Psicologia do Facebook: afinal, por que a rede social é tão viciante?

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Há cerca de quatro meses, eu decidi apagar definitivamente a minha conta do Facebook. Não foi algo planejado: eu simplesmente disse “já chega”, comuniquei meus contatos mais próximos mandando mensagens privadas e deletei o perfil. Ponto final. Acredite, ficar longe da rede social mais famosa do mundo não é algo tão doloroso quanto algumas pessoas defendem.

Porém, o objetivo deste artigo não é falar se você deve usar o Facebook ou não – para mim, isso é uma escolha pessoal e na qual ninguém tem o direito de intervir. O que eu quero é explicar os motivos que me levaram a abandonar de vez o serviço, já que eles ficaram especialmente claros para mim após tanto tempo sem acessar tal site.

Há uma razão simples para esclarecer por que o Facebook se mostrou mais bem-sucedido do que o Orkut. Se você ainda não sabe, vale a pena comentar antes de mais nada que Mark Zuckerberg está longe de ser um gênio da programação: ele é graduado em psicologia, não em ciências da computação. O norte-americano simplesmente reuniu tudo o que lhe foi ensinado em Harvard para criar um serviço que usa métodos científicos para viciar o usuário.

A caixa de Skinner

Embora a rede social esteja quase mudando esse conceito, não é exagero dizer que a arma secreta para o sucesso do Facebook seja o seu sistema de curtidas – ou “likes”, no original em inglês. Ao publicar algo na plataforma, a única coisa que terceiros podem fazer é curtir aquilo, ou seja, elogiar, endossar ou aclamar aquele conteúdo.

A busca pela consequência agradável continua, o que te força a postar cada vez mais

Há um porquê disso. Tal sistema foi construído com base no conceito de condicionamento operante, criado pelo psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner e que considera que as consequências de uma ação podem influenciar a probabilidade de você repeti-la ou não. Um exemplo comum para explicar essa filosofia é o experimento teórico da “Caixa de Skinner”.

Nele, colocamos um rato dentro de uma caixa com uma alavanca que, ao ser pressionada pelo animal (ação), libera uma pequena quantidade de água para saciar sua sede (consequência). Se essa liberação ocorrer às vezes sim e às vezes não, a consequência é classificada como intermitente, e ela só serve para que o indivíduo continue executando a ação em busca de um resultado que lhe seja positivo (ou seja, agradável).

Isso é o que ocorre no Facebook. Você posta uma foto e recebe certa quantia de curtidas. No dia seguinte, publica outra imagem e recebe uma quantidade menor de likes. A busca pela consequência agradável continua, o que te força a postar cada vez mais. E por que não existe um botão “descurtir”? Bom, porque isso seria uma consequência negativa, algo que nos incentivaria a parar de postar após pouquíssimo tempo.

Uma vida medida em “likes”

O Facebook faz com que você se sinta como um palestrante sendo aplaudido por sua plateia. Você tem uma série de seguidores, prontos para ouvir aquilo que você tem a dizer. Diferente do que acontece “na vida real”, a internet te dá mais tempo para pensar em dizer algo mais apropriado para seu público. Assim, você tem mais chances de agradar.

Os likes viraram uma forma de mensurar a qualidade de uma ideia, de uma proposta ou até mesmo de um estilo de vida

O problema é que a rede social não permite que você seja criticado. Os espectadores só podem curtir, nada mais. Você acaba sendo condicionado a sempre receber atenção positiva – e, adivinhe, o ser humano naturalmente adora receber atenção. O Facebook toca uma região de nosso cérebro conhecida como núcleo accumbens – região dedicada à sensação de prazer.

Quanto mais postamos, mais feedback positivo nós recebemos. É como uma droga que faz você se sentir melhor consigo mesmo. São centenas ou até milhares de pessoas concordando com você, parabenizando suas atitudes, invejando suas férias em Miami e adorando tudo o que você diz. Você é o cara. Um gênio, um prodígio, um pensador iluminado em um mundo de ovelhas cegas. A quantidade de curtidas que você recebe é um indicador disso.

Os likes viraram uma forma de mensurar a qualidade de uma ideia, de uma proposta ou até mesmo de um estilo de vida. Tanto que não é difícil ver discussões nas quais um internauta usa o número de curtidas de seu comentário anterior como argumento para provar que sua linha de pensamento é superior ou mais bem elaborada. Sem que nós percebêssemos, esses pequenos trechos de informação – um punhado de bits e bytes – começaram a ditar nossa felicidade.

A opinião dos profissionais

Para saber mais sobre o assunto, o TecMundo resolveu conversar com a Dra. Letícia Guedes, psicóloga clínica, palestrante e escritora. De acordo com a profissional, podemos concluir que muitos indivíduos enxergam a internet e as redes sociais como válvulas de escape para os seus problemas. Letícia comenta ainda que alguns estudos afirmam que o uso patológico da web pode causar transtornos emocionais ainda não classificados nos manuais da área.

Muitos indivíduos enxergam a internet e as redes sociais como válvulas de escape para os seus problemas

“O uso abusivo da internet pode causar um impacto negativo em nossas relações e pode levar, por exemplo, a perder parte de nosso círculo social”, explica. “Na web, as pessoas ficam mais desinibidas por pensarem que estão próximas das pessoas, mas sem a necessidade de se mostrar pessoalmente. Essas interações são uma força para o ego de cada pessoa e podem trazer danos interpessoais. É comum os indivíduos se privarem de contato físico e se viciarem em checar a vida alheia”, esclarece a especialista.

Letícia comenta ainda que, naturalmente, o Facebook possui seus pontos positivos e que podem ajudar o ser humano a se expressar melhor. Porém, se a pessoa se vê presa à rede social, incapaz de viver sem utilizá-la, é necessário repensar o seu uso e até mesmo procurar ajuda psicológica.

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