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Karim Aïnouz resgata melodrama em A Vida Invisível (crítica)

schedule14/11/2019, às 19:00

<p>N&atilde;o &eacute; de hoje que Karim A&iuml;nouz &eacute; um dos mais interessantes diretores brasileiros em atividade. Seu mais recente filme &mdash; o premiado em Cannes e pr&eacute;-indicado brasileiro ao Oscar, <em>A Vida Invis&iacute;vel</em>, que estreia por aqui no pr&oacute;ximo dia 21 &mdash; apenas confirma isso. A&iuml;nouz &eacute; dono de uma filmografia consistente e poderosa, que inclui Desde <em>Madame Sat&atilde;</em> (2002), seu primeiro longa, <em>Praia do Futuro</em> (2014), <em>O C&eacute;u de Suely</em> (2006) e <em>Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo</em> (2009), dirigido em parceria com Marcelo Gomes.</p>
<p>Um de seus temas recorrentes, presente em boa parte de sua obra, &eacute; o dos corpos que n&atilde;o aceitam sua pr&oacute;pria condi&ccedil;&atilde;o, colocados em perspectiva diante do espa&ccedil;o em que habitam. Explico. Madame Sat&atilde; era uma mulher trans na Lapa bo&ecirc;mia do Rio de Janeiro dos anos 30. Suely, do filme seguinte, rifa seu pr&oacute;prio corpo para sair do interior do Nordeste. Donato, de <em>Praia do Futuro</em>, &eacute; um salva-vidas gay que deixa o Nordeste para se libertar na fria Alemanha. Esses personagens n&atilde;o conseguem se limitar ao lugar em que vivem, ou mesmo em seus pr&oacute;prios corpos. &Eacute; sempre preciso mais, ainda que a sociedade n&atilde;o permita.</p>
<figure class="image align-center"><img src="https://tm.ibxk.com.br/2019/11/13/13120714600125.jpg" alt="" width="2248" height="1500" />
<figcaption>Carol Duarte como Eur&iacute;dice Gusm&atilde;o. (Fonte: Bruno Machado/Divulga&ccedil;&atilde;o)</figcaption>
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<p><em>A Vida Invis&iacute;vel</em> n&atilde;o &eacute; diferente. Acompanhamos as vidas de duas irm&atilde;s: Guida e Eur&iacute;dice Gusm&atilde;o, interpretadas por Julia Stockler e Carol Duarte, respectivamente. A primeira &eacute; expulsa de casa quando aparece gr&aacute;vida, e a segunda precisa lidar com um casamento pouco afetuoso. Vemos, ent&atilde;o, suas vidas separadas uma da outra, tendo de lidar com a viol&ecirc;ncia estrutural, notadamente do masculino ao feminino &mdash; que &eacute; localizado no Rio de Janeiro da d&eacute;cada de 1950, mas tamb&eacute;m existe hoje no dia a dia brasileiro.</p>
<p>Apesar de n&atilde;o ter cenas de tiroteio ou luta, <em>A Vida Invis&iacute;vel</em> &eacute; extremamente violento. As agress&otilde;es, por&eacute;m, s&atilde;o sociais, psicol&oacute;gicas ou afetivas. Acontecem quando uma personagem negra &eacute; impossibilitada de entrar em um restaurante, quando um pai rejeita a filha por ela estar gr&aacute;vida e sem pai, quando o marido presume que a mulher quer fazer sexo sempre que ele deseja, ou quando a possibilidade de ela ter uma carreira &eacute; considerada uma ofensa &agrave; fam&iacute;lia. Al&eacute;m disso, esses gestos de viol&ecirc;ncia mant&ecirc;m as irm&atilde;s separadas f&iacute;sica e afetivamente.</p>
<figure class="image align-center"><img src="https://tm.ibxk.com.br/2019/11/13/13120814725127.jpg" alt="" width="2248" height="1500" />
<figcaption>Julia Stockler como Guida Gusm&atilde;o. (Fonte: Bruno Machado/Divulga&ccedil;&atilde;o)</figcaption>
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<p>Essa separa&ccedil;&atilde;o funciona em dois n&iacute;veis. De um lado, &eacute; o refor&ccedil;o do discurso que o pr&oacute;prio filme apresenta: a viol&ecirc;ncia do machismo &eacute; mais efetiva enquanto mant&eacute;m as mulheres alienadas umas das outras. De outro, se coloca como o abra&ccedil;o que o Karim A&iuml;nouz d&aacute; ao melodrama enquanto g&ecirc;nero narrativo. Ele mesmo vem usando o termo Melodrama Tropical para definir <em>A Vida Invis&iacute;vel</em>. Funciona. Afinal, a estrutura do amor que jamais vai se consumar, central para o g&ecirc;nero, &eacute; temperada com as cores e o calor carioca.</p>
<p><em>A Vida Invis&iacute;vel</em> &eacute; isso. Na superf&iacute;cie, pode at&eacute; parecer uma telenovela (formato que tradicionalmente abra&ccedil;a o melodrama no Brasil e, pelo que sabemos gra&ccedil;as ao Silvio Santos, no M&eacute;xico), mas prop&otilde;e um jogo mais complexo, resgatando os filmes de Douglas Sirk, que usava g&ecirc;nero nos anos 50 para discutir coisa s&eacute;ria. A&iuml;nouz, n&atilde;o custa lembrar, se formou em cinema pela Universidade de Nova York. Suas refer&ecirc;ncias transitam tanto pela latinidade quanto pelo cinem&atilde;o hollywoodiano. A mescla &eacute; bastante poderosa.</p>
<p><em>Este texto foi escrito por Luiz Gustavo Vilela Teixeira via nexperts.</em></p>
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