Lost Girls choca, mas tem potencial desperdiçado (REVIEW)
Que atire a primeira pedra quem nunca foi fisgado pela legenda “baseado em fatos reais”, que antecede o início de uma trama inspirada na nossa própria realidade. São inúmeras as produções do segmento, e a leitura se estenderia por horas se fôssemos catalogar apenas parte desse vasto campo. A premissa de conhecer e entender casos reais é o convite para Lost Girls: Os Crimes de Long Island, novo filme original da Netflix, baseado no livro homônimo de Robert Kolker.
O ano é 2010, e Mari Gilbert — uma mãe solteira de 3 filhas —, inicia uma investigação por conta própria para encontrar sua primogênita desaparecida, dado o descaso da polícia. O paradeiro de Shannan Gilbert está em Long Island, onde também descobrem que diversas garotas de programa foram mortas por um serial killer ao longo de muitos anos. A direção é de Liz Garbus, cineasta especialista em documentários. Nada Por Dizer: Gloria Vanderbilt Anderson Cooper, The Farm e Love, Marilyn são apenas algumas pérolas em seu currículo.
Garbus sabe muito bem como documentar histórias chocantes que tiveram desfechos comoventes, embora não evidencie muita experiência em criar drama e reviravoltas que adaptações como Lost Girls precisam para envolver o espectador. Aqui, o tom expositivo do documentário desarma os efeitos dramáticos e fica a impressão de que a diretora não sabe harmonizar os estilos. Também não contribuindo, o roteiro de Michel Werwie é insólito e gera uma narrativa sem impacto, funcionando apenas em momentos rotineiros, como uma simples conversa na cozinha ou um desentendimento no carro. Ainda que a fotografia mórbida seja capaz de evocar uma atmosfera sombria, a dessintonia geral da obra a torna irrelevante frente a tantos embaraços.
Amy Ryan, de Birdman e The Office, traz a melhor atuação do longa e está irreconhecível na pele de Mari Gilber, se mostrando inquieta, destemida e resiliente, mesmo em um momento de alta fragilidade emocional, do qual demanda cuidados especiais com suas outras filhas. Thomasin McKenzie — que encantou em Jojo Rabbit —, também convence com maturidade enquanto Sherre Gilbert. Oona Laurence, todavia, sofre limitações narrativas por ser a caçula protegida, e Gabriel Byrne, de Hereditário e Vikings, dá vida a um detetive altamente padronizado de thrillers policiais.
Lost Girls remonta uma história que chocou o mundo no início dos anos 2010, sobretudo por revelar um desfecho perturbante. Entretanto, tem potencial desperdiçado devido ao pouco tato que a diretora tem ao mixar o documental com o drama. De qualquer forma, ainda é um material válido no sentido de compreender os meandros do caso.
Texto escrito por Fabrício Calixto de Oliveira via Nexperts.
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