LG webOS: testamos o sistema que vai sacudir o mercado de TVs inteligentes

13 min de leitura
Imagem de: LG webOS: testamos o sistema que vai sacudir o mercado de TVs inteligentes

Existem muitas maneiras de se inventar alguma coisa, seja criando um produto do zero ou transformando algo que já existe.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Quando fomos convidados pela LG a visitar o laboratório de testes da empresa em Santa Clara, no Vale do Silício, tivemos a oportunidade de ver uma coisa assim — um produto que já existe, mas completamente reinventado. E é nessas horas que uma pergunta nos vem à cabeça: como é que nunca fizeram isso antes?

O que parece óbvio depois de pronto nem sempre é assim tão fácil antes de alguém ousar a dar o primeiro passo, e é isso o que a LG está fazendo em sua nova linha de televisores inteligentes com o sistema operacional webOS.

Aliás, chamar qualquer televisor de inteligente ou “Smart” antes de conhecer os novos aparelhos webOS é algo difícil de fazer.

A LG não criou as TVs inteligentes, mas certamente está redefinindo isso a partir de agora. Esqueça tudo o que você conhece sobre esse assunto e se prepare para se surpreender.

Como eram as TVs inteligentes?

As primeiras Smart TVs chegaram ao mercado há poucos anos, prometendo revolucionar o segmento trazendo recursos, softwares e serviços conectados à internet para nos oferecer conteúdos cada vez mais dinâmicos.

A maioria realmente conseguiu apresentar mais funcionalidades, como vídeo por streaming e acesso a páginas da internet. O grande problema disso é que tentar transformar a TV em uma extensão do seu computador, aparentemente, não é a melhor abordagem da situação.

O resultado foi muitos aparelhos ditos inteligentes, mas com recursos de sobra e que não possuem utilidade prática. Um problema mais grave ainda é a interface: a maioria das smart TVs é muito lenta e seus comandos são pouco amigáveis, por mais esforço que os desenvolvedores façam para adicionar novas funções.

Isso acontece porque esses aparelhos são televisores comuns, mas que mudam a cara assim que você aperta algum botão no controle remoto, aparentemente ativando a “inteligência” do dispositivo.

A partir daí, uma série de menus surge na tela. Acessar qualquer um deles é, na maioria das vezes, cansativo e demorado. Até mesmo funções básicas como mudar de canal ou aumentar o volume ficam extremamente lentas em aparelhos vendidos atualmente.

É claro que isso não é uma regra geral para todos, mas infelizmente vale para a maioria.

Deixando as TVs realmente inteligentes

A LG era um desses fabricantes que criavam aparelhos nem tão inteligentes assim, até que alguém de lá teve uma ideia: por que não, em vez de simplesmente aplicar uma camada de funções especiais em cima de um televisor comum, criar algo novo, completamente do zero e planejado para ser realmente funcional e inteligente?

E foi aí que a companhia saiu em busca de um sistema operacional novo e capaz de oferecer tudo o que era preciso. O resultado veio com o webOS.

O webOS não é exatamente uma novidade. O sistema foi desenvolvido pela Palm, empresa que ficou conhecida pelo pioneirismo na área de computação pessoal móvel, mas que não conseguiu acompanhar o ritmo acelerado de desenvolvimento dos smartphones.

Quando começou a desenvolver um sistema baseado em Linux, o webOS, a Palm queria fazer desse sistema o sucessor do PalmOS em seus produtos. A plataforma foi lançada em 2009, mas infelizmente não fez sucesso suficiente para enfrentar outros grandes concorrentes do mercado, como o iOS e o Android.

Em 2010 a HP adquiriu a Palm e o webOS, com o objetivo de fazer do sistema a plataforma-padrão para todos os seus dispositivos, incluindo smartphones, notebooks e até mesmo desktops. Foi aí que a equipe de desenvolvimento do webOS começou a pesquisar a possibilidade de portar o software para outros sistemas, incluindo televisores.

Contudo, os planos da HP não se concretizaram e o software acabou sendo deixado meio de lado pela empresa, até que a LG demonstrou interesse por ele. A companhia coreana adquiriu os direitos de uso do webOS em fevereiro de 2013, e rapidamente desenvolveu a plataforma para incluí-la em suas TVs inteligentes.

