Devilman Crybaby revitaliza clássico japonês que questiona a humanidade

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A Netflix tem investido massivamente em animes nos últimos anos, criando conteúdo para histórias novas ou revitalizando enredos já conhecidos do público — caso em que se encaixa Devilman Crybaby. A versão da plataforma de streaming para a animação dos anos 70 mantém sua premissa de demônios infiltrados na sociedade e a luta de Akira Fudo, que possui os poderes do demoníaco Amon, para tentar manter a humanidade em paz, mas também apresenta novas situações que refletem os dias atuais.

Nas mãos do diretor Masaaki Yuasa e com roteiro de Ichiro Okouchi, Devilman Crybaby foge muito do que o público brasileiro de anime está acostumado se levarmos em conta as animações que mais ficaram populares no país, principalmente na época da saudosa Manchete. Por mais que mantenha a classificação de shonen, história que acompanha a evolução de um jovem garoto dentro daquele universo, a adaptação da Netflix não se limita aos problemas desse gênero e, ainda, amplia seu repertório enfatizando algumas personagens femininas.

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Assim como nas versões anteriores para televisão, filme ou até mesmo no mangá original de Go Nagai, a trama do protagonista Akira é repleta de conteúdo gráfico, configurando todas as versões como conteúdo para adulto. Devilman Crybaby demonstra isso desde o seu episódio de abertura. Há cenas de sexo, drogas e muito sangue. Entretanto, em poucas situações isso soa como apelação ou uso gratuito de algo que vai chocar o espectador; fica claro que há uma função narrativa para isso.

Ao mesmo tempo que existe esse conteúdo gráfico transbordando pela tela, o roteiro traz temas em seu subtexto que são corroborativos com aquilo e, assim, dá espaço para possíveis discussões. Profanidade versus inocência, inveja, necessidade de sentir-se popular, xenofobia, política internacional, abuso sexual, redes sociais, preconceito, religião etc. Todos esses temas têm um espaço importante, seja para compor as reações dos eventos da trama ou criar personalidade de vários personagens. Isso dá mais credibilidade ao que foi a construção desse mundo e também mostra a competência de ajustar um clássico para os dias atuais.

Um desses aprimoramentos para a atualidade é um grupo de jovens que cantam rap. Eles trazem um aspecto novo ao anime e, ao mesmo tempo, servem como recurso explicativo de algumas críticas sociais que a trama possui, já que esse estilo musical é popularmente conhecido por tal abordagem. Tanto as músicas apresentadas por esses personagens quanto as outras que compõem a trilha sonora são assertivas, seja para reverberar os elementos psicodélicos nas festas que são mostradas ou para dar peso dramático, algo que as animações japonesas tendem a fazer muito bem.

O drama que a narrativa constrói consegue ser desolador em vários momentos, já que o roteiro faz com que o espectador nutra empatia por aqueles personagens ou considere algumas mortes trágicas demais para não se comover com aquilo. Em um dos episódios, os criadores entendem como aquilo é um momento sofrido e, assim, bolam uma cena pós-créditos que enfatiza essa tristeza.

A estética visual de Devilman Crybaby é compatível com a sua narrativa: tem traços mais limpos, claros e humanos quando a calmaria é o que predomina na história. Quando o caos se instala, ganha um tom grotesco e escuro. Mesmo assim, não é uma animação primorosa como outras de hoje em dia, como One Punch Man, mas ainda assim consegue entregar bem o seu propósito, mesmo que pareça preguiçosa em determinadas situações.

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A versão da Netflix é uma adaptação bastante respeitosa às produções anteriores de Devilman, o que vai gerar até algumas referências, mas traz mudanças em pequenas estruturas da história, principalmente transformando o Akira Fudo em uma pessoa muito emotiva e dando ao coprotagonista Ryo uma personalidade mais ardilosa.

Devilman Crybaby é um anime adulto que a princípio parece comum e sem algo novo, mas consegue adaptar uma obra dos anos 70 com excelência para os dias atuais, trazer novas abordagens questionando a sociedade e criar um sentimento aflitivo ao espectador com situações impactantes. Não há pudor na trama, seja para criar cenas com conteúdo explicito, tocar em assuntos polêmicos ou na violência que ganha presença durante os 10 episódios, mas é necessário estar preparado para algo que pode soar perturbador e doentio durante o processo de compreender o conceito da obra.

Este texto foi escrito por Gustavo Rodrigues via n-Experts.

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