Estudo da Qualcomm sobre inovação mostra desafios e tendências do Brasil

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Depois de passar por um período turbulento com o Snapdragon 810, a Qualcomm parece estar voltando ao destaque com uma bela sequência: o anúncio oficial do badalado Snapdragon 820, informações sobre a linha 610 e 615 do SoC – para aparelhos intermediários – e rumores positivos sobre o suposto Snapdragon 830. Apesar disso, a empresa não anda só focada no investimento pesado em hardware e resolveu reafirmar seu compromisso com o Brasil ao encomendar uma pesquisa para saber o patamar de inovação tecnológica no país.

Assim, na manhã da última quarta-feira (2), o TecMundo compareceu ao evento realizado pela companhia em São Paulo para conferir em primeira mão os resultados do levantamento feito em parceria com a IDC. Chamada de Índice de Inovação da Sociedade – ou QuISI 2015 – a pesquisa entra em sua segunda edição com um formato bem diferente e consideravelmente mais abrangente do que em sua primeira encarnação. Desta vez, a análise focou Brasil, México, Argentina e Colômbia, avaliando temas como mobilidade e Internet das Coisas.

Para dar uma ideia mais precisa sobre os resultados divulgados, a dupla se concentrou nos números do Brasil, mas sem deixar de compará-los à média obtida nos quatro países da América Latina pesquisados e, em alguns casos, ao desempenho de nações mais avançadas em diversos quesitos, como Estados Unidos, Israel e China. Para filtrar melhor os dados, o estudo se dividiu em setores como Pessoas, Negócios e Governo, permitindo uma visualização mais fiel dos índices de desenvolvimento na nossa sociedade atual.

A palavra é: inovação

O responsável por fazer a introdução da apresentação foi Rafael Steinhauser, presidente da Qualcomm na América Latina, que falou um pouco do cenário atual de tecnologia e quais desafios levaram à criação do QuISI. “Na nossa sociedade, são cada vez mais importantes a criatividade e a inovação”, explicou o executivo, que ainda se atentou ao fato de que o avanço da economia como um todo está intimamente ligado à tecnologia – ou mesmo essencialmente baseado nela.

Com base nisso, ele comentou que, para as empresas que trabalham com esse setor vingarem e ajudarem a movimentar os negócios, é preciso apostar no chamado “valor agregado” dos produtos. Desse modo, a criação e manutenção do índice Qualcomm visa verificar exatamente o estado atual de recursos como o badalado IoT, analisando sua aplicação no mercado, amplitude de implementação, cenários adjacentes que são afetados pela funcionalidade e até o impacto que a novidade tem no PIB do país.

Para se aprofundar mais no estudo, Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria no IDC, deu continuidade à conversa, mas não sem antes entrar em detalhes a respeito da forma como os dados foram coletados. Como o foco da pesquisa no Brasil foi em centros como Rio de Janeiro e São Paulo, com pessoas acima de 18 anos e usuárias regulares de smartphones, ele explicou que os números podem estar ligeiramente acima do esperado para todo o território nacional, mas que, mesmo assim, são um bom termômetro da situação local.

Segmento móvel

Como o mercado mobile foi usado para traçar o cenário de influência da tecnologia, o Brasil saiu na frente quando comparado a alguns de seus vizinhos. Os primeiros resultados, por exemplo, mostraram que, enquanto nos outros países da América Latina a média da população com celulares inteligentes é de 51%, por aqui o segmento é consideravelmente mais recheado, chegando a 63% dos habitantes – algo bem mais próximo dos EUA, que ostenta 70% de participação no quesito. Isso mostra que o brasileiro é muito mais envolvido com esses dispositivos, já que 90% de todos os aparelhos vendido na região são smartphones.

Se a perspectiva é bastante otimista nessa área – com a previsão que haja 43 milhões de equipamento do tipo ativos em 2016 –, os números reservados a outros índices, como educação e IDH, mostram que o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente em relação a melhorias e investimentos no ensino voltado à inovação. Apesar disso, a “fome” dos brasileiros – consumidores e empresários – fica clara, uma vez que o mercado de IoT local, apesar de novo, já movimenta centenas de milhões de dólares.

No entanto, quando se foca o olhar nas pessoas, as informações revelam visões bastante interessantes do nosso mercado. Para 86% dos brasileiros, por exemplo, a tecnologia mobile tem uma influência média ou alta na sua rotina e que, por conta disso, há uma série de exigência que precisam ser cumpridas na hora que esse pessoal troca seu aparelho por um novo. Os três itens mais importantes para os clientes no momento do upgrade são, em ordem, a performance do novo dispositivo, seu preço e, claro a facilidade de uso.

