Nostalgia: a faca de dois gumes da cultura pop

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Nostalgia é um dos sentimentos mais comuns explorados pela indústria do entretenimento, independentemente do segmento artístico, já que isso permite o ressurgimento de franquias de enorme sucesso do passado, como os novos longas de Star Wars, temporadas de Fuller House e Gilmore Girls estreando pela Netflix ou até mesmo games remasterizados para a atual geração de consoles. Em outras situações, projetos baseados na simulação de décadas recentes se tornam sucesso absoluto de público e crítica, como Stranger Things e GLOW.

Apesar de a sensação nostálgica soar como um ótimo motivo para investir em novas produções de franquias já bem estabelecidas na cultura pop, os fãs mais fervorosos tendem a olhar com maus olhos para continuações do cânone que tanto amam ou quando estruturas narrativas e, principalmente, questões visuais os desagradam – antes mesmo de aquele projeto estrear oficialmente, gerando uma onda de ódio exacerbada dos fanáticos nas mais diferentes redes sociais.

Stranger Things, moldado por algoritmos e sucessos do passado

A série criada pelos Duffer Brothers é o exemplo mais contundente de como a nostalgia pode ser efetiva para uma empresa da indústria do entretenimento. Eles conseguiram usar o estilo narrativo oitentista que é tão bem quisto por quem consome a Netflix e fazer centenas de referências às obras e pessoas que os inspiram, como Enigma de Outro Mundo, John Carpenter e Stephen King.

Ao criar um universo totalmente novo com base em desejos do público, o efeito nostálgico acaba sendo um grande diferencial para tornar aquilo um sucesso, já que os easter eggs se firmaram como elementos procurados incessantemente pelos fãs em diversas produções de Hollywood. Stranger Things faz com que seu cérebro fique contente com aquela atmosfera por tudo que pode ser referência a você, seja trilha sonora, elenco com artistas comuns ao telespectador, como Winona Rider e Sean Astin, ou até mesmo um simples pôster reconhecível numa parede ao fundo do cenário.

Quando o amor do passado vira ódio do futuro

Enquanto Stranger Things é uma obra nova que aproveita a nostalgia de outras produções e, assim, acaba sendo muito bem recebida, não se pode se dizer o mesmo de projetos baseados em franquias bem estabelecidas na cultura pop. Star Wars passou por isso duas vezes, seja nas mãos de George Lucas, ao introduzir a trilogia que mostraria como Anakin se tornou Darth Vader, ou mais recentemente, com a Disney retomando o cânone em O Despertar da Força. Antes mesmo de o longa ser lançado, fãs já reclamavam de vários pontos, principalmente em relação ao Finn, interpretado pelo John Boyega, que aparentava ser o possível protagonista em alguns trailers.

Esse ódio aos rumos recentes de Star Wars setornou ainda mais frequente com praticamente tudo que envolve Os Últimos Jedi, principalmente por várias formas diferentes como a trama se desdobrou em relação ao que era esperado. Os mais fanáticos iniciaram movimentos de ódio para tentar diminuir o longa de Rian Johnson, enquanto outros tomavam atitudes mais drásticas, ao agredir verbalmente pelas redes sociais pessoas envolvidas no filme. Kelly Marie Tran, personagem de Rose Tico, foi o principal alvo.

O argumento mais utilizado contra a trilogia atual da Disney é que a empresa está mudando o que Star Wars fora outrora, seguindo uma agenda mais inclusiva e até fazendo mudanças errôneas na trama – que talvez seja o único ponto que possa ser compreensível nas reclamações. Ao mesmo tempo, muitos listam vários problemas que a trilogia clássica possui da mesma forma que a atual, relativizando que o posicionamento de muitos tem a ver basicamente com a difícil aceitação do que tem sido estabelecido hoje.

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Você talvez não seja o público-alvo

É natural manter o amor por obras que marcaram sua infância, mas pode ser um tanto agridoce ver uma nova versão dos seus personagens favoritos. Esse exemplo ficou mais visível com as divulgações das animações de Thundercats e She-Ra. Enquanto o projeto da princesa do poder para a Netflix só teve algumas imagens de divulgação, os felinos de Thundera ganharam um estilo muito mais cartunesco e descontraído, bem diferente do que os fãs antigos esperavam.

Entretanto, o público-alvo de produções de outras décadas não costuma ser o mesmo de projetos que resgatam tais franquias depois de tantos anos, mesmo que os fãs possam ser importantes para garantir o hype inicial sobre as franquias. O próprio Homem-Aranha deDe Volta ao Lar tem seu estilo inspirado no personagem criado na década de 60, mas com uma leitura mais próxima ao adolescente dos dias atuais, principalmente no uso excessivo de tecnologia.

Essa situação é mais comum ainda com produções que nunca pararam de ser produzidas, como Pokémon. O anime teve seu grande ápice quando surgiu internacionalmente, tornando-se uma febre mundial com facilidade. Aquela geração de monstrinhos e a seguinte são até hoje as mais bem quistas pelos saudosistas, o que se reflete no fenômeno Pokémon GO e nos vindouros jogos de Switch, Pokémon Let’s Go, Pikachu! e Let's Go, Eevee, que adaptam um dos primeiros games da franquia para o console atual da Nintendo. A grande maioria dos adultos que era fã das aventuras de Ash Ketchum nos anos 90 não deve conhecer os personagens que o acompanham hoje, muito menos as criaturas daquele mundo, ressaltando que o desenho morreu faz tempo, mesmo que o público-alvo real da produção sejam crianças, principalmente as japonesas.

Recentemente, o diretor Christopher McQuarrie (Missão: Impossível – Efeito Fallout) comentou que não gostaria de trabalhar em algum longa de Star Wars,por causa da toxicidade que poderia receber dos fãs. James Mangold, cineasta responsável por Logan, também acredita que esses ataques virtuais podem fazer com que os profissionais da área se afastem de projetos do tipo.

O fato é que tais produções continuarão a ser produzidas, principalmente porque a minoria delas gera prejuízo aos grandes estúdios – afinal, o licenciamento de brinquedos também garante uma considerável quantia de dinheiro aos donos das franquias. Como a animação da She-Ra é transmitida pela Netflix, não existe a necessidade de fazer bilheteria, então resultaria no máximo em um cancelamento futuro.

Enquanto as grandes franquias forem a principal forma de levar bilhões de espectadores ao cinema, vender novos projetos para a televisão ou fazer voltar às prateleiras jogos que fazem sucesso instantâneo, elas serão as preferências das principais empresas da indústria do entretenimento, seja desagradando os fanáticos mais antigos ao se adaptar a um estilo mais condizente ao atual ou não.

A saída ideal talvez seja mais ideias como Stranger Things, que não se vincula tanto ao que instiga a nostalgia dos fãs e, assim, escapa de críticas imediatas a imagens ou trailers de divulgação, já que a cada dia fica mais difícil imaginar que o ódio nas redes sociais vai diminuir – como Kelly Marie Tran, John Boyega e Anna Diop, a Estelar da série Titans, sabem muito bem. De qualquer forma, o sentimento nostálgico que existe dentro de todo mundo vai ser utilizado; só nos resta saber lidar com tal situação da melhor maneira possível.

Este texto foi escrito por Gustavo Rodrigues via nexperts.

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