Altered Carbon mostra potencial, mas se limita a uma história esquecível

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Altered Carbon, a adaptação televisiva da Netflix para o romance do escritor inglês Richard K. Morgan, usa a atmosfera do cyberpunk já conhecida popularmente em Blade Runner, que é uma referência visual clara, mas sem o aprofundamento das questões filosóficas que Ridley Scott e Denis Villeneuve abordaram no cinema. Contudo, ao contrário do que os longas propuseram, a série trabalha intensamente com um caso policial banhado em sangue e repleto de mistérios, o que reflete em várias reviravoltas nem sempre efetivas.

Na trama, Takeshi Kovacs (Joel Kinnaman) volta à vida em um novo corpo, devido à tecnologia que permite às pessoas desse universo reviverem sempre que há um backup da sua consciência ou quando a morte não destrói o cartucho presente na cabeça. Ele é ressuscitado por um homem poderoso que deseja entender quem o assassinou, e assim desencadeia uma investigação envolvendo vários elementos dessa sociedade.

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Os aspectos visuais de Altered Carbon chamam atenção pela forma como os ambientes são criados e como a fotografia tira proveito do cenário para criar o contraste entre a escuridão predominante e as luzes neon. A direção utiliza esse aspecto entre trevas e claridade quando explora um local sobre as nuvens e que é destinado apenas aos mais ricos, criando uma analogia da divindade desses cidadãos poderosos com as pessoas que sofrem nas áreas terrenas desse mundo.

Mesmo que o roteiro seja focado na vida dramática de Takeshi Kovacs, realçada ainda mais pelos flashbacks do seu passado ao lado da irmã Reileen (Dichen Lachman) ou em seu período de aliado à rebelde Quellcrist Falconer (Renée Elise Goldsberry), a série ainda passeia por histórias paralelas que ganham força necessária para criar vínculo com o grande arco. Essas pequenas tramas são chaves para acrescentar vários elementos importantes àquela realidade, mas fazem com que o grande "x" da questão, que é o assassinato investigado pelo protagonista, torne-se algo pouco explorado. Isso, por sua vez, gera pouco impacto quando o espectador descobre o que está por trás daquele crime, principalmente pelo clima de novela das 20h que toma conta da revelação durante o último episódio.

Enquanto a narrativa dos episódios iniciais parecem colocar as mulheres apenas em situação de violência ou nudez gratuita, elas crescem progressivamente na trama, mostrando uma força que vai além do corpo desnudo para cenas de sexo. A policial Kristin Ortega (Martha Higareda) ganha espaço de coprotagonista, desenvolvendo suas motivações e tendo tempo de tela suficiente para concluir seu arco.

Um dos claros problemas de Altered Carbon está na atuação, principalmente na fraca interpretação de Joel Kinnaman para o protagonista — mas também do ator Will Yun Lee. Ele tem dificuldade de entregar as cenas que pedem mais dramaticidade, além de não conseguir mostrar uma evolução emocional do próprio personagem. Isso evidencia ainda mais os tropeços de direção da série, que não consegue criar aspectos visuais claros na personalidade de Kovacs nas diferentes capas que ele utiliza, até mesmo nas cenas de luta. Essa falha de condução da história está presente até nos episódios dirigidos pela criadora da produção Laeta Kalogridis, que assina o ótimo episódio de abertura e a péssima conclusão de temporada.

Altered Carbon é um deleite para quem gosta dos elementos cyberpunk, mas prefere muito mais o estilo policial à ficção científica, afinal há bem mais espaço para investigação e cenas de ação sangrentas. Por outro lado, trata-se de um desperdício para o potencial filosófico enorme que há para a adaptação do romance de Richard K. Morgan, ainda mais quando o episódio final se torna uma combinação de clichês novelescos.

Este texto foi escrito por Gustavo Rodrigues via n-Experts.

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