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Uncanny Valley: o abismo entre o real e a simulação

Como vamos encarar o futuro da robótica e das simulações virtuais com máquinas cada vez mais humanas?

schedule12/09/2013, às 13:42

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Imagem de Uncanny Valley: o abismo entre o real e a simulação no site TecMundo

(Fonte da imagem: Reprodução/BBC)

Pode parecer coisa de filme de ficção científica, mas existe grande chance de nosso planeta ser povoado por robôs em um futuro não tão distante.

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Muitos estudiosos encaram essa visão de tempos vindouros como algo positivo, afinal os robôs estão em desenvolvimento para que um dia possam auxiliar — e interagir com — os humanos.

Entretanto, há uma teoria de longa data que sugere uma possível reação negativa por parte da mente humana. De acordo com a hipótese do professor Masahiro Mori, essa verossimilhança dos robôs pode provocar estranheza às pessoas.

Ampliar (Fonte da imagem: Divulgação/Jorge Jimenez)

Em seu primeiro esboço — na década de 1970 — sobre o assunto, Mori usou uma expressão japonesa que foi traduzida como Uncanny Valley (Vale da Estranheza). Neste artigo, vamos falar sobre os atuais estudos neste campo e se a relação entre humanos e robôs será realmente comprometida pelo medo da mente humana.

Uncanny o quê?

Antes de entrarmos de cabeça no assunto, vamos dar uma pincelada sobre as ideias propostas por Mori. A primeira coisa que devemos esclarecer é que todo esse assunto não passa de simples sugestões que podem vir a se tornar realidade, mas as conjecturas do estudioso não possuem bases suficientes para compor uma teoria completa.

Agora, vamos entender o porquê do nome “Uncanny Valley”. Conforme informação do site Popular Mechanics, a proposta de Masahiro Mori é baseada em uma curva (que tem forma semelhante à de um vale) que reflete nosso senso de familiaridade com simulações e robôs.

Segundo a hipótese inicial de Mori, no futuro (que estamos vivendo) os humanos vão apresentar respostas muito positivas aos robôs. No entanto, em um determinado ponto, quando percebermos as grandes diferenças entre o real e o robótico, uma estranheza súbita provoca uma queda nessa curva da familiaridade.

(Fonte da imagem: Reprodução/NVIDIA)

Com o passar do tempo, a evolução dos robôs (ou das animações) mostra avanços suficientes para nos convencer de que estamos lidando com humanos — mesmo sabendo que são criações da robótica e da computação. Isso resulta em uma segunda reação positiva, que completa o vale da estranheza.

Evitando as semelhanças

Tendo essas ideias como base, vamos a alguns exemplos. Se você costuma assistir a filmes de animação, como os produzidos pela Pixar, deve ter reparado que, mesmo possuindo alto poder de tecnologia, a empresa busca manter seus projetos em um estilo mais parecido com o dos desenhos animados.

É interessante notar que alguns estúdios nunca deram muita bola para a questão da simulação gráfica e da representação de personagens. Basicamente, as empresas buscam formas simplificadas e de boa qualidade que possam representar bem os roteiros e as ideais propostas.

Contudo, ao longo dos últimos 15 anos, algumas empresas começaram a explorar mais as possibilidades tecnológicas nesta área para produzir material visual de qualidade gráfica elevada para criar animações que beiram a perfeição. O primeiro desses projetos foi realizado pela Square Pictures, a qual desenvolveu o filme “Final Fantasy: The Spirits Within”.

Ampliar (Fonte da imagem: Divulgação/Quantic Dream)

Conforme lembra o site BBC, na época de seu lançamento Final Fantasy não impressionou muito e causou estranheza no público. Parte dessa repulsa involuntária foi resultado da grande discrepância de visuais entre o que se tinha na época e o que foi apresentado no filme. Hoje, todavia, a animação é considerada como uma das mais fantásticas em nível de fotorrealismo.

Essa foi uma lição para diversos estúdios, os quais perceberam que o uso de gráficos avançados não era necessariamente uma boa ideia. Hoje, o público anseia por filmes com belíssimos visuais, nos quais as diferenças entre o virtual e o real sejam mínimas. Tal mudança de reação leva a crer que os humanos se adaptam rapidamente e corrobora a hipótese da Uncanny Valley.

Com a robótica pode ser diferente

Atualmente, não temos robôs com aparência e ações tão idênticas às dos humanos. Entretanto, com o passar dos anos, presenciaremos a evolução dessas máquinas e, tão logo isso ocorra, há grandes chances de percebermos melhor o efeito do “Vale da Estranheza”.

De acordo com Andrew Olney, da Universidade de Memphis, o contato com os robôs pode parecer natural em um primeiro momento, mas os instintos básicos nos afastarão deles. Um androide pode ser quase idêntico a uma pessoa, porém um simples aperto de mão é suficiente para que alguém perceba que o “suposto humano” tem mão de borracha.

(Fonte da imagem: Reprodução/BBC)

E não é somente isso. As imperfeições nas ações dos robôs também deverão causar incômodo aos humanos. Quando duas pessoas interagem, há um feedback entre elas e o diálogo é funcional. Com uma máquina, todas as ações estão condicionadas às situações programadas no software. São esses pequenos detalhes que nos afastarão dos robôs no começo.

Todavia, se tomarmos a hipótese da Uncanny Valley como verdade, tão logo os robôs evoluam, iremos nos adaptar novamente e sentir familiaridade com os movimentos e elementos que tentam imitar os nossos.

Estudos sem conclusões definitivas

É curioso que não há uma conclusão sobre o assunto. Segundo o que David Hanson disse ao TED Talks, em seu estudo (realizado no Texas), 73% dos participantes não mostraram estranhamento a robôs semelhantes a humanos. Já no estudo de Edward Schneider, feito em Nova York, muitas pessoas não sentiram familiaridade com alguns personagens de video game.

Ampliar (Fonte da imagem: Divulgação/Jorge Jimenez)

Apesar das contradições, há um estudo interessante realizado na Nova Zelândia, caso em que o pesquisador Christoph Bartneck relata que o tal vale pode na verdade ser um abismo. Para ele, enquanto os robôs não atingirem a perfeição, os humanos continuarão mostrando estranheza e receio no contato. E como levará muito tempo para que a robótica chegue a tal nível, um “abismo de estranheza” seria mais lógico.

Quem sabe, a robótica realmente não consiga nos impressionar tão cedo, mas a tendência é que os jogos (como The Last of Us e os novos títulos de altíssima qualidade que vem aí) e os filmes (como “Avatar” e outros tantos que usam a computação gráfica) cheguem a tal ponto que possam nos enganar perfeitamente. A tech demo da NVIDIA talvez seja o que temos de mais próximo da realidade:

Estranho, familiar e misterioso. Assim é o “vale da estranheza”. Pode ser que tudo não passe de uma hipótese e que os humanos reajam de forma positiva às inovações, mas há chances de vermos a humanidade rejeitando os avanços. Talvez por medo, receio ou simplesmente por não aceitar máquinas tão humanas. Vamos ver o que o futuro nos reserva.