Crítica: O Escândalo narra as histórias de assédio na Fox News

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O Escândalo, que ficcionaliza o caso real da prática de assédio moral e sexual nos corredores do canal de TV norte-americano Fox News, é um filme que acredita muito na urgência de sua mensagem. Não sem razão. É impensável que em um país ocidental, secular, nas primeiras décadas do segundo milênio, uma mulher só consiga avançar no mercado de trabalho através da exploração de seu corpo. Tanto em frente às câmeras quanto – o que é ainda mais preocupante – nos bastidores. A situação ainda piora, considerando que a emissora se coloca como guardiã da moral e dos bons costumes da sociedade estadunidense.

A questão é que Jay Roach e Charles Randolph, respectivamente o diretor e roteirista, acreditam tanto na urgência da mensagem que sacrificam qualquer possibilidade de que o filme possua qualquer nuance. Se isso implica necessariamente em mau cinema, cabe ao implacável escrutínio histórico. O que, de pronto, é possível dizer é que chega a ser irritante a pouca confiança que O Escândalo tem para com o público. Todo e qualquer momento precisa ser explicado didaticamente, eventualmente mais de uma vez.

Theron, Kidman e Robbie, o trio protagonista de O Escândalo (Paris Filmes/Divulgação)

O filme parte de duas histórias reais e uma ficcional (inspirada em vários outros relatos reais) envolvendo a dinâmica de poder e gênero dentro da Fox News. O que une todas as três é a figura, abjeta para todos os fins, de Roger Ailes, vivido por John Lithgow sob uma tonelada de maquiagem. Ele foi o comandante da estratégia de unir a retórica conservadora de direita, quase sempre em tom raivoso, com âncoras e apresentadoras mulheres de saia curta e bancadas transparentes. A exploração dos corpos femininos, porém, não ficava “apenas” diante das câmeras.

Como Gretchen Carlson e Megyn Kelly, duas das personagens centrais vividas por Nicole Kidman e Charlize Theron respectivamente, repetem de tempos em tempos para a câmera: tudo para Ailes se resumia a lealdade e lealdade significava sexo. O filme narra a trajetória das duas jornalistas. Carlson no final da carreira, não mais se sujeitando às imposições estabelecidas pela Fox News. Kelly em seu auge, sofrendo com a turba virtual quando fez uma pergunta considerada agressiva por Donald Trump – figura que não chega a ser um personagem de fato de O Escândalo, mas assombra o filme – durante a campanha presidencial de 2016 que, ao fim ao cabo, o elegeu presidente dos EUA.

Theron e Lithgow como Kelly e Ailes (Paris Filmes/Divulgação)

A terceira história é da jovem e ambiciosa produtora Kayla Pospisil, personagem de Margot Robbie. Ela serve para que o filme não recorra muito a flashbacks, permitindo que um caso de assédio seja exemplificado simultaneamente às tramas de Carlson e Kelly. Ela, claro, é um perfeito espantalho do discurso liberal sobre os conservadores. De família tradicional cristã, sempre quis trabalhar na Fox News e veste a camisa da empresa como ninguém mais – apesar de, depois de umas taças de vinho, não se importar em ficar com outras mulheres, o que o roteiro aponta como hipocrisia.

O Escândalo disfarça sua superficialidade com aquele estilo de cortes rápidos e narrativa videoclíptica que tão bem serviu a A Grande Aposta, filme dirigido por Adam McKay – egresso de comédias pastelão como o próprio Roach – e, não por acaso, com roteiro de Randolph. Diferente do filme antecessor, que usava estes artifícios para simplificar a complexa questão da crise imobiliária americana de 2008, O Escândalo é simples por natureza. É sobre um canal de televisão que promove políticas sexistas durante toda a sua programação, explorando os corpos femininos usando um verniz de civilidade (elas têm uma oportunidade, afinal, dizem os apologistas de Ailes). Não faz sentido ninguém se surpreender quando se revela que essa exploração também acontece a portas fechadas.

Este texto foi escrito por Luiz Gustavo Vilela Teixeira via nexperts.

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