Chega de QWERTY: é possível sobreviver com um teclado Dvorak?

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Cheguei à redação pensando que teria pela frente mais um dia relativamente normal: sentar junto a minha mesa e produzir conteúdo para o Baixaki e o Tecmundo. Há quase dois anos trabalhando aqui, já deveria saber que surpresas sempre podem estar me esperando.

Pois hoje recebi uma missão diferente: escrever o dia todo com um teclado fora do comum, com um padrão chamado Dvorak. Com essa experiência, se fez necessário um esforço grande de readaptação – e uma boa dose de força de vontade.

Então, antes de saber como esse “desafio” acaba, vale a pena conhecer que sistema é esse e por que o mundo todo adotou  e utiliza o QWERTY até os dias de hoje.

Por dentro do QWERTY

Apesar de parecer um nome exótico, QWERTY tem origem no próprio teclado, mais precisamente em suas seis primeiras teclas. Esse layout foi criado por Christopher Sholes, em 1868.

Layout dos teclados QWERTY (Fonte da imagem: Wikimedia Commons/ Raymond)

De início, muitos o acusaram de que a sua intenção era deixar os escritores mais lentos, todavia, o seu objetivo era outro: tornar o trabalho mais ágil. Isso porque ele não lançou mão de uma disposição aleatória dos caracteres ou, ainda, algo que deixasse a construção das palavras mais fácil.

O que foi pensado foi o fato de que, com o posicionamento de teclas inventado por ele, travamentos nos mecanismos das máquinas de escrever seriam evitados de maneira muito eficiente, pois haveria menos “enrosco” entre uma tecla e outra durante a digitação.

Remington 2 (Fonte da imagem: http://www.typewriterfever.com/)

Em 1878, dez anos após a criação desse layout, a Remington lançou a primeira máquina de escrever com o padrão QWERTY, a famosa “Remington 2”. O layout é o mesmo até hoje e, se você olhar para baixo, estará observando o mesmo esquema de teclas utilizado nela há quase 150 anos.

Um "novo" teclado: Dvorak

Após décadas de utilização do QWERTY, mais precisamente em 1932, um professor da Washington State University chamado August Dvorak desenvolveu o que seria, em suas palavras, o padrão “perfeito” para se digitar.

A ideia do "inventor" era que, quanto melhor fosse o acesso às letras mais utilizadas nas palavras, mais rápida seria a digitação. Por isso, a linha do meio do teclado foi considerada como a principal. Com esse pensamento, o professor agrupou as vogais no lado esquerdo, enquanto que as principais consoantes utilizadas na língua inglesa posicionaram-se à direita.

Dvorak (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)

Segundo ele, um escritor poderia digitar mais de 400 palavras em inglês, sem retirar os dedos dessa linha central (com o QWERTY, somente em torno de 100 palavras são possíveis). Além disso, por manter as duas mãos na mesma linha em praticamente todo o tempo, o padrão seria capaz de evitar lesões por esforço repetitivo.

Quebrando paradigmas: QWERTY x Dvorak

Para tentar sentir na pele a diferença entre os dois layouts, o Baixaki e o Tecmundo tiveram uma ideia bastante simples e objetiva: um dos redatores deveria passar um dia escrevendo somente com o teclado Dvorak.

Indo mais diretamente ao ponto, após mais ou menos 9 horas utilizando o layout diferenciado, para um redator isso foi algo até mesmo aterrorizante. A escrita deste artigo, por exemplo, levou muito mais tempo do que o normal.

O baque no momento em que você começa a utilizar a nova configuração é muito grande. Se você já ouviu a expressão "catar milho no teclado", pode ter certeza de que essa é a frase que mais se encaixa quando você tenta escrever em um dispositivo diferente.

Não foi possível digitar sem ficar alternando a visão entre o teclado e a tela, algo inimaginável para muitos usuários mais experientes e que estão acostumados a digitar com os olhos somente no monitor. Infelizmente, esse problema persistiu durante todo o desafio.

Um ponto positivo percebido foi que, com essa disposição das teclas, a alternância entre uma mão e a outra acontece o tempo todo durante a formação das palavras. O fato das vogais ficarem agrupadas à esquerda contribui para que isso ocorra e, logo, você não digita mais do que dois caracteres com a mesma mão.

Esse é um dos objetivos propostos pelo Dvorak (como dito antes, com o intuito de prevenir lesões por esforço repetitivo) e conseguimos percebê-lo à medida que ocorreram os testes. Além disso, as teclas mais utilizadas realmente ficam na linha central, diminuindo a movimentação dos dedos.

Testando o desempenho

Após algumas boas horas escrevendo somente com o Dvorak, resolvemos realizar um pequeno teste de velocidade, buscando comparar os níveis atingidos com ele em relação aos obtidos com o QWERTY.

Mesmo após um dia e meio trabalhando com o padrão novo, o resultado atingido foi muito decepcionante. Com várias tentativas, a média foi de 7 palavras por minuto, com um “recorde” de 11 – por sinal, muito comemorado.

Já com o QWERTY (e seus quase 20 anos de utilização por parte deste redator), a média ficou em 60 palavras por minuto, com um pico de 69 digitadas, uma diferença realmente significativa.

Veredito

Apesar de considerarmos que dois dias não representam tempo suficiente para uma avaliação aprofundada, o fato é que podemos tirar algumas conclusões sobre o assunto.

Readaptar-se a um novo layout de teclado é muito difícil, pois já estamos condicionados a buscar as teclas de acordo com o posicionamento que conhecemos: o QWERTY. E todo esse esforço dificilmente vai valer a pena.

Isso porque o tempo a ser gasto com essa reeducação com certeza não será pequeno. Outro fator a ser levado em conta é o de que, uma vez totalmente adaptado ao Dvorak, você dificilmente vai encontrá-lo em outro computador. Usar o PC da faculdade, do trabalho ou o dos seus amigos, por exemplo, nem pensar.

Encontrar um teclado à venda com esse padrão também é muito difícil. Além disso, não existem comprovações científicas de que o Dvorak ajude a prevenir lesões por digitação excessiva.

Mesmo com esses problemas, boa parte dos Analistas de Conteúdo do Baixaki e do Tecmundo quis "tentar" escrever um pouco com o Dvorak. Apesar do pequeno “sucesso” na redação, após algumas (sofridas) horas de testes, decidimos endossar um estudo feito pela U.S. General Services Administration.

Realizado em 1953, ele ajudou a chegar a uma simples conclusão: não importa qual o teclado, um usuário adaptado e rápido será ágil para escrever. Já um lento vai digitar com mais vagarosidade, esteja ele utilizando o QWERTY ou o Dvorak.

Como adaptar um teclado para o padrão Dvorak?

Se você ficou curioso para testar também este padrão diferente para teclados, saiba que, assim como nós, pode fazer o seu próprio Dvorak. Primeiro é necessário que você tenha as teclas nos lugares corretos.

Faça o seu Dvorak em casa! (Fonte da imagem: Baixaki/ Tecmundo)

Para tanto, nós lançamos mão de etiquetas com os caracteres para substituir as teclas. Nós poderíamos ter arrancado os botões para configurá-lo no novo padrão, entretanto, seria uma solução muito drástica e menos prática para a realização dos testes.

Com tudo em seus "novos" lugares, para mudar o padrão de teclas no Windows, vá até o campo "Executar" e lá digite "teclado". Vários resultados devem surgir; escolha então a ferramenta "Alterar o funcionamento do teclado".

Depois de entrar no menu dessa opção, vá até o fim da janela. Em seguida, clique em "Adicionar um teclado Dvorak e alterar outras configurações de entrada do teclado". Na tela seguinte, aperte em "Alterar teclados...".

Ali é apresentada uma lista com várias opções de padronizações diferentes para o teclado; busque a "Inglês (Estados Unidos)" e, nas suas subcategorias, marque a escolha "Estados Unidos (Dvorak)”.

Após confirmar as mudanças, reinicie o seu Windows para que elas façam efeito. Quando você abrir novamente o seu sistema operacional, seu teclado apresentará o layout Dvorak. Boa sorte!

Teste a sua velocidade

Caso queira colocar em xeque a sua agilidade com o Dvorak, faça como nós e utilize um teste de velocidade de digitação para medir a sua eficiência. Para realizar as avaliações deste artigo, foi utilizado o Portuguese Typing Speedtest. Boa sorte!

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