MusicDNA: o MP3 finalmente encontrou um sucessor?

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Embora existam centenas de codecs disponíveis no mercado, falar de música digital sem citar o MP3 é praticamente impossível. Isso porque o formato, criado há 20 anos, ainda mantém sua força em meio aos competidores por representar uma forma fácil e rápida de compactar arquivos sonoros e transmiti-los pela internet.

Atualmente é difícil encontrar algum player de música, reprodutor portátil ou até mesmo aparelhos celulares e reprodutores de DVD e Blu-ray que não seja compatível com a tecnologia.

Mesmo não representando o ápice de qualidade no que diz respeito à tecnologia de áudio digital, o formato é tão aceito que oferecer um dispositivo que não o suporte pode ser considerado um verdadeiro suicídio comercial.

Embora tenha recebido algumas melhorias durante sua vida, o MP3 já apresenta certo desgaste, principalmente no que diz respeito a possibilidades multimídia. Com o crescimento da oferta de conexões em banda larga a preços acessíveis, é difícil aceitar que sejam vendidos arquivos capazes de oferecer somente poucos detalhes como nomes de faixas e ordem das músicas.

Pensando nessas limitações foi desenvolvido o MusicDNA, que tem como objetivo reformular a relação dos usuários com a música digital e trazer de volta alguns elementos perdidos nos últimos anos. O novo formato promete trazer ao usuário não somente músicas, mas elementos como vídeos exclusivos, atualizações de blogs exclusivas e outros conteúdos para download.

Uma breve história do MP3

Embora seja um formato que ganhou popularidade a partir da década de 1990, a história do MP3 começa bem antes, durante os anos 70. O desenvolvimento do formato começou na Universidade de Erlangen, na Alemanha, na qual pesquisadores procuravam um meio de transmitir músicas através das linhas de telefone digitais que tinham acabado de ser desenvolvidas.

Poucos avanços foram obtidos até a metade da década de 80, quando os pesquisadores formaram uma aliança com a Fraunhofer Society para desenvolver um padrão de transmissão de arquivos para o sistema de rádio digital europeu.

O maior desafio dos desenvolvedores do MP3 foi encontrar um codec capaz de transmitir áudio com qualidade mesmo com taxas de dados baixas, para permitir o envio através de linhas de telefone e serviços de rádio. A solução foi o método atual de compreensão, que joga fora frequências que o ouvido humano não é capaz de ouvir.

Embora tenha sido bem sucedido em seu objetivo inicial, a popularização do MP3 só aconteceu em grande escala em decorrência de fatores que não tinham sido previstos pelos desenvolvedores.

Quando se deu a combinação de computadores pessoais poderosos, gravadores de CD a preços acessíveis e a popularização da internet no início da década de 1990, o MP3 se mostrou a alternativa perfeita para quem desejava ouvir e compartilhar músicas.

O grande salto de popularidade do formato se deu após o surgimento do Napster, em 1999. Único em sua época, o programa reuniu 15 mil usuários em sua primeira semana e, em fevereiro de 2001, era responsável pelo compartilhamento de quase três bilhões de faixas mensais. Todas elas em MP3.

Caso as grandes gravadoras da época tivessem percebido o potencial dos meios de distribuição digital e desenvolvessem um serviço mais competente que utilizasse outro formato, o MP3 poderia ter fracassado.

Porém, como é de conhecimento geral, a história foi outra: em vez de se adaptar aos novos tempos, a indústria preferiu combater por meios legais o Napster, o que gerou uma explosão da pirataria.

Enquanto os servidores do Napster eram fechados, surgiam diversos outros programas que ofereciam os mesmos serviços, e cada vez mais consumidores optaram pela comodidade e gratuidade oferecidas pelos programas que possibilitavam baixar músicas de forma ilegal.

Apesar de diversas tentativas de vender música digital através da internet e o estabelecimento de grandes lojas como o iTunes, a batalha das gravadoras estava perdida e desde então o MP3 carrega uma associação com a pirataria.

MusicDNA: mais conteúdo e proteção contra a pirataria

O primeiro ponto que deve ficar claro ao se falar sobre o musicDNA é que não se trata exatamente de um novo formato de codec, mas sim um complemento aos formatos já existentes. Ou seja, questões como a qualidade de reprodução e detalhes como compactação e quantidade de bitrate já conhecidas permanecerão inalteradas.

O que o MusicDNA faz é fornecer uma nova “embalagem” aos arquivos já difundidos, integrando novos conteúdos que as atuais tags ID3 são incapazes de fornecer. Ao integrar um arquivo XML a formatos como MP3, AAC ou WMA, é possível obter uma música que carrega informações como letras, artes de capa e até mesmo vídeos relacionados.