Durante nossa visita ao laboratório da LG no Vale do Silício, conversamos com Colin Zhao, responsável pelo desenvolvimento desde a época em que o sistema ainda era de propriedade da HP.

Zhao contou que o sistema estava recebendo pouca importância dentro da HP, e que o seu potencial ainda não havia sido completamente aproveitado. Quando a LG adquiriu os direitos do sistema, ele e a equipe foram deslocados para o novo laboratório em Santa Clara, no Vale do Silício, criado especificamente para pesquisa e desenvolvimento do webOS.

A partir daí, a equipe cresceu e o desenvolvimento foi agilizado. Em poucos meses, os primeiros modelos de televisores com webOS já estavam prontos para pesquisa com pessoas de verdade.

O desenvolvimento do sistema

A LG já estava em busca de um novo sistema para seus televisores inteligentes quando adquiriu o webOS, por isso o início do desenvolvimento com os novos produtos foi extremamente rápido.

Durante nossa visita ao laboratório da LG, a equipe nos contou como foi o processo de desenvolvimento das novas TVs, passando desde a elaboração dos conceitos até quando o próprio televisor evoluiu.

Quem começou a apresentação foi Samuel Chang, líder da LG do Vale do Silício. Ele começou contando como a TV evoluiu de forma gradual durante os anos, mas alguns itens sempre foram importantes para os consumidores:

  • As pessoas querem estar conectadas/informadas;
  • As pessoas querem estar entretidas;
  • As pessoas querem um ótimo design.

Colin Zhao continuou: “As pessoas entendem o que é um smartphone, elas sabem utilizar um smartphone. Em teoria, você poderia pegar um smartphone ou um tablet e simplesmente transferir a interface para a TV. O problema é que em um dispositivo móvel você realiza muitas atividades: redes sociais, email, internet, jogos, mapas e muito mais. E isso é o algo que tem sido feito há algum tempo”.

“O que nós fizemos aqui na LG foi pegar o conceito de TV e voltar desde o início, repensar todo o processo e o modo de funcionamento para fazer a TV ser algo simples novamente.”

“O que nós podemos fazer para deixar a TV mais rápida, mais simples, adicionar mais recursos, mas fazer tudo de maneira fácil para os consumidores?”

Colin Zhao apresentando o webOS e mostrando de onde veio a inspiração para os novos modelos.

Colin conta que — por mais que pareça estranho — a inspiração para os novos aparelhos de TV da LG foi algo bastante simples: as TVs de antigamente, aquelas que você ligava, selecionava o canal e começava a assistir, sem precisar passar por menus complexos.

“Olha, gostei desse programa, vou assistir isso”, completou Colin Zhao.

Ele continuou: “Com o passar do tempo os televisores começaram a ficar cada vez mais complicados: tanto em termos de conteúdo quanto em como fazemos para assistir. Centenas de canais de TV a cabo, serviços de vídeo por streaming, tudo isso é complexo. Para completar, temos uma grande quantidade de dispositivos hoje em dia. ‘Xbox, PlayStation, set top boxes’”.

Mas e por que webOS?

Quem explicou a escolha pelo webOS foi Samuel Chang, que apontou três motivos principais: “em primeiro lugar, posso citar que, quando ele foi desenvolvido, já era um sistema operacional moderno e com recursos importantes. Quando o vimos, percebemos que ele possui uma excelente base”.

“Em segundo, o webOS realmente coloca a tecnologia da web no centro, em como tudo é desenvolvido. E isso é incrivelmente importante porque os desenvolvedores e os consumidores não querem mais um sistema fragmentado. Além disso, todos abraçam a tecnologia web.”

“O terceiro motivo é que o webOS é incrivelmente rápido e poderoso em multitarefas.”

Colin Zhao complementou, explicando que o segredo do sistema foi equalizar tudo na interface, que foi minimizada para simplificar o acesso aos recursos, sejam eles aplicativos ou outros eletrônicos conectados à TV.

Para o webOS, tudo pode ser considerado um “app”, desde o pendrive conectado à porta USB até o seu video game conectado à porta HDMI do aparelho, passando por aplicativos tradicionais como YouTube ou Netflix. Tudo isso tem o mesmo peso e é exibido como ícones na tela.

