Antiga FEBEM, Fundação Casa oferece aulas de programação para os internos

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O conceito é interessante e quebra paradigmas. Há alguns anos, ninguém poderia imaginar que jovens privados de sua liberdade tivessem acesso à internet, que é um praticamente um símbolo da alforria e representa exatamente o contrário do que vem à nossa mente ao pensar em uma unidade de detenção.

Porém, por mais curiosa que seja, a verdade é uma só — os internos da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa), antiga FEBEM, estão recebendo aulas de programação graças a uma parceria entre a entidade e o Programaê!, iniciativa de inclusão digital criada pela Fundação Lemann e Telefônica|Vivo. A ação ocorre desde 2015, e, hoje, são quase 300 jovens participando do curso em 36 unidades de detenção.

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O TecMundo teve a oportunidade de visitar a Casa São Luiz I, localizada no bairro Jardim Vergueiro, para conferir de perto como funcionam as aulas e interagir com os alunos. A segurança do local, como você deve imaginar, é rígida, sendo necessário passar por uma série de portões até chegar ao destino. Além disso, não é possível adentrar com bolsas, mochilas, celulares e outro item que não seja primordial.

Jovens aprendem a programar através de exercícios simples

Brincando com códigos

O local é simples e enxuto. São seis computadores (além de um sétimo para o instrutor) dividos em grupos de três. Cadeiras de plástico, mesinhas de madeira e uma série de recortes de revistas e jornais colados na parede completam a decoração da sala de aula. A luz do sol, que invade o recinto pela janela gradeada, parece lembrar os internos de que há um mundo lá fora repleto de oportunidades — aprender a programar pode ser o primeiro passo para uma vida nova.

O curso me lembrou das aulas de informática que eu tinha lá fora

Douglas* tem 16 anos e está há seis meses na Fundação Casa. Tímido, o jovem afirma que as aulas “são muito legais” e que nunca teve interesse por programação, mas está se divertindo graças à linguagem mais acessível dos métodos usados. “Não penso em seguir carreira nessa área, mas o que eu aprendo aqui é muito importante e pode ser usado no dia a dia”, afirma o interno, referindo-se aos conceitos de lógica e matemática.

Diferente de seu colega de estudo, José* comenta que já pensou inclusive em trabalhar no ramo de criação de jogos. “Estou gostando muito do curso porque me lembrou das aulas de informática que eu tinha lá fora”, explica o adolescente, que tem 18 anos e está internado já faz nove meses. “Me identifico com a parte da matemática, é uma disciplina que eu gosto muito. As aulas tornam minha rotina na Casa mais agradável”, conclui.

Durante as fotos, os jovens são orientados a manter o rosto virado para o computador, a fim de evitar que suas faces sejam registradas. Não parecia ser necessário — seja por timidez ou por fascínio, nenhum dos internos desviou o olhar quando adentramos na salinha de estudos. Concentrados, eles se divertem programando comandos em blocos para um joguinho do Code.org, plataforma gratuita que faz parte da grade curricular.

Exemplo de exercício

Derrubando tabus

De acordo com Daniela Bergoncini, que atua como professora na Casa São Luiz I, a unidade começou a receber os cursos em abril deste ano. As turmas duram três meses, e, atualmente, a filial já está em sua segunda turma de alunos. “Fazemos uma pesquisa para selecionar os jovens que estão interessados em aprender. O curso se caracteriza como uma iniciação profissional, e nós incentivamos os alunos a seguir nessa carreira”, explica.

Os ensinamentos são passados com uma linguagem bem mais fácil de entender

Daniela ressalta que, com a ajuda do Programaê!, a assimilação dos conteúdos e a expectativa dos internos aumentaram bastante, pois os ensinamentos são passados com uma linguagem bem mais fácil de entender. “O objetivo é que o adolescente aproveite a tecnologia e use a criatividade para criar soluções”, comenta a educadora. Além do Code.org, os alunos aprendem a mexer na linguagem visual Scratch.

Uma vez que tenham concluído as aulas, os internos recebem um certificado e podem compartilhar sua criação online com outros usuários da plataforma. Essa interação virtual é a parte mais curiosa e inovadora de toda a iniciativa: como dissemos anteriormente, é improvável pensar em acesso à internet por parte de cidadãos privados de liberdade — porém, derrubar esse tabu parece ser a chave para o sucesso dessa ação inclusiva.

*Os nomes dos internos foram alterados para preservar a sua identidade.

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