Erro 404: e se as pessoas falassem com gírias da internet na vida real...

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Juvêncio é um rapaz antenado com tudo o que acontece na web. O jovem iniciou um curso técnico em informática quando tinha 15 anos e se apaixonou pela vida online. Depois disso, encontrá-lo se tornou cada vez mais fácil.

Quando não está dormindo ou na escola, o garoto passa o restante do dia na frente do PC. Ele costuma ocupar seu tempo jogando os games mais quentes do mercado, atualizando seu blog sobre manutenção de computadores ou interagindo com seus amigos (alguns deles virtuais) nas redes sociais. Raramente, alguém o vê AFK.

Como sabemos, a internet é um vasto ambiente no qual os internautas se expressam com total liberdade. As clássicas regras da gramática são deixadas de lado, sendo substituídas por siglas e expressões em inglês.

Apesar dessa “linguagem virtual” ser mais descontraída, a utilização constante dela pode ter consequências nada agradáveis. Juvêncio tem sofrido com isso, sua vida real se tornou um caos por sua teimosia em usar gírias o tempo todo.

Vestibulando

Atualmente, o jovem possui 17 anos e acabou de prestar seu primeiro vestibular. Como todo bom nerd, ele é muito inteligente e não enfrentou grandes desafios durante a parte objetiva da prova. O problema foi na hora da redação. O exame deixou o estilo textual à escolha dos vestibulandos. Os candidatos apenas tinham que se ater ao tema: “Inclusão digital é um direito de todos”.

Juvêncio, conhecedor de qualquer assunto relacionado à tecnologia, se sentiu tranquilo ao resenhar sua opinião. Por ter domínio do assunto, o rapaz ficou confiante com o texto redigido. Contudo, sua nota não foi condizente com sua expectativa. O grande X assinalado em sua prova acabou com as esperanças da sua entrada na universidade. Abaixo, transcrevemos um pequeno trecho da redação.

“IMHO, as techs devem ser disseminadas para que todos, indiferentemente do seu credo ou classe social, tenham acesso à internet. BTW, não adianta apenas viabilizar a compra de PCs para as camadas sociais com menor renda. Um programa de inclusão digital assim será um FAIL total. Hoje, não adianta apenas saber googlear. Os usuários precisam ser treinados e entender sobre computadores, caso contrário, os noobs serão trollados, ever”.

E esse foi apenas o primeiro parágrafo.

Entrevista de emprego

Sem perspectivas de conseguir uma vaga na faculdade, Juvêncio começou a procurar um emprego. Ao contrário das gerações anteriores, que utilizavam os jornais para encontrar uma oportunidade de trabalho, o jovem acessou alguns sites de recursos humanos e em poucas horas tinha seu currículo viralizado por centenas de empresas.

No dia seguinte, ele já tinha uma entrevista marcada. Tênis old school no pé, gel no cabelo, camisa xadrez e calça jeans rasgada. O rapaz estava pronto para encarar sua iniciação no mercado de trabalho. Para começar, o garoto cometeu um erro grave: não se atentou para o fato de que a oportunidade era em um escritório de advocacia. Ou seja, seu look estava completamente deslocado, FAIL!

Obviamente, ao chegar ao local, Juvêncio atraiu olhares descontentes. Mesmo assim, foi atendido:

Entrevistador: Bom dia, Sr. Juvêncio. Como vai?

Juvêncio: Bom dia, tô legal. E você, big boss?

Entrevistador: Estou bem, obrigado. Nossa vaga é para a manutenção dos computadores e da rede interna do escritório. Quais são seus conhecimentos em informática? Possui alguma referência?

Juvêncio: Eu fiz um curso de manutenção de PCs, referente a essa parte tá tudo susse. Em relação à rede, eu manjo de games online. Sem me gabar, já tive algumas epicwins no SSF IV e no NFS UnderCover, dando owned por diversas vezes nos meus oponentes. No CS, sou campeão em headshots. Enfim, não se preocupe, mesmo que eu não saiba de alguma coisa, é só googlear e descobrir comofas.

Entrevistador: Hum... Eu ligo para você na semana que vem. Adeus.

Juvêncio: TNX.