Ou seja: você não precisa pular de um menu complexo para outro apenas para encontrar a porta USB ou HDMI na qual você espetou algum periférico. Tudo é exibido na tela inicial, bastando apontar e clicar.

Colian Zhao afirma que, desde o início do desenvolvimento, uma das principais qualidades do webOS sempre foi a sua capacidade multitarefas. E qual é uma das principais maneiras de fazer com que sua TV seja mais simples? “Faça-a ficar mais rápida”, continuou.

Interface: passado, presente e futuro

A interface das TVs webOS é dividida em três áreas principais: passado, presente e futuro. O “presente” é a tela mais importante, pois é ela que mostra o que você está fazendo no momento.

Para acessar esse local, basta pressionar o botão home no controle remoto. A parte boa é que o que você estava assistindo continua sendo exibido na tela, em uma camada atrás do menu.

O “passado” é como se fosse um histórico de suas atividades anteriores, vídeos assistidos no YouTube ou aplicativos acessados, por exemplo.

A tela “futuro” mostra uma lista com todos os apps instalados na TV. Basta navegar pela lista e selecionar o que você quiser fazer a partir dali. É como se fosse um menu mais completo.

O interessante é que não é preciso esperar para ver o menu pipocar na tela — é só pressionar o botão no controle remoto. Tudo é incrivelmente rápido e simples.

Tela de configuração

A tela de configuração da TV também foi redesenhada pela LG. Em vez de uma série de menus complicados e muitas vezes assustadores, a nova interface webOS possui um pequeno mascote que indica passo a passo o que você deve fazer, desde como movimentar o controle remoto até como sintonizar os canais.

O guia é bastante intuitivo e ensina você a conectar sua nova TV à internet e a ligar o seu set top box, por exemplo. Conecte-o à TV e o assistente vai perguntar em qual porta HDMI ela foi instalada. Também é possível selecionar o fabricante e o modelo para agilizar o processo de configuração.

Colin Zhao diz que a empresa optou por essa abordagem para facilitar o entendimento dos usuários na hora da configuração. Como a ideia principal da TV desde o início foi a simplicidade, todos os aspectos precisam ser abordados da mesma maneira — até a parte chata e complicada, que é configurar tudo.

Loja de aplicativos

Uma das vantagens em se ter um televisor com um sistema operacional completo é a possibilidade de se instalar aplicativos no sistema, assim como se fosse um tablet ou smartphone. Isso não é uma novidade nos novos equipamentos da LG, mas certamente é uma ferramenta interessante.

Segundo Colin Zhao, muitos desenvolvedores já conhecem o webOS, e a maioria dos aplicativos considerados “premium” pela LG (Netflix, Hulu, YouTube etc.) já foi convertida para os novos televisores. Ainda assim um grande número de novos programas deve ser adicionado à biblioteca de softwares.

Programas de todos os tipos devem ser incluídos: serviços de TV por streaming, redes sociais, gerenciadores de mídia e até mesmo jogos... Mesmo que esse não seja o objetivo dos aparelhos, segundo Colin: “Já existem games na nossa loja de aplicativos e é possível se divertir com eles. Mas, se você gosta de jogos, provavelmente você tem um console. O objetivo da TV não é ser um console”.

Controle remoto

O controle remoto também é diferente. Ele foge do modelo tradicional e funciona como o controle do Nintendo Wii: um cursor aparece na tela assim que você movimenta o acessório com a mão, bastando que você clique nos ícones e comande a TV como quiser.

O controle remoto é bastante simples, trazendo poucos botões. Não existe um teclado numérico ou botões com funções pouco utilizadas. As teclas principais ficam localizadas em volta de um scroll, assim como aqueles encontrados em um mouse para computador. As teclas podem mudar de função de acordo com os aplicativos; ao pressionar o scroll enquanto assiste um filme do Netflix, por exemplo, você pausa ou retoma a exibição.

Um destaque vai para o teclado numérico, que não está presente no controle. Como mudar de canal sem ter que passar por todos novamente? Simples: abra um teclado virtual na tela e digite os números. Como o controle é um apontador, selecionar os comandos é tão fácil quanto no controle.

