Ciência

Cientistas criam enzima mutante que pode digerir garrafas de plástico

Pesquisadores manipulavam variações de uma substância quando, acidentalmente, criaram uma versão mais poderosa, capaz de “comer” produtos PET

em 17/04/2018, 13:16
Cientistas criam enzima mutante que pode digerir garrafas de plástico

Fonte: Pixabay

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Pesquisadores vêm há algum tempo procurando por uma solução natural para diminuir o impacto causado pelo acúmulo de plástico no planeta. Eles já encontraram vermes e micróbios capazes de quebrar essa estrutura. Somente com uma nova bactéria é que o houve um avanço significativo e, ainda que sua “digestão” fosse lenta demais, ela abriu caminho para uma nova esperança: ao estudá-la, os cientistas encontraram acidentalmente uma enzima mutante capaz de “comer” até mesmo as garrafas PET — as mesmas usadas em refrigerantes e outras bebidas.

Desde 2016, quando a Ideonella sakaiensis 201-F6 foi descoberta no Japão, uma equipe internacional vem realizando experimentos para compreender melhor seu funcionamento. Depois de isolada a enzima responsável pelo processo, eles passaram a realizar modificações. E, sem querer, evoluíram as amostras para uma versão “mais poderosa”.

"O resultado foi que realmente melhoramos a enzima, o que foi um pouco chocante. Isso é ótimo, é uma descoberta real", animou-se o John McGeehan, líder do estudo e professor da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido.

Descoberta abre novas possibilidades de reciclagem

A enzima mutante ainda leva alguns dias para começar a quebrar o plástico, o que já é muito mais rápido do que os séculos que eles passam nos oceanos. Mas os pesquisadores estão otimistas de que isso pode ser acelerado e se tornar um processo viável em larga escala.

Cerca de 1 milhão de garrafas plásticas são vendidas a cada minuto em todo o mundo e apenas 14% são reutilizadas

"O que esperamos fazer é usar essa enzima para transformar o plástico de volta aos componentes originais, para que possamos literalmente reciclá-lo de volta. Isso significa que não precisamos desenterrar mais petróleo e, fundamentalmente, reduzir a quantidade de plástico no ambiente”, comentou McGeehan.

Cerca de 1 milhão de garrafas plásticas são vendidas a cada minuto em todo o mundo e apenas 14% são reutilizadas, porque o custo de produção acaba sendo muitas vezes mais barato do que a reciclagem — e, na maioria das vezes, o resultado são apenas fibras opacas, que só podem ser usadas em roupas e tapetes.

pet garrafa plástico

Com a novidade, há a possibilidade de separar todos os elementos e retorná-los completamente, criando unidades “zeradas” e reduzindo a necessidade de aumento de produção. "Você está sempre lutando contra o fato de que o petróleo é barato, então o PET virgem é barato. É tão fácil para os fabricantes gerar mais dessas coisas, ao invés de tentar reciclá-las. Mas acredito que a percepção está mudando tanto que as empresas estão começando a ver como podem reciclar isso adequadamente.”

Enzima mutante já foi patenteada para uso industrial

A pesquisa foi publicada na revista Proceedings of National Academy of Sciences e já há uma patente sobre a enzima mutante, registrada pelos cientistas de Portsmouth e do Laboratório Nacional de Energia Renovável dos Estados Unidos, no Colorado. O próximo passo é transplantar a substância em extremófilos, micróbios que podem sobreviver a temperaturas acima de 70 graus Celsius, que é o ponto em que o PET muda do estado vítreo para viscoso e torna sua degradação de 10 a 100 vezes mais rápida.

Enzimas são amplamente usadas em ambientes industriais, como na lavagem e na produção de biocombustíveis, e muitas delas foram otimizadas para trabalhar até 1 mil vezes mais velozmente. E é isso que McGeehan pretende fazer também com a “comedora de plásticos”.

pet garrafa poluição plástico

Ainda que tudo isso seja muito animador, outros especialistas acreditam que, nesse primeiro momento, talvez seja melhor deixar a reciclagem completa para uma segunda fase. A ênfase agora, seria em reduzir a quantidade de plástico produzido atualmente.

Adisa Azapagic, professora da Universidade de Manchester, no Reino Unido, também acrescentou uma importante observação: “é preciso avaliar o ciclo completo, para garantir que essa tecnologia não resolva a questão ambiental do desperdício ao custo de outros problemas, como emissões adicionais de gases de efeito estufa”.

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