Simulação mostra o asteroide Bennu colidindo com a Terra em 2182; entenda
Há uma pequena chance de Bennu atingir a Terra em 2182; cientistas criaram uma simulação para analisar os possíveis impactos.

Fonte: Getty Images.
O último grande impacto de um asteroide na Terra ocorreu há cerca de 66 milhões de anos, quando uma rocha colossal atingiu a Península de Yucatán, no México; esse foi um dos principais fatores da extinção dos dinossauros. A colisão formou a cratera de Chicxulub, com aproximadamente 180 quilômetros de diâmetro. Agora, cientistas alertam que o asteroide Bennu possui uma pequena chance de impacto com a Terra.
Há alguns anos, especialistas estudam o asteroide Bennu, um corpo celeste com cerca de 487 metros de largura e uma massa de bilhões de quilos. Em contraste, o asteroide que contribuiu para a extinção dos dinossauros tinha entre 10 e 15 quilômetros de diâmetro e pesava trilhões de quilos. Apesar de Bennu não ser capaz de gerar uma cratera tão imensa nem desencadear uma extinção em massa, seu impacto ainda causaria danos significativos.
De acordo com um novo estudo publicado na revista científica Science Advances, pesquisadores do IBS Center for Climate Physics (ICCP), da Pusan National University, na Coreia do Sul, realizaram uma simulação para prever as possíveis consequências caso Bennu colidisse com a Terra. Mesmo sendo improvável, esse cenário não pode ser totalmente descartado. Atualmente, a probabilidade de impacto é de 1 em 2.700, e a possível colisão é estimada para setembro de 2182.
A probabilidade de impacto pode parecer significativa, mas para ilustrar melhor, imagine jogar uma moeda para o alto 11 vezes seguidas e acertar cara todas as vezes. Como é fácil perceber, essa sequência é extremamente improvável. Então, embora a colisão possa ocorrer, também há uma grande chance de Bennu simplesmente passar ‘direto’ pela nossa órbita sem atingir a Terra — como o asteroide só chegará em mais de 150 anos, não poderemos observar o evento para descobrir o desfecho.
Por isso, os cientistas do ICCP desenvolveram uma simulação para prever os efeitos de um impacto de Bennu na Terra. Além de analisar as consequências na superfície, também avaliaram os impactos nos ecossistemas e as reações químicas que poderiam alterar a atmosfera. Para encontrar bons resultados, eles utilizaram um modelo climático de última geração, combinado com dados de um asteroide de porte médio.
“O impacto de asteroides de médio porte pode lançar enormes quantidades de poeira na atmosfera, com consequências ainda desconhecidas para os ecossistemas terrestres e marinhos. Neste estudo, utilizamos o modelo climático acoplado Community Earth System Model Version 2, com química interativa, para analisar como colisões desse tipo poderiam afetar o clima, a vegetação e a produtividade dos oceanos”, os pesquisadores descrevem no artigo.
Asteroide Bennu
Os astrônomos identificaram o asteroide Bennu pela primeira vez em setembro de 1999, por meio do programa de monitoramento Lincoln Near-Earth Asteroid Research (LINEAR), nos Estados Unidos.
Inicialmente chamado de 1999 RQ36, ele só recebeu o nome atual em 2013. Inclusive, a escolha foi feita por Michael Puzio, um menino de nove anos, em uma competição promovida pela NASA. O nome faz referência à divindade egípcia Bennu, associada à criação do Sol e ao renascimento.

O asteroide completa uma órbita ao redor do Sol a cada 1,2 anos, com uma distância média de 168 milhões de quilômetros. Para efeito de comparação, a Terra está a 149 milhões de km do Sol. O possível problema é que, a cada seis anos, Bennu se aproxima a cerca de 299 mil quilômetros do nosso planeta — uma distância relativamente curta em relação à sua órbita.
Segundo a NASA, Bennu se formou a partir de um asteroide muito maior e rico em carbono, entre 700 milhões e 2 bilhões de anos atrás. Os cientistas acreditam que ele se desprendeu desse corpo no cinturão de asteroides, entre Marte e Júpiter, e ao longo do tempo migrou para uma órbita que o trouxe cada vez mais perto da Terra.
“Cientistas acreditam que uma colisão cataclísmica fez com que um asteroide rico em carbono de 60 a 130 milhas (100-200 quilômetros) de diâmetro, aproximadamente o tamanho de Connecticut, se partisse, espalhando pedaços, incluindo Bennu. O asteroide vagou para o espaço próximo à Terra por causa de interações gravitacionais com os planetas gigantes e devido ao efeito Yarkovsky de longo prazo”, a NASA explica.
Colisão do asteroide Bennu
Para analisar os possíveis impactos, cientistas realizaram a simulação no supercomputador Apeph, do ICCP. Diversos cenários foram testados para prever os efeitos do impacto. A estimativa indica que a queda liberaria entre 100 milhões e 400 milhões de toneladas de poeira, o que poderia alterar a composição química da atmosfera e comprometer a fotossíntese nos quatro anos seguintes.
Em um comunicado oficial, os pesquisadores explicam que, no pior cenário, o céu ficaria coberto por uma densa camada de poeira que bloquearia a luz solar. Como consequência, a temperatura global poderia cair até 4 °C, além de ocorrer uma redução extrema de 32% na camada de ozônio.

"O 'inverno de impacto' abrupto criaria condições climáticas desfavoráveis para o crescimento das plantas, resultando em uma redução inicial de 20 a 30% na fotossíntese em ecossistemas terrestres e marinhos. Isso provavelmente causaria grandes impactos na segurança alimentar global", disse o pesquisador e principal autor do estudo, Lan Dai.
Um dos aspectos mais fascinantes revelados na simulação foi a rápida recuperação da comunidade de plânctons nos oceanos. Inicialmente, os pesquisadores acreditavam que levaria alguns anos para os níveis voltarem ao normal, mas perceberam que, em apenas seis meses, a população estava acima do esperado. Os pesquisadores acreditam que esse comportamento está ligado ao ferro presente na poeira cósmica, que seria dispersa na Terra após a colisão e poderia estimular esse crescimento.
De qualquer forma, a pesquisa conclui que a humanidade provavelmente não seria extinta caso esse evento ocorresse. Inclusive, é possível que os ancestrais dos seres humanos já tenham vivenciado impactos semelhantes, pois colisões de asteroides como Bennu podem ocorrer a cada 100 a 200 mil anos.
Ao longo da história, a Terra já foi atingida por diversos asteroides, alguns com impactos devastadores. Mas quais desses corpos celestes representam uma ameaça real para o nosso planeta hoje? Entenda quais são os 5 asteroides mais perigosos para a Terra, segundo a NASA. Até a próxima!

Especialista em Redator
Lucas Guimarães escreve sobre ciência e tecnologia há mais de dez anos.