Esse acessório também aceita comando de voz — inclusive em português do Brasil.

A LG também garantiu que os novos televisores poderão aceitar outros acessórios conectados às portas USB, como câmeras, teclados e até mesmo joysticks.

Conectando seu celular

Conectar o seu dispositivo móvel com um televisor webOS deve ficar incrivelmente simples no futuro. Isso porque, em vez de a LG disponibilizar um aplicativo para cada sistema operacional móvel como a maioria faz, ela simplesmente disponibilizou um SDK gratuitamente para quem quiser desenvolver programas compatíveis com o sistema.

O Connect SDK, como é chamado, deve permitir que desenvolvedores tornem seus aplicativos compatíveis com o novo sistema da LG sem complicações. Durante a visita, nós vimos um exemplo de como isso vai funcionar.

Colin Zhao executou uma música através do aplicativo Musixmatch rodando em um iPhone, e com alguns movimentos passou o som direto para a TV, tudo através da rede de dados.

Sala de testes

Para testar os produtos, não existe nada melhor do que colocar o público para ver o que está certo e o que está errado no sistema, pois muitas coisas somente os consumidores podem perceber.

E para resolver esse problema a LG construiu uma sala de testes em seu laboratório. Esse ambiente é exatamente como uma sala de estar comum, com uma única diferença: existem espelhos e câmeras por todos os lados, e é por esses lugares que a equipe de pesquisa analisa o comportamento das pessoas.

Colin Zhao diz que todos os tipos de consumidores foram colocados nesse ambiente, desde crianças a pessoas idosas, e a LG só definiu o produto final depois que todo mundo chegou a um consenso: a TV é simples, rápida e funcional.

Zhao garantiu que ninguém é “espionado” sem autorização nessa sala. Todos os que estiveram ali sabiam que poderiam ser vistos pelos espelhos.

Esse tipo de teste é bastante comum em empresas de grande porte; praticamente todas trabalham dessa maneira, pois é a forma mais fácil de entender a percepção do público em relação a novos produtos.

Guerra de hardware: qual TV tem mais RAM?

Essa nova leva de aparelhos inteligentes também está iniciando uma disputa pelo melhor hardware, algo como já vemos nos smartphones. De acordo com a LG, produtos mais avançados poderão ter processadores melhores, mais memória e mais espaço para o armazenamento de apps. Consequentemente, eles garantiriam um desempenho maior dos equipamentos.

Contudo, a LG nos garantiu que a equipe trabalhou para definir um padrão mínimo de desempenho e que nenhum aparelho com webOS será lento em momento algum. Todos são construídos para oferecer a melhor experiência possível, e a empresa afirma que os consumidores não precisam se preocupar.

O webOS veio para ficar?

O novo sistema da LG certamente é uma luz no fim do túnel para quem não queria passar perto dos televisores “chamados” inteligentes por não ver utilidade nas funções extras que eram apresentadas nesses modelos. E a culpa não é dos consumidores. A grande maioria dos produtos até trazia funções interessantes, mas aplicadas de forma errada.

Abrir um menu cheio de ícones, listas e funções até encontrar o que se quer, além de escolher, selecionar e esperar um bom tempo até tudo carregar, era muito cansativo: até mesmo mudar de canal ou aumentar o volume é complicado e demorado em alguns televisores disponíveis no mercado.

Com isso, muitas pessoas acabam preferindo televisores normais, sem as funções smart, para então adicionar um set top box externo como Google Chromecast, Amazon Fire TV ou algum mídia center caseiro construído com um computador velho.

Dizer que a LG reinventou o conceito não é um exagero. A empresa realmente reescreveu tudo do zero e criou uma necessidade que até então muita gente fazia questão de fingir que não tinha. Navegar no webOS é rápido porque a TV foi implantada dentro do sistema, e não o sistema implantado em cima da TV, como nos modelos antigos.

É difícil comparar as novas TVs LG com outras telas smart porque se trata de um produto totalmente novo. Ela não é melhor que outras smart TVs, ela é diferente. O webOS veio para ficar e logo vai estar na sua sala. O motivo principal? Ele simplesmente funciona.

O TecMundo viajou à Santa Clara, na Califórnia, a convite da LG.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.