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Psychokinesis: quando os coreanos merecem um herói à sua altura (crítica)

schedule30/04/2018, às 11:26

Depois de ter conquistado o público ao redor do mundo com as empolgantes cenas deTrain To Busan (Busanhaeng, no original, ou Invasão Zumbi, seu nada criativo título em português), o diretor Sang-Ho Yeon parece mais do que disposto a provar que o cinema coreano é capaz de realizar filmes tão grandiosos quanto aqueles que se fazem diariamente em Hollywood. Com Psychokinesis, seu mais novo longa de produção original da Netflix, o cineasta comprova que a grandiloquência dos efeitos visuais e críticas socioeconômicas podem coexistir sem necessariamente perder a graça da obra.

A narrativa escrita pelo próprio diretor nos apresenta a jovem Ru-mi (Eun-Kyung Shim), uma empresária de sucesso com sua frangaria que, após um acidente familiar consequente de um ataque de capangas de uma empreiteira, precisa retomar a relação com seu pai que há muito a abandonara e que tampouco se faz um modelo exemplar. Seok-Hyeon (Seung-Ryong Ryu) é um típico homem desleixado de meia-idade que trabalha como segurança em um banco e não dá bobeira quando se trata de pegar alguns vários pacotinhos de café solúvel e até um rolo de papel higiênico da agência para seu uso particular. Longe de ser um mau-caráter, Seok só é um adepto do "jeitinho": tem ciência de que o que faz é proibido, mas não vê problema em consumir o que não é aproveitado por outros.

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Adquirindo o poder de levitar qualquer coisa que julgue capaz a partir de uma circunstância que comenta por diversas vezes — mas sem jamais associar isso à queda de um meteorito na região —, Seok vê aí uma oportunidade para entrar no ramo do show de mágicas e prover o sustento da hesitante filha. É quando ela se encontra em perigo que o homem também passa a entender que sua nova habilidade especial pode ser utilizada no amparo aos indefesos. Esqueçam, portanto, as ameaças robóticas e terroristas que a Marvel encenou nas cidades sul-coreanas em, respectivamente, Vingadores: Era de Ultron e Pantera Negra: aqui Yeon toma como pretexto a clássica luta do indivíduo popular contra o sistema burguês e corrupto na criação de seu próprio conto de super-herói ou, como é falado mais tarde em cena, de um "superoprimido".

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Embora deixe de lado a construção do afeto entre filha e pai senão por meio da ação sempre com uma ânsia de exibir seu domínio na mescla de efeitos práticos com aqueles feitos por computação gráfica, Sang-Ho também faz questão de esbanjar um bom humor que se reflete em sua gente retratada mesmo quando a esperança parece mínima. Assim, enquanto os combalidos populares desalojados encontram suas forças uns nos outros, o empreiteiro vilão só consegue esconder a sua afetação quando está atrás de um maior número de asseclas (igualmente incompetentes) ou de uma tropa de choque.

Nisso, o herói crescente luta — mas (se) entretém — com sua psicocinese fazendo os mais variados trejeitos para derrotar seus adversários, acarretando em um clímax não menos que hercúleo e emocionante com bons movimentos de câmera que só contribuem na tensão alcançada pela montagem — apesar de não diminuir o flerte que o filme passa a ter com o que chamam de destruction porn, tão comum no cinemão americano.

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Psychokinesis (ou Yeom-Lyeok), enfim, pode não ser o maior ou o melhor representante do cinema de ação sul-coreano, a julgar pela brevidade de seus discursos ou até mesmo pelo retrato um tanto quanto abobado das personagens a fim de ceder maior margem para o espetáculo e, dessa forma, abrir as portas de Hollywood para Sang-Ho da mesma forma que seu conterrâneo Joon-Ho Bong conseguiu com Memórias de Um Assassino e O Hospedeiro, realizando posteriormente os internacionais O Expresso do Amanhã e Okja.

Entretanto, é curioso como os elementos apresentados no roteiro de Psychokinesis se fazem tão universais que a história poderia se passar em qualquer lugar do mundo, inclusive em terras tupiniquins. Seja pelo amontado das portas de comércio popular ou pelas artimanhas das empreiteiras e sua especulação imobiliária com várias cartas na manga que beneficiam apenas aqueles que se julgam no poder, são várias as coincidências ilustradas em cena — e não é preciso se delongar em explicações quando o impacto da imagem está mais do que óbvio.

Tal como os coreanos desse filme, só nos resta ter um herói para chamar de nosso.

Este texto foi escrito por Thiago Cardoso via nexperts.

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