A nova tecnologia permite que, ao abrir um simples arquivo MP3 em um player compatível, o usuário tenha acesso a diversos outros serviços. Por exemplo: ao baixar legalmente um novo álbum de sua banda favorita, você poderá acessar conteúdo exclusivo como vídeos de gravações, arte conceitual em alta resolução, letras completas e até mesmo acesso a chats e conferências exclusivas com os membros.

Como forma de valorizar a aquisição de arquivos originais, o conteúdo oferecido pode ser atualizado periodicamente. Ou seja, investir na compra de uma faixa pode render inúmeros vídeos, entrevistas ou até mesmo dar direito a ouvir prévias de novos lançamentos. Cada arquivo compatível com o MusicDNA pode carregar até 32GB de informações adicionais, o que pode significar meses ou até mesmo anos de atualizações.

Segundo os desenvolvedores, o objetivo é fornecer uma experiência semelhante àquela que só quem viveu a época dos discos em vinil é capaz de lembrar. Comprar um álbum era uma experiência muito mais sentimental, na qual aspectos como a arte de capa e encarte eram tão ou mais importantes do que a própria música.

Com a popularização dos CDs e, posteriormente, dos formatos digitais, muito desse relacionamento se perdeu. A relação com a música passou a ser menos sentimental, e houve uma separação entre as partes gráfica e sonora dos discos lançados.

Exemplo disso é que é cada vez mais comum possuir milhares de arquivos MP3 sem nenhuma arte de capa associada, e, na hora de acompanhar as letras, simplesmente acessar um site especializado.

O MusicDNA surge como uma forma de renovar o interesse dos usuários pelas músicas que baixam, devido ao conteúdo adicional que é oferecido. Isso tudo sem deixar de lado quem não quer migrar para o novo formato e simplesmente deseja ouvir as músicas adquiridas em aparelhos MP3 antigos.

Como se trata somente de uma nova “embalagem”, o formato possui compatibilidade com qualquer player ou aparelho compatível com codecs anteriores, como MP3, AAC ou WMA. Nesses casos, ao inserir um arquivo do MusicDNA, somente a parte do áudio é reconhecida, enquanto o resto do conteúdo multimídia é ignorado.

Desafios para o novo formato

Além de competir com o domínio absoluto de formatos como já estabelecidos, o MusicDNA vai ter que lidar com outros obstáculos para conseguir se estabelecer como o novo padrão de distribuição digital. O principal deles é a questão do preço: somente após o lançamento em escala comercial será possível definir se os consumidores estão dispostos a pagar quase o dobro do preço cobrado por uma música convencional.

Novos formatos buscam trazer de volta o relacionamento que havia com a música na época dos LPsA Apple também representa uma grande barreira para o domínio do MusicDNA, já que o serviço iTunes LP compete diretamente com o novo formato na tentativa de oferecer conteúdos extras para quem está disposto a pagar um pouco mais. Embora forneça esses arquivos em um formato proprietário, a companhia de Steve Jobs tem a seu favor o fato de ser a maior loja de música digital do planeta, com milhões de usuários fiéis.

Para que o novo formato seja capaz de vingar, será preciso que grandes gravadoras o apoiem de maneira massiva, algo que ainda parece longe de acontecer. Atualmente, somente a norte-americana Tommy Boy e as gravadora inglesas Beggar Group e Delta Records assinaram contratos com os desenvolvedores do MusicDNA.

Apesar de contar com nome como Strokes, Arctic Monkeys e Vampire Weekend em seus catálogos, estes ainda são nomes de pouca expressividade quando comparados aos catálogos de gravadoras como a Sony e a Universal.

O formato também terá de competir com a navegação através de nuvem, que surge como uma tendência cada vez maior. Embora ainda não existam serviços com catálogos tão vastos como a loja do iTunes, a cada dia surgem sites que disponibilizam a oportunidade de ouvir músicas, assistir a vídeos relacionados e acompanhar as letras através da tela do computador.

Conta a favor de o novo formato estar dissociado de qualquer programa específico (como o LP está ao iTunes), e de ser compatível com qualquer MP3 disponível no mercado, incluindo toda a linha iPod. Embora tenha sido apresentado rodando em um player desenvolvido pela própria companhia, tudo indica que logo deverão ser lançados codecs para outros programas já difundidos.

O novo formato ainda está em fase de testes beta, na qual devem ser eliminados quaisquer erros de conversão e incompatibilidade com players e MP3 players antigos. Se tudo correr bem, a previsão é que até o verão americano de 2010 (junho) o MusicDNA esteja disponível em formato comercial.

E você, o que pensa sobre este novo formato? O MusicDNA vai vingar ou vai ser somente um formato a falhar na luta contra o MP3? Não deixe de postar sua opinião em nossa seção de comentários.

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