Shazam! e Capitão Marvel: entenda a briga de 80 anos pelo nome

Minha Série
Imagem de: Shazam! e Capitão Marvel: entenda a briga de 80 anos pelo nome

Marcas registradas, direitos autorais e propriedade intelectual são caminhos tortuosos no mundo do entretenimento que podem resultar em batalhas judiciais infinitas. Foi assim que começou uma briga pelo direito de uso do nome Capitão — agora Capitã — Marvel, que envolve 3 editoras de quadrinhos, 2 gigantes do cinema e dura quase 80 anos.

Quem acompanha o mundo das HQs deve conhecer ou pelo menos ter ouvido falar sobre a disputa entre a Marvel e a DC por causa do personagem Capitão Marvel. Essa briga é antiga e envolvia outra editora, a Fawcett Comics, bem antes de a Marvel entrar na batalha. Confira abaixo como surgiu Capitão Marvel, o super-herói que precisou trocar de nome e virou Shazam!:

Super-Homem e suas imitações

https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164742158261.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164742158261.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Reprodução/Fox/Fawcett/Fawcett

Em junho de 1938, a National Comics, hoje conhecida como DC, lançou no mercado aquele que é considerado o mais icônico dos super-heróis, o Super-Homem. O personagem fez tanto sucesso que ganhou uma tirinha em jornais de circulação nacional e seu próprio programa de rádio, ambos muito importantes na época. Como com qualquer coisa bem-sucedida, cópias começaram a aparecer em editoras concorrentes que buscavam emular ou seguir o caminho do sucesso da HQ "Action Comics".

Com isso vieram os processos e as ameaças por conta de violação de direitos autorais, primeiro contra a Fox e seu Wonder Man e depois contra a Fawcett Comics e seu Master Man. Até que, no fim de 1939, a Fawcett Comics renomeou o Capitão Trovão para Capitão Marvel, que foi lançado em seu quadrinho "Whiz Comics #2", em fevereiro de 1940.

Tudo parecia correr bem, até que as aventuras de Capitão Marvel e sua família começaram a interferir no sucesso e nos negócios do Homem de Aço.

National Comics (DC) vs. Fawcett Comics

https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164816267262.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164816267262.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Reprodução/Paramount/Republic Pictures

Como se não bastasse que os quadrinhos "Whiz Comics" estivessem vendendo tanto quanto, e às vezes até mais, que os "Action Comics", a DC perdeu um contrato cinematográfico para a Fawcett. Isso fez com que, após 1 ano ignorando a concorrente, a empresa resolvesse tomar ação.

Em 1941, a Superman Inc., braço da DC que cuidava do Super-Homem, assinou um contrato com os estúdios da Paramount e da Max Fleischer e lançou uma série de desenhos animados do herói. O que eles não sabiam é que esse acordo impedia que fizessem filmes live action com outro estúdio. Assim, eles perderam um negócio com a Republic Pictures, que resolveu fazer filmes do Capitão Marvel.

A situação motivou a DC a processar a Fawcett, novamente, por violação de direitos autorais.

A Segunda Guerra, a Era de Ouro e o julgamento

https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164854797264.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164854797264.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Reprodução/DC

Com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o processo foi interrompido. A época foi considerada a Era de Ouro dos quadrinhos, quando as vendas chegavam a quase 1 milhão de cópias em algumas edições, em números estrondosos para a data. Super-Homem e Capitão Marvel disputavam em pé de igualdade nas bancas.

Em 1948, após o fim da guerra e com o declínio na popularidade dos super-heróis, o julgamento finalmente começou. A DC alegou que o Capitão Marvel copiava o uniforme e os poderes do Super-Homem e defendeu que histórias específicas do concorrente eram imitações de histórias do seu herói. O processo foi, incialmente, rejeitado por motivos técnicos, já que nem todas as edições de "Super-Homem" incluíam o aviso de direito autoral. Mas a DC apelou para uma segunda instância e o juiz decidiu que as histórias de Capitão Marvel eram cópias ilegais de Super-Homem.

Com a queda nas vendas dos quadrinhos, a Fawcett desistiu de enfrentar a DC nas cortes e buscou um acordo. A editora aceitou pagar US$ 400 mil em danos e parar completamente as publicações de quadrinhos do personagem e de seus spin-offs. Como resultado, suas atividades foram encerradas em 1953 e o Capitão Marvel original chegou ao fim.

Marvel Comics entra no jogo

https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164924594265.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164924594265.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Reprodução/Marvel

Uma editora concorrente estava de fora dessa história. A Timely Comics, responsável por títulos como "Capitão América", "Namor" e "Tocha Humana", trocou o seu nome para Atlas Comics em 1950, em pleno declínio dos super-heróis. Em 1961, a empresa foi renomeada novamente, para Marvel Comics.

Na época, os heróis tiveram uma nova era; a DC investiu em histórias de personagens como Flash e Lanterna Verde, o que deu uma aquecida no mercado. Assim, em 1961, Stan Lee e Jack Kirby colocaram a Marvel à frente com O Quarteto Fantástico e seu mais icônico personagem, o Homem-Aranha. Nesse meio tempo, "Capitão Marvel" estava em um limbo, até que a Marvel Comics o registrou legalmente, em 1967; para manter a marca registrada, a editora precisava publicar o título pelo menos uma vez a cada 2 anos, para prevenir que alguma concorrente o tomasse.

Marvel vs. DC

https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164950562267.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27164950562267.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Reprodução/DC

A DC, então, decidiu licenciar da Fawcett os direitos de publicação do Capitão Marvel original, o que iniciou outra batalha. Enquanto a Marvel tinha o direito à marca registrada do nome Capitão Marvel, a Fawcett e a DC tinham os direitos autorais, o que significava que podiam continuar chamando o personagem de Capitão Marvel nos quadrinhos, mas não no título. Por isso, DC nomeou as HQs do personagem como "Shazam!", usando a palavra mágica que ativa os seus poderes. Ainda assim, a empresa continuou a fazer menções ao nome Capitão Marvel em suas capas até que a Marvel resolveu intervir.

Em 1991, a DC comprou definitivamente o personagem da Fawcett — que fechou as portas em 1980 — e passou aceitar o novo nome tanto em seus quadrinhos quanto em produtos licenciados, como brinquedos e materiais escolares. Já a Marvel, para manter a marca registrada, fez vários reboots e passagens de título.

Viveram como Capitão Marvel os personagens: Mar-Vell, Monica Rambeau, Genis-Vell, Phyla-Vell e Khn'nr, Noh-Varr; até que, em 2012, a personagem conhecida como Ms. Marvel, Carol Danvers, finalmente assumiu o título que lhe pertence até hoje.

Capitã Marvel vs. Shazam!

https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27165014030268.jpg" alt="" data-mce-src="https://tm.ibxk.com.br/2019/03/27/27165014030268.jpg" style="height:auto;vertical-align:middle;Reprodução/Disney/Warner Bros.

Mesmo com toda a confusão, as coisas parecem ter se acertado no mundo dos quadrinhos, mas infelizmente alguns fãs não querem deixar essa briga morrer. Neste ano, quando filmes de ambos os personagens estão sendo lançados, a história foi reavivada sem que muita gente conseguisse entender.

A produção do primeiro filme do Universo Cinematográfico da Marvel protagonizado por uma mulher, Capitã Marvel, começou em 2013. Em 2014, ele foi oficialmente anunciado com data marcada para julho de 2018, mas mudanças no cronograma fizeram com que o longa fosse empurrado para novembro do mesmo ano e, finalmente, para março de 2019. Também em 2014, a DC anunciou que estava desenvolvendo um filme de Shazam!, que seria lançado, a princípio, em 2016. Devido a mudanças de direcionamento, a produção foi reescrita em 2017 e, em janeiro de 2018, a data oficial de lançamento foi anunciada para abril de 2019.

A estreia dos dois filmes com apenas um mês de diferença fez com que fãs de ambas as empresas reavivassem a discussão sobre quem deveria ter direito ao título. Mesmo que tenha sido uma coincidência causada por mudanças naturais em produções de filmes, isso não impediu que grandes brigas online acontecessem. Devido a algumas declarações de Brie Larson, atriz que interpretou a Capitã Marvel, fãs passaram a promover um boicote ao filme, com alguns promovendo Shazam! na confusão. A situação fez com que o ator Zachary Levi, que interpreta Shazam!, fizesse uma transmissão ao vivo em suas redes sociais falando que não apoia o boicote e que não existe nenhuma disputa entre os dois longas.

Apesar de tudo isso, Capitã Marvel, que estreou mundialmente em 8 de março, está indo muito bem na bilheteria, com perspectiva de chegar a US$ 1 bilhão no primeiro mês. Shazam!, que estreará no dia 5 de abril, tem recebido críticas muito boas em suas prévias, tendo a maior nota entre os filmes da DC até o momento.

Você tem um lado nessa história ou não se importa em ter dois Capitães Marvel?

Este texto foi escrito por Carolina Bernardi via nexperts.

Cupons de desconto TecMundo:
* Esta seleção de cupons é feita em parceria com a Savings United
Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.