<p>A essência da trama está intacta: Dama ganha um lar acolhedor, onde é mimada e benquista pelos donos. A chegada de um bebê, no entanto, abala a rotina de todos e leva a Cocker a vivenciar libertinagens e obscuridades que somente o mundo além das cercas pode oferecer; na companhia do astuto Vagabundo, é claro. A direção é de Charlie Bean, responsável por <em>LEGO Ninjago</em>, <em>Tron: Uprising</em> e importantes storyboards de Cartoon Cartoons, como <em>As Meninas Superpoderosas </em>e <em>Samurai Jack</em>.</p>
<p style="text-align: center;"><img src="../../../images/tmp/49849/18191453475316.jpg" alt="" width="3360" height="1656" /></p>
<p>Novamente somos apresentados a uma visão vintage do início do século XX, desta vez menos monocromática graças a uma paleta de cores vívida reforçada pelo elenco humano assertivamente representativo e menos horizontal em termos de câmera. Nesse novo panorama, as pessoas ganham textos adicionais em relação à obra original. Mas o filme é metaforicamente sobre perspectiva canina, certo? Essa amplitude improvisada traz incipiência nas atuações: Thomas Mann e Kiersey Clemons (Jim Querido e Querida) formam um casal frívolo e sem pungência; Yvette Nicole Brown (tia Sara) não desperta o ranço necessário para se igualar a sua antecessora fictícia; e Adrian Martinez (Elliot) é esquecível. Por incrível que pareça, Arturo Castro e F. Murray Abraham (Marco e Tony) são disparadamente a almôndega desse prato descondimentado, por participarem da icônica cena do jantar romântico — cujo retrabalho recebeu atenção especial da produção. A ausência desse tempero também está presente nos musicais, que são extremamente genéricos.</p>
<p>O cast da matilha e seus agregados, por sua vez, não desaponta. Tessa Thompson e Justin Theroux encarnam com maestria o casal de cães mais amado de Hollywood, seguido por Sam Elliott, Ashley Jensen, Benedict Wong, entre outras estrelas que alternam entre palavras e latidos. Se não fosse por um excelente trabalho de CGI e sincronização de vozes, entretanto, nada disso seria possível. Os efeitos especiais fluem bem, apresentam plasticidade e vão na contramão do hiper-realismo executado no “live-action” de <em>O Rei Leão</em>. Aqui, os bichinhos são visualmente carismáticos e estão em pé de altura com Mogli e sua turma na brilhante versão de 2016.</p>
<p style="text-align: center;"><img src="../../../images/tmp/49849/18191625459317.jpg" alt="" width="1600" height="1200" /></p>
<p>Entre trancos e barrancos, o que realmente pesa no remake são as decisões e consequências minimizadas para tornar o filme mais amigável. Se por um lado a leviandade se adequa a um público mais jovem/infantil, por outro dilui cabalmente o choque de realidade que a versão de 1955 se propôs a projetar. Afinal, além de romance, <em>A Dama e o Vagabundo </em>é sobre dicotomia de classes, lar, identidade e o mundo como ele é fora da nossa zona de conforto, não é mesmo? Essa maleabilidade excessiva desnuda muito do que era a mensagem lá atrás; consequentemente, o efeito dramático sofre com o desnível, fruto da estética matizada demais que a direção decidiu adotar. Certamente os entusiastas da versão dos anos 1950 vão se deparar com essas mudanças.</p>
<p>O remake de <em>A Dama e o Vagabundo</em> é, de forma a não assumir riscos, uma suavização considerável de seu icônico predecessor e pode não impactar da mesma forma como anos atrás. Peca por um elenco humano insosso, mas acerta em cheio no carismático núcleo canino. É uma porta de entrada sugestiva para o novo serviço de streaming da Disney, que com certeza oferecerá mais almôndegas audiovisuais saborosas para seu público.</p>
<p><em>Por Fabrício Calixto de Oliveira via nexperts.</em></p>
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