Discutindo o relacionamento

No FDS, Juvêncio não está nada animado. Sem ingressar na universidade ou arranjar o emprego (ele ficou com a sensação de que a ligação nunca viria), o rapaz estava meio deprê. Descontente, porém sem saber o porquê, ele resolveu se consolar com sua namorada – a qual encontrava com uma frequência um tanto quanto escassa.

Chamou a atenção da moça pelo MSN e marcou o encontro no shopping para tomar um milk shake. No local, a menina estava com uma cara “amarrada”. A primeira frase dita por ela – “Oi. Temos que conversar” – entregava a DR que viria pela frente.

Namorada: Escuta, Juvêncio, qual o seu conceito de namoro? Você me troca por aquele seu computador. Nos encontramos, no máximo, três vezes no mês. Você não me dá atenção.

Juvêncio: WTH! Que papo é esse? Eu te dou atenção, sim. Converso com você quase todos os dias, no MSN. Mesmo quando estou busy, mando um SMS ou email.

Namorada: Isso não é o bastante. Quando vou à sua casa, você não larga seus jogos idiotas.

Juvêncio: STFU. Não fale mal dos meus games. Você é uma hater, só sabe me criticar.

Namorada: Viu só, você passa tanto tempo na internet que vive pronunciando gírias nerds. Eu mal entendo o que você fala.

Juvêncio: STFW.

Namorada: Assim, não há condições de continuarmos juntos.

Juvêncio: Ok, precisamos dar um tempo. Cya.

Após esse fatídico evento, o rapaz se tornou um forever alone.

Ajudando o primo

Domingo à tarde e Juvêncio continuava desamparado. Após uma partida de PES 11, o jovem recebeu uma ligação de seu primo, pedindo ajuda para resolver um problema no computador. O rapaz atendeu o chamado, imaginando que seria uma forma de distração.

Chegando à residência de seu parente, ele encontrou o primo transtornado porque o PC não ligava. A criança, que já apresentava os mesmo sintomas de Juvêncio, pegou na mão dele e saiu em disparada na direção do quarto. No corredor, a pressa do pequeno quase os fizeram cair.

Juvêncio: Wow! Calma aí, cara. Quase embolotei.

Primo: Desculpa. Mas estou com pressa, meu PC não liga de jeito nenhum.

Juvêncio: Eu vou dar um look na máquina. Vou pegar minhas ferramentas, BRB.

Com seus equipamentos, o jovem especializado em manutenção de computadores começou a averiguar o problema.

Juvêncio: OMG! Você é um noob, primo – LOL. Brinks, você apenas deveria ter verificado se o cabo de força estava conectado no PC. Fique mais atento da próxima vez. RTFM de tudo o que comprar, fikadica.

Primo: Pode repetir? Não entendi nada do que você falou!

É hora do show, tá ligado?

Depois de não se compreendido por ninguém nos dias anteriores, Juvêncio parou para refletir. Ele estava sem emprego, namorada e vaga na universidade. O jovem precisava tomar alguma atitude para dar um rumo à sua vida. Navegando pela web, o rapaz vislumbrou que grupos de rap usam gírias em suas composições.

Então, após dias de agonia, o garoto soltou o grito: “Fuck yeah! Encontrei uma forma de ganhar dinheiro sem mudar minha personalidade. Vou cantar rap geek”. Meses depois, após se reunir com dois amigos de suas redes sociais, Juvêncio começou a produzir seus shows – os quais podem ser vistos pela internet.

Muitos podem estar pensando “WTF, o que seria esse estilo musical?”. Se você ainda não é um mano virtual, confira o vídeo epicwin abaixo.

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Atenção: este artigo faz parte do quadro "Erro 404", publicado semanalmente no Baixaki e Tecmundo com o objetivo de trazer um texto divertido aos leitores do site. Algumas das informações publicadas aqui são fictícias, ou seja, não correspondem à realidade.

Encontrou dificuldades para assimilar algumas partes deste artigo? Confira o “Erro 404: Novo Dicionário da Língua Portuguesa [Versão Geek]” e desvende os termos usados neste texto. E você, caro leitor, já passou por alguma dificuldade por usar gírias da internet? Quais são as expressões que você utiliza com frequência? Conhece alguém que age como o Juvêncio?

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