Tecnologias promissoras: reversão de idade

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O que você faria em sua vida se tivesse a certeza absoluta de que poderia viver até os 200 anos? Desde que a ciência ganhou um papel tão importante quanto o das religiões na sociedade, muitos foram os avanços. A expectativa de vida da população, se comparada com o período da Idade Média, praticamente dobrou e hoje é possível viver com qualidade até idades bem mais avançadas.

Mas será que é mesmo viável que a ciência possa avançar tanto, a ponto de permitir que os seres humanos possam retardar o envelhecimento e atingir com mais facilidade idades acima dos 100 anos? O assunto é polêmico e, além de suscitar dúvidas éticas e morais para muitos, causa controvérsias até mesmo dentro da comunidade científica.

Verdadeira obsessão da ciência, muitos avanços foram conquistados nesse campo, em especial nas últimas quatro décadas. Entretanto, se levarmos em consideração o desenvolvimento cada vez mais rápido da ciência e da tecnologia, há grandes probabilidades de que as conquistas, que antes demoravam décadas, tornem-se apenas uma questão de poucos anos.

Sendo assim, será que conseguiremos driblar o envelhecimento ainda nesta geração? As novas tecnologias serão mesmo capazes de dobrar ou até mesmo triplicar a expectativa de vida do ser humano? Quem viver, verá.

Melhorar o que já existe

O que de fato a ciência e a tecnologia estão fazendo para que seja possível viver mais ou com maior qualidade de vida? As pesquisas nesse campo são muitas, mas poucas trazem resultados práticos em curto prazo. A linha de pesquisa mais popular na atualidade diz respeito às substâncias e a maneira como elas reagem de formas distintas nos mais variados organismos.

Na busca do aumento da qualidade de vida, o foco central é a combinação de alimentos e substâncias, de forma a eliminar ou minimizar os riscos daquelas mais nocivas. O maior problema, em geral, é encontrar um equilíbrio entre a quantidade necessária e os riscos calculados que elas podem trazer.

Nesse ponto, entram em cena as pesquisas de laboratório. Conservantes e modificações genéticas em frutas e legumes podem torná-los não só mais resistentes a pragas como, também, fazer com que cresçam com mais nutrientes ou enriquecidos de substâncias específicas. Embora testes nutricionais sejam feitos à exaustão, muitos problemas podem surgir em longo prazo, revelando consequências que, mesmo nos testes mais apurados, não podem ser vistas no momento.

A revolução genética

(Fonte da imagem: The Sun / Reprodução)

O segundo ponto é, sem dúvida, o mais controverso de todos. Concluído em 1995, o Projeto Genoma permitiu aos cientistas mapear de forma precisa o código genético humano. A partir do seu conhecimento, foi possível estudar individualmente o funcionamento de cada uma das partes e, com isso, propor eventuais modificações no código de forma a conseguir resultados mais precisos.

Em seguida, os processos de clonagem e a controversa utilização de células-tronco para pesquisas ganharam a pauta e acirraram o debate acerca do papel do homem quanto aos seus semelhantes. Contudo, apesar das polêmicas, é possível notar alguns avanços oriundos dos resultados, em especial em se tratando dos primeiros testes com animais.

A jovem Robyn Cairney, de apenas 18 anos, foi salva graças ao transplante de um coração suíno. Ela teve uma válvula cardíaca de um porco implantada em seu próprio órgão, o que estabilizou sua corrente sanguínea.

Já Lee Spievak decepou parte de um dos dedos numa serra elétrica. Todavia, o irmão do paciente apresentou uma solução inusitada: implantar um composto celular feito à base de material genético retirado da parte interior da bexiga dos porcos.

Embora os animais sejam as principais cobaias em aplicações como essas, a utilização de células-tronco é uma das principais apostas desta década na medicina. Podendo se transformar em qualquer célula ou tecido de um organismo, elas acabam se tornando promissoras para o tratamento de doenças degenerativas.

A polêmica reside na utilização de células embrionárias para a criação de tecidos. O uso delas implica na destruição de um embrião, considerado por muitos como tendo os mesmos direitos à vida do que um ser humano.

Nanotecnologia: o cruzamento perfeito?

“Logo será possível substituir inteiramente o sangue humano por robôs”. A afirmação é do cientista Robert A. Freitas Jr. Antes que você se pergunte por qual razão alguém faria isso, o próprio cientista se encarrega de enumerar uma série de possibilidades que a utilização de nanorrobôs pode trazer para os seres humanos.

