O Rei traz perspectiva particular de Henrique V (Crítica)

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Mais uma vez a Netflix agracia os fãs de castelos, batalhas campais e flautas doces apostando em um sucessor espiritual de O Legítimo Rei, de 2018. O Rei é baseado em peças de Shakespeare e carrega a taxação de ser mais uma obra em meio a tantas outras que ganharam adaptações para TV, teatro e cinema ao longo dos anos. Dentro da sétima arte, podemos sublinhar os homônimos Henrique V, de 1944 e 1989, que traziam uma visão mais épica do que foi o reinado de Henry. Já na narrativa de 2019, os eventos são abreviados para focar na ascensão e nas particularidades do protagonista, lembrando, em partes, o que foi reproduzido em Steve Jobs, de 2016.



Na trama, o rebelde Henrique V tem tratamento de bastardo e leva uma vida de farra, até que seu pai e irmão passam desta para melhor e o uso da coroa torna-se inevitável para defender o destino da Inglaterra diante de ameaças externas. Quem dirige o longa é o australiano David Michôd, responsável pelos razoáveis War Machine e The Rover. Em O Rei, no entanto, o diretor apresenta maturidade na forma como orquestra todos os elementos, e temos uma adaptação sóbria, munida de um excelente roteiro, mas não sem deixar rastros de desleixo em determinadas resoluções.



Nas longínquas 2h20 de duração, o espectador é apresentado a um século XV cinzento e melancólico que se reflete nos diálogos dramáticos e muito bem construídos graças ao toque shakespeariano. As batalhas, por sua vez, dispensam a vaidade do épico: nada de slow motions ou coreografias megaelaboradas. Tudo aqui é sujo, depreciativo, pesado; ou seja, feito para mostrar o quão infame é a barbárie em uma guerra. Também há um "extensivão" sobre estratégia militar e jogo político. O filme coloca o espectador em um xadrez em que é possível se sentir junto dos membros da coroa durante a elaboração de cada plano ou tomada de decisão. O problema se faz presente nos pontos de virada que engrenam as motivações. O diretor simplesmente costura de forma avulsa esses momentos e fica aquela sensação de que tudo foi feito na base do improviso ou da preguiça mesmo.


Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome) mais uma vez executa um papel brilhante e vem se consolidando como um dos atores mais talentosos da atualidade. Seu Henrique V é debochado, cético, ressentido, construtivo e amargurado pelas desavenças ideológicas com seu pai, Henrique IV (Ben Mendelsohn). O foco do longa é única e exclusivamente nele, e essa decisão confisca a presença dos demais integrantes do elenco. Cabe aqui ressaltar a perspicácia e o companheirismo de Falstaff (Joel Edgerton), que é a mente por trás das táticas de batalha. Há uma cena dele que é uma verdadeira aula de guerra.



Sean Harris está na pele do operante William, interpretando o típico conselheiro que orienta o rei e esconde intenções obscuras. Robert Pattinson, o futuro Batman das telonas, por sua vez, mostra que é talentoso e incorpora um competente Delfim, mesmo apresentando um sotaque francês carregado, mas funcional. Por fim, a Catherine de Valois, vivenciada por Lily-Rose Depp, mesmo sendo uma gambiarra na trama, faz uma boa participação final, merecendo muito mais tempo de tela.


O Rei é particular e se isenta de apresentar uma visão revolucionária sobre o gênero medieval, tampouco se preocupa em seguir à risca ou desconstruir Shakespeare dentro de seu campo de liberdade criativa. Mas é maduro e sincero ao reproduzir uma narrativa realista do que foi considerado um dos períodos mais obscuros da nossa história. Chalamet entrega ao público um excelente Henrique V e pode merecidamente conquistar uma indicação ao Oscar.


Este texto foi escrito por Fabrício Calixto via nexperts.

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