Gênios esquecidos: os programadores que protegem a web sem dinheiro

2 min de leitura
Imagem de: Gênios esquecidos: os programadores que protegem a web sem dinheiro
Imagem: EC Europa

Você sabe quem é Werner Koch? O nome deste alemão de 53 anos pode não ser proferido com tanta frequência, mas podemos facilmente cita-lo como uma das pessoas mais importantes para a web moderna.

Em 1997, Koch aceitou o desafio de Richard Stallman (polêmico fundador do movimento software livre) e desenvolveu o GNU Privacy Guard, uma poderosa tecnologia de criptografia de dados que é amplamente usada até os dias atuais para proteger comunicações sensíveis. Quer um exemplo? Edward Snowden e milhares de jornalistas ao redor do globo usam esse protocolo para trocar informações sigilosas e realizar denúncias anônimas.

Contudo, uma invenção revolucionária que poderia – e deveria – render milhões de dólares para o autor é, na verdade, um projeto que esteve prestes a ser abandonado por falta de financiamento. Desde que o Privacy Guard foi lançado, Koch prosseguiu trabalhando sozinho no software sem ganhar um único centavo. Em 2013, o europeu esteve prestes a abandonar o programa e arrumar um emprego em período integral, mas acabou desistindo quando o escândalo da NSA foi revelado. “Eu percebi que esta não era a hora de parar”, afirmou Koch em entrevista ao site ProPublica.

Um problema universal

Assim como Werner Koch, dezenas de outros programadores responsáveis por invenções importantíssimas sofrem para manter seus serviços atualizados e em dia com as ameaças que surgem frequentemente na internet. E isso acontece por um motivo simples e lógico: todos eles acreditam que oferecer códigos de segurança gratuitamente é a melhor forma de demonstrar ao público que não há backdoors ou outras fendas no software pelas quais instituições privadas consigam espiar os cidadãos.

Contudo, isso significa que o trabalho desses programadores é voluntário, algo que nem sempre é apropriado para manter um projeto na ativa. Outro bom exemplo disso é o Enigmail, famoso plugin para Mozilla Firefox e Seamonkey que utiliza o protocolo OpenPGP para criptografar emails de entrada e saída. Por mais que seja usado por milhões de pessoas ao redor do mundo, o add-on é mantido por apenas dois programadores que trabalham nele nos tempos livres.

Patrick Brunschwig, criador do Enigmail, passa a maior parte do dia em um trabalho convencional. Também ouvido pela ProPublica, o developer afirmou que recebe não mais do que US$ 1 mil por ano em doações de seus usuários – o que é o suficiente apenas para manter o site funcionando. Outras instituições, como os responsáveis pelo GPGTools (que criptografa mensagens do Apple Mail), já perderam a esperança nesse formato de voluntariado e estão começando a cobrar pequenas taxas dos utilizadores.

Será que agora vai?

Felizmente, a situação de Koch parece ter melhorado. Depois que seu estado alarmante foi comentado pela ProPublica, o desenvolvedor recebeu US$ 60 mil da Linux Foundation e angariu US$ 137 mil na campanha de doações hospedada no próprio site do GNU Privacy Guard.

Além disso, o Facebook e a plataforma de pagamentos online Stripe prometeram doar anualmente US$ 50 mil cada para o alemão. Mais do que obviamente pagar um salário para si próprio trabalhar em tempo integral no software, Koch também planeja usar o dinheiro para contratar um assistente.

Ainda assim, a situação em geral está longe de melhorar. Basta lembrar sobre o escândalo Heartbleed, que explodiu no ano passado: na época, veio à tona a desesperadora informação de que o OpenSSL – protocolo usado por milhares de empresas, incluindo Amazon e Twitter – era mantido por apenas quatro programadores, sendo que apenas um deles trabalhava no projeto em tempo integral. Será que já não está na hora de as grandes corporações prestarem mais atenção nesses heróis que nos ajudam em nossa luta pela privacidade digital?

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.