A revelação é importante porque mostra que o usuário quer uma sensação palpável de que está fazendo um bom negócio ao migrar de um produto para outro. Vale notar que a duração da bateria, alvo de muitas críticas dos celulares novos, ainda está presente na lista, mas fica em 5º lugar, atrás da qualidade das câmeras do equipamento. Outro dado interessante é que, em geral, a maioria das pessoas está disposta a pagar mais (34%) ou igual (29%) ao modelo anterior do item. No setor de tablets, esses números também são bem parecidos.

O poder dos wearables

Quando a pesquisa atinge o campo dos vestíveis, os resultados são ainda mais surpreendentes, já que provam que o mercado está se movendo rapidamente – e naturalmente – nessa direção. Duvida? Bem, se o dinheiro não for um problema, 68% dos entrevistados gostariam de ter um relógio inteligente – ao melhor estilo Apple Watch –, 28% se contentariam com smartbands e 25% gostariam de poder experimentar dispositivos na categoria do badalado, ainda que instável, Google Glass.

O mais impressionante é que, embora mais de dois terços das pessoas desejem um smartwatch em volta do pulso, 52% delas não sabem exatamente qual a utilidade desse tipo de aparelho. A maioria, porém, quer entender os wearables antes de agendar uma compra. Falando nisso, o estudo também mostra que o brasileiro procura planejar com uma boa antecedência suas aquisições de gadgets ou, em muitos casos, deixando para gastar a grana em momentos mais favoráveis, como a Black Friday.

Adicionalmente, saindo um pouco desses produtos, o QuISI 2015 informou que apenas 10% das pessoas dizem ter algum outro equipamento conectado em casa, como Smart TVs, câmeras de segurança, impressoras e leitores de eBooks. O mais legal? Desse montante, o aparelho conectado número 1, abocanhando cerca 48% do total, é ninguém menos que o video game. Ainda que não haja detalhes a respeito de quais consoles estão incluídos nesse bloco, esses produtos vêm há gerações usando a web para turbinar jogos e outros recursos.

Papo sério

No momento que o estudo feito pelo IDC e pela Qualcomm segue para os setores empresariais e do governo, ficam mais evidentes algumas defasagens do cenário nacional. Dentro de companhia de médio e grande porte, por exemplo, percebe-se que o investimento em IoT e outras tecnologias é ainda bem tímido, principalmente em comparação com países mais desenvolvidos. “Por aqui, ainda há uma certa lentidão na adoção de novas tecnologias”, analisou o presidente regional da fabricante de chipsets.

A pesquisa também demonstra que as empresas locais ainda estão engatinhando em inovação em diversas frentes, desde a criação de projetos nesse setor e análise de influência de novas medidas até como faturar com essas empreitadas. Em questão de mobilidade, a estratégia está um pouco mais avançada, com parte das marcas oferecendo acesso a emails por celular (29%), disponibilizando aparelhos e plano de dados empresariais para os funcionários (36%) ou permitindo que os colaboradores fiquem totalmente conectados ao juntar esses itens (21%).

O motivo por trás desse investimento? A esperança no aumento de produtividade, em uma melhor experiência para os clientes e, claro, na redução de custos. Em relação ao aspecto governamental da inovação tecnológica, um dos principais desafios citados por 15 fornecedores de produtos e serviços da área é a dificuldade de se registrar patentes no Brasil. Diferentemente do que acontece nos EUA, por exemplo, aqui o processo de regularização é burocrático, pode demorar anos e não oferece proteções à propriedade intelectual.

Isso acaba fazendo com que muitas companhias prefiram registrar suas ideias no exterior, diminuindo consideravelmente o número de patentes brasileiras. Outra bronca desses parceiros do governo é que um conceito amplo como o da Internet das Coisas é usado em escala federal quase que unicamente para angariar recursos e renda. O uso mais indicado segundo os entrevistados? Atender às necessidades da população e aplicar inovações a serviços públicos para mostrar mais maturidade ao mercado.

Futuro em aberto

No fim, o Brasil obteve uma nota de 46% no QuISI 2015, um número que prova que o país ainda tem muito a crescer, dependendo especificamente de acertos pontuais para se aproximar mais de China (65%), Israel (66%) e EUA (74%). Entre as recomendações finais da pesquisa, estão o suporte maior a startups, um trabalho em conjunto do mercado para popularizar os dispositivos vestíveis, investimentos ainda maiores em IoT e conectividade – nas mais diversas camadas da sociedade – e, algo bem importante, redução da burocracia com as patentes.

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