Como o complexo de supermulher está afetando a saúde de mulheres negras?

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ATENÇÃO: Contém spoilers das últimas temporadas de Scandal, How To Get Away With Murder e Grey's Anatomy.

O que Olivia Pope (Scandal), Annalise Keating (How To Get Away With Murder) e Miranda Bailey (Grey's Anatomy) têm em comum além de terem sido escritas por Shonda Rhimes? Todas são personagens fortes, bem resolvidas, interpretadas por mulheres negras e com uma necessidade gigantesca de parecerem mais fortes do que a média.

Annalise é uma advogada hot shot contratada por criminosos de todo tipo, normalmente endinheiradíssimos. Ela é capaz de colocar seus alunos e sua equipe de defensores para inventar cada coisa com moral duvidosa que ninguém imaginaria.

Olívia, por sua vez, é uma resolvedora de problemas inteligentíssima, conhecida por lidar com toda e qualquer situação e ocultar todo tipo de cadáver para seus clientes — inclusive os literais.

Miranda Bailey também não deixa barato. Ela galgou seu caminho durante as temporadas de Grey's Anatomy até virar chefe de cirurgia do hospital Grey Sloan, baseada em seu talento e sua personalidade.

O que elas ganharam com isso além da fama astronômica em suas carreiras? Olivia foi sequestrada, manipulada e negligenciou sua felicidade mais do que uma vez. Annalise carrega nas costas tanta culpa que se vê por vezes consumida e afogada no alcoolismo. Já Miranda acaba de ter um ataque cardíaco e o manteve escondido de todos para não demonstrar sua fraqueza.

Esses três exemplos evidenciam o que algumas estudiosas vêm chamando de "síndrome de supermulher", um estereótipo social cada vez mais forte dentro de séries e filmes e que pode estar afetando a saúde psicológica das mulheres negras que consomem esses produtos.

A psicóloga clínica Jazz Keyes diz que a imagem que essas personagens passam acaba criando um padrão inalcançável para tantas mulheres que não possuem os mesmos recursos para chegar a situações parecidas.

Isso não vale apenas para as afrodescendentes, é claro, mas como os desafios enfrentados por elas em geral são maiores do que os das brancas (por questões de herança cultural), elas são especialmente afetadas por essa síndrome.

"Mulheres negras estão sempre nesse status de descobrir, conquistar, serem essas guerreiras. Isso é algo incorporado no subconsciente da mulher: de que mulheres negras podem suportar tanta coisa e, ainda assim, subir ao topo."

Cheryl Giscombe, outra pesquisadora preocupada com os efeitos desse complexo de super-heroína, lista cinco características dessa síndrome: a obrigação social que se cria de apresentar uma imagem de força; a obrigação de suprimir emoções; a resistência à vulnerabilidade; a motivação para ser bem-sucedida apesar dos recursos limitados; e a necessidade de cuidar dos outros, em contraste com a ausência de autocuidado.

Impactos

O resultado de tantas exigências teria ampliado não apenas o espectro de exemplos nos quais as mulheres negras podem se espelhar para viverem suas vidas, mas também o nível de exigência de quem já tem mais obstáculos para chegar onde quiser.

As pesquisadoras dizem que isso pode ter relação, por exemplo, com o aumento da obesidade dentro desse público — 56,9% delas, acima de 20 anos, estão na linha da obesidade. Pressão alta, câncer de mama e altos índices de estresse são outras questões que podem estar relacionadas ao complexo de supermulher.

Como resolver essa questão? De maneira nenhuma estamos incentivando que o cinema pare de fazer mulheres fortes e destemidas. Muito pelo contrário! A representatividade de afrodescendentes nos cinemas é uma luta constante do movimento negro — especialmente as vertentes femininas e feministas.

Depois de uma infinidade de papéis subalternos, secundários ou hipersexualizados, elas finalmente estão sendo retratadas como advogadas, médicas, executivas, pessoas capacitadas — a própria síndrome da mulher-maravilha pode ser consequência dessa nova representatividade. E tudo isso é ótimo, se olharmos do jeito certo.

A solução, segundo as especialistas, pode estar em mostrar essas mulheres em toda a sua complexidade — ou seja, revelar também as dificuldades, os desafios e, acima de tudo, a necessidade de se cuidar, em vez de cuidar apenas dos outros.

De acordo com elas, a mensagem que podemos (e devemos) tirar dessas personagens é a de que é possível, sim, ser incrível, mas respeitando seus próprios limites.

Este texto foi escrito por Lu Belin via n-Experts.

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