáticos, mesmo quando a situação é óbvia.

Por não ter um protagonista efetivo, já que a trama transita por vários núcleos, não há muito tempo de tela para que os personagens sejam tão bem desenvolvidos, apesar de ficar compreensível o caminho que eles traçaram com o passar dos anos. O único ator a aparecer nos 10 capítulos é Oliver Masucci, intérprete de Ulrich Nielsen. Ele tem tempo de tela suficiente de mostrar todas as nuances que envolvem o seu papel. Outros destaques do elenco são Maja Schöne, capaz de entregar com facilidade a psicótica Hannah, e o jovem Daan Lennard Liebrenz, o pequeno Mikkel, o ator mirim que mais se destaca entre eles.

Assim como o suspense que conduz a trama, a fotografia fica empobrecida com o desenrolar da história. Embora nos primeiros episódios ela consiga dar o ar sombrio adequado, os últimos perdem a beleza antes demonstrada e se tornam genéricos. O figurino também oscila com coisas simples. Quando ele precisa demonstrar a época em destaque pela trama, ele não peca, principalmente gerando contraste entre moderno e antiquado. Em compensação, soa preguiçoso quando repete o visual de personagens importantes diante da necessidade de mudança, seja para fugir de questões absurdas ou de amarras do suspense que o roteiro tenta criar.

Dark começa instigante e até mesmo surpreendente, principalmente por apresentar em escala global uma produção alemã, mas a trama de Baran bo Odar se torna megalomaníaca e pretensiosa demais, até mesmo se considerando muito inteligente para o espectador. Ao mesmo tempo, ela deixa mais pontas soltas do que conclusões, seja para situações de suma relevância ou para questões pequenas que acabam sendo fundamentais nesse quebra-cabeça. É interessante acompanhar a jornada pelos suspenses que envolvem essa cidade, mas faltam desfechos dignos para que ela realmente mereça uma segunda temporada.

Este texto foi escrito por Gustavo Rodrigues via N-Experts.

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