Eliminação de parasitas, bactérias, vírus e células cancerígenas; erradicação da maioria das doenças cardiovasculares, como a arteriosclerose; processamento mais rápido do oxigênio, aumentando a força e o vigor físicos; e redução da susceptibilidade a agentes químicos e parasitas de todos os tipos, eliminando todos os tipos de alergias, são apenas algumas das possibilidades levantadas por Robert.

Os sistemas seriam injetados no corpo humano e não contariam com funções de autorreplicação, ou seja, estariam incapacitados de reproduzir a si mesmo. Contudo, tecnologias como essa podem estar disponíveis apenas daqui uns 40 ou 50 anos.

As previsões mais otimistas apontam que somente na próxima década a nanotecnologia irá se desenvolver a ponto de, efetivamente, se constituir em um diferencial para o ser humano, resultando em elementos fundamentais para o avanço da medicina. A partir da combinação entre mapeamento genético e nanotecnologia, o ser humano poderá chegar a níveis de resistência nunca antes alcançados. Resta saber a que custo para a saúde.

E se fosse verdade?

Embora hoje pareça pouco provável que muitas dessas teorias levantadas, de fato, se tornem realidade, devemos levar em consideração que, no passado, muito do que era considerado impossível ou improvável acabou acontecendo, ainda que não da mesma maneira como foi previsto ou descrito.

Entretanto, fazer um exercício de futurologia e levar em consideração as implicações que o retardamento do envelhecimento e o aumento da expectativa de vida teriam sobre a sociedade é, no mínimo, um sinal de alerta. Afinal, será que o nosso planeta está preparado para uma superpopulação consumindo de maneira enlouquecida um grande volume de recursos?

Atualmente o planeta Terra conta com 7 bilhões de habitantes, muitos deles em condições precárias de subsistência. Em muitos países e territórios, o excesso de população, com mais habitantes do que a região é capaz de suportar, acarreta em problemas como a falta de infraestrutura e moradia, trânsito caótico, alimentação mais escassa – e, consequentemente, mais cara –, além de piores condições de qualidade de vida.

Outro problema, que aflige mesmo os países mais abastados é a questão previdenciária. Com um número maior de idosos em relação aos jovens, é natural que os governos apresentem um déficit nesse quesito, gerando novos problemas de ordem social. Dessa forma, regras de aposentadoria precisariam ser revistas, fazendo com que a média de idade para aquisição do benefício também aumentasse.

Como é natural em todas as tecnologias quando surgem, num primeiro momento apenas uma pequena parcela da população teria acesso a elas, em razão dos altos custos de desenvolvimento e manutenção. Essa nova “segregação genética” poderia gerar classes distintas de habitantes, uns tendo a oportunidade de chegar até idades bastante avançadas e outros com a qualidade de vida praticamente inalterada.

E o corpo, aguenta?

Não basta apenas ampliar a qualidade de vida, oferecer suplementos e substâncias capazes de aumentar a longevidade ou garantir por meios tecnológicos que células e enzimas continuem a ser produzidas nos mesmos níveis de uma pessoa mais jovem. É preciso levar em consideração outros fatores que não dependem, necessariamente, desse tipo de auxílio externo.

Os pesquisadores S. Jay Oshlansky, Bruce A. Carnes e Robert N. Butler, autores do livro “A Busca da Imortalidade: A Ciência nas Fronteiras do Envelhecimento”, defendem a tese de que não basta retardar os processos de envelhecimento: é preciso também pensar na estrutura óssea e corporal, que pode não estar preparada para viver de maneira saudável por períodos tão longos.

“À medida que avançamos em nossos anos pós-reprodutivos, as articulações e outras características anatômicas que funcionam bem ou não causam problemas na juventude revelam suas imperfeições”, explicam os autores, em um artigo publicado na revista Scientific American.

“Se tivéssemos sido projetados para funcionar durante mais tempo, deveríamos ter menos defeitos que nos deixam relativamente incapazes em nossos últimos anos. Mas não é assim que a evolução funciona. Na verdade, ela faz enxertos de novas características, incorporando-as às já existentes”, completam.

O resultado disso é que, embora possamos contornar alguns problemas, a falta de outros sintomas pode gerar novos problemas ainda desconhecidos. É como se o corpo necessitasse se adaptar às novas características tendo que, para isso, exigir de outras partes do organismo uma sobrecarga imediata.

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