13 Reasons Why: 2ª temporada lida com mundo injusto e negligente [REVIEW]

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Depois de uma primeira temporada escutando as fitas e descobrindo os porquês de Hannah, 13 Reasons Why está de volta com sua 2ª temporada explorando a repercussão do suicídio da garota e o julgamento do caso dos pais contra a escola Liberty High.

Se há algo que não podemos negar sobre 13 Reasons Why é que a série não tem medo de colocar o dedo na ferida e debater assuntos delicados como o estupro, o bullying, a violência nas escolas e a cultura do silêncio.

Ao longo dos 13 novos episódios, a temporada mostra a dificuldade em se fazer justiça numa sociedade ainda extremamente machista e que não está pronta para uma análise mais profunda dos seus porquês.

Nesse sentido, as próprias escolhas narrativas da série são sintomáticas da incapacidade de lidar com alguns temas que ela mesma se propõe a apresentar – com mensagens que podem ser perigosas aos espectadores, especialmente os adolescentes.

Uma característica gritante desta nova temporada é a insistência dos jovens em tentar resolver as situações por conta própria, evitando a polícia, a supervisão adulta ou o conselho dos pais. Se, por um lado, a série quer sugerir que os adolescentes não se sentem confortáveis em falar sobre seus problemas (o que é bem comum), por outro ela reitera que as instituições são falhas e não podem os ajudar (o que é grave e longe da verdade).

Da mesma forma, a representação que se faz da escola é exageradamente negativa, tornando-se a grande vilã da história. Há um propósito claro do roteiro de mostrar como o ambiente escolar pode ser tóxico e prejudicial, mas esta Liberty High é negligente demais até mesmo para a ficção. Depois de tudo o que já aconteceu, os alunos continuam sem supervisão, brigando nos corredores e com os atletas tendo uma “cabana de estupro” ao lado do campo de futebol!

Para piorar, a advogada de defesa contratada pela escola para o julgamento dos pais de Hannah Baker coloca os outros alunos da instituição para depor no tribunal sem a menor preocupação com a exposição de suas vidas pessoais – seja sobre sexualidade, assédio ou uso de drogas. Depois de cada depoimento, os alunos voltam à escola sem qualquer proteção, precisando lidar com novas repercussões. (A advogada da escola merecia ser processada!)

A negligência se estende também aos pais destes jovens, que obviamente não estão dando a atenção necessária para o que eles estão passando. Algo que fica claro logo de início é que Clay precisava estar fazendo uma terapia para lidar com seu estado permanente de raiva e sua incapacidade de lidar com algo diferente à “sua verdade”. A visão romântica de Clay sobre o mundo e sobre Hannah acaba o deixando alienado; e pior, ele chega ao ponto de expor de maneira irresponsável seus próprios amigos.

Clay teria a função de ser a bússola moral para a série, como o bom garoto disposto a fazer justiça e honrar o nome de Hannah Baker, mas suas dúvidas e questionamentos sobre a índole da jovem são bem infantis. A cada nova informação que descobre sobre ela, Clay coloca em xeque tudo o que conhecia sobre “sua versão” de Hannah.

A verdade é que a série tenta desconstruir um pouco a imagem de Hannah, descaracterizando a personagem. O pior erro é inventar um namoro da garota com um dos rapazes de suas fitas – o que não parece nada crível dentro do universo da série, inclusive porque esse fato em si deveria ter rendido mais um porquê! Por outro lado, ao revelar que havia mais em cada história, a série acerta ao mostrar que as pessoas são multifacetadas e que conhecemos apenas partes ou versões sobre os outros.

Apesar disso, Hannah continua sendo a melhor personagem da série, com inteligência e doçura de sobra, e suas aparições em flashbacks ou como fantasma continuam emocionando e nos lembrando da tragédia de sua história– e, infelizmente, de como ela é próxima da realidade.

Há acertos também em outras narrativas, como a trama envolvendo Justin. Mesmo com inúmeros problemas pessoais (com um lar desestruturado e um vício em drogas), o garoto é quem consegue ver soluções e tomar atitudes que seus amigos são incapazes de fazer; e a relação de Justin com Clay é uma grata surpresa desta temporada.

Além disso, Jessica ganha destaque enquanto lida com o abuso sofrido e com a presença constante de seu agressor na escola. A trama traz uma considerável apresentação dos traumas, medos e inseguranças da vítima de estupro, e é especialmente interessante ver o laço que se estabelece entre Jess e outra colega igualmente violentada.

A 2ª temporada de 13 Reasons Why levanta vários pontos de discussão, mexe com os nervos e com nossas emoções, nos faz torcer por justiça e por um mundo melhor – e este é o aspecto mais importante da série.

No entanto, não podemos esquecer que essa é uma obra de dramaturgia, com exageros narrativos (inclusive com uma sequência de violência no episódio final muito desconfortável e desnecessariamente gráfica) e ainda contextualizada num universo ficcional destinado à classe média norte-americana.

E é preciso tomar alguns cuidados porque, por mais que a série trate de assuntos delicados e que acontecem na realidade, a temporada coloca os adolescentes tentando resolver tudo sozinhos. Mas é importantíssimo ressaltar aos jovens a necessidade de procurar sim ajuda profissional – seja de autoridades policiais, judiciais, pais, educadores e psicólogos. Faz diferença